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China usa ilhas artificiais para remodelar o Mar da China

Ilhas artificiais poderiam ajudar a China a ancorar suas reivindicações e potencialmente desenvolver bases para controlar as águas


	Barcos de pesca deixam o porto de Ilan, no nordeste de Taiwan, rumo às ilhas Senkaku, no Mar da China
 (Mandy Cheng/AFP)

Barcos de pesca deixam o porto de Ilan, no nordeste de Taiwan, rumo às ilhas Senkaku, no Mar da China (Mandy Cheng/AFP)

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Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2014 às 23h40.

Manila - Areia, cimento, madeira e aço são as mais novas ferramentas do arsenal territorial da China, que está tentando, literalmente, remodelar o Mar da China Meridional.

Navios chineses carregados de materiais de construção lotam regularmente as águas perto das disputadas Ilhas Spratly, realizando um trabalho que fará com que novas ilhas surjam do mar, de acordo com pescadores filipinos e funcionários na área.

Segundo eles, os esforços da China são reminiscências da recuperação territorial estilo resort das Ilhas Palm, de Dubai.

“Estão criando ilhas artificiais que nunca existiram desde que o mundo é mundo, como as de Dubai”, disse Eugenio Bito-onon, 58, prefeito de um trecho esparsamente povoado das Spratly chamado Kalayaan, ou “liberdade” em tagalo.

“A construção é massiva e ininterrupta. Isso conduziria ao controle total do Mar da China Meridional”, disse Bito-onon no dia 28 de maio, citando os pescadores.

As ilhas artificiais poderiam ajudar a China a ancorar suas reivindicações e potencialmente desenvolver bases para controlar as águas que contêm algumas das rotas marítimas mais movimentadas do mundo.

A China, que afirma que a área está dentro de seu território demarcado no “mapa de nove linhas” da década de 1940, teve sucesso em assumir o controle do Scarborough Shoal das Filipinas em 2012 e pressionou o Vietnã no mês passado com equipamentos de exploração de petróleo em águas reivindicadas por seu vizinho.

“A última jogada da China é ter controle de facto – senão de jure – sobre as águas adjacentes, o Pacífico Ocidental”, disse Richard Javad Heydarian, cientista política e conferencista no Ateneo da Universidade de Manila.

“A única questão é se e como a China conseguirá isso. Ela pode precisar avaliar medidas mais coercivas para isso, dada a resistência crescente dos outros países reivindicadores”.

Reivindicação da China

A China considera que as Ilhas Spratly – que chama de Nansha – são parte de seu território, disse Hong Lei, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, aos repórteres em 6 de junho.

“Tudo o que a China fizer em qualquer uma das ilhas ou atóis está dentro dos seus direitos soberanos, e os filipinos não têm nada a ver com isso”, disse Hong.

A recuperação, por parte da China, do disputado recife sul de Johnson, a cerca de 385 milhas náuticas de Scarborough Shoal, começou em fevereiro e “temos quase certeza de que será uma base” para a China, disse o secretário de Defesa filipino Voltaire Gazmin, no dia 15 de maio.

O Ministério de Defesa disse em maio que foi observado um grande navio extraindo areia nas proximidades.

Os filipinos observaram atividades perto de dois outros recifes, conhecidos como Gaven e Cuarteron, disse o presidente Benigno Aquino aos repórteres, no dia 5 de junho.

“Novamente nos incomodam, parece haver desenvolvimentos, entre eles uma movimentação de navios”, disse Aquino.

Ter ilhas compatíveis com pistas de voo poderia ajudar a China caso ela decida replicar no Mar da China Meridional a zona de identificação de defesa aérea que possui no Mar da China Oriental.

A China declarou a zona em novembro sobre ilhas onde disputa a soberania com o Japão.

Statu Quo

Construir uma estrutura no recife de Johnson South pode ser uma contravenção a uma declaração de 2002 entre a China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).

A Declaração de Conduta não-vinculativa solicita que as partes se abstenham de “habitar ilhas, recifes, baixios e outras formações que atualmente estejam desabitados”. A China segue estritamente a declaração, de acordo com Hong.

A China e a Asean concordaram em julho do ano passado em iniciar negociações para um código vinculante, embora as discussões tenham avançado pouco.

Os filipinos levaram a disputa a um tribunal das Nações Unidas, um processo que não é reconhecido pela China.

Bito-onon, o prefeito de Kalayaan, é a favor da mediação porque as Filipinas, aliadas dos EUA, são insignificantes militarmente em comparação com a China.

“Você não pode enfrentar uma arma com um bolo”, disse ele em Puerto Princesa, na Ilha Palawan, referindo-se a uma faca parecida com um machete. “Seria uma loucura”.

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