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China se acostumou a lidar com ameaças de Trump, diz ex-conselheiro do governo chinês

Henry Huiyao Wang, do think tank, avalia a China está melhor preparada para lidar com anúncios de taxas de 100%, como feito na sexta-feira passada por Trump

Xi Jinping, presidente da China, durante evento em Pequim (Ken Ishii/AFP)

Xi Jinping, presidente da China, durante evento em Pequim (Ken Ishii/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 13 de outubro de 2025 às 16h41.

Última atualização em 13 de outubro de 2025 às 16h43.

Na sexta, 10, o presidente Donald Trump voltou a ameaçar taxar os produtos chineses em 100% e disse que não iria mais se encontrar com o presidente Xi Jinping, como era esperado. Nesta segunda-feira, 13, o secretário do Tesouro de Trump, Scott Bessent, disse que a conversa entre os dois ainda poderá acontecer.

Para Henry Huiyao Wang, ex-assessor do Conselho de Estado da China e presidente do think tank Center for China and Globalization (CCG), a China já aprendeu a lidar com as pressões de Trump, e os dois países encontrarão algum tipo de equilíbrio.

"Não sei o que está acontecendo nas últimas semanas com Trump, que repentinamente subiu as taxas de novo, para 100%, mas precisamos nos acostumar com a era em que os EUA dizem 'ok, vou aumentar taxas sobre você, vou te sancionar'. Mas a China está ficando acostumada com o que os EUA estão fazendo e está ficando muito mais coordenada", disse Huiyao, durante a Conferência Anual CEBC 2025, organizada pelo Conselho Empresarial Brasil-China, em São Paulo, nesta segunda-feira, 13.

Como exemplos, ele cita as negociações que ocorreram ao longo deste para reduzir as tarifas anunciadas no primeiro semestre, que chegaram a 245% por parte dos americanos, e que as conversas e ações devem continuar, apesar dos solavancos. Além das reuniões, a China também tem adotado medidas de retaliação às ações dos EUA.

"Os EUA começaram a cobrar taxas de navios chineses, e a China tinha de responder de alguma maneira. Mas temos de encontrar um caminho para coexistir e manter uma estabilidade estratégica", afirmou. "É o interesse da China e do resto do mundo."

Redução do uso do dólar

No painel, Huiyao comentou ainda sobre o papel do Brics, grupo que reúne Brasil, China e outros países emergentes.

"O mundo não é preto ou branco. O Brics é um ótimo exemplo. Ele está acomodando todos os tipos de países. Você tem o Brasil, a Índia, a China, o Paquistão, a Rússia, todos os países, incluindo o Vietnã, com diferentes sistemas de governo, diferentes origens ideológicas, diferentes etnias, diferentes religiões. Não é autocracia versus democracia", afirmou.

"Deveríamos ter mais políticas econômicas em colaboração entre os países, e deveríamos realmente ter mais voz na manutenção da paz internacional. Os países britânicos deveriam enviar tropas de manutenção da paz, por meio da ONU para o conflito entre Rússia e Ucrânia", disse.

O especialista defendeu ainda a redução do uso do dólar nas transações entre os países do bloco.

"A China, o Brasil e outros membros do Brics estão apoiando o New Development Bank (NDB), e assim podemos realmente promover o uso de moeda local, como o renminbi, e, claro, o real brasileiro, reduzindo a dependência de apenas uma moeda única, dando aos exportadores grande flexibilidade e aumentando a resistência ao mercado global", disse.

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