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China já isenta 100 produtos americanos de tarifas, que somam US$ 40 bi em importações, diz agência

Isenções são vistas como sinal de disposição para diálogo e incluem itens farmacêuticos e químicos

Guerra comercial afetou duramente as duas economias (Annecordon/Getty Images)

Guerra comercial afetou duramente as duas economias (Annecordon/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 2 de maio de 2025 às 11h01.

A China começou discretamente a isentar algumas mercadorias dos Estados Unidos (EUA) de tarifas, abrangendo cerca de US$ 40 bilhões (cerca de R$ 226 bilhões) em importações, numa aparente tentativa de amenizar o impacto da guerra comercial sobre sua própria economia.

Uma lista de produtos americanos isentos, com 131 itens como produtos farmacêuticos e produtos químicos industriais, tem circulado entre comerciantes e empresas ao longo da última semana.

Ainda não está claro de onde veio essa lista, e ela não foi oficialmente confirmada, mas pelo menos meia dúzia de empresas na China conseguiu importar mercadorias incluídas nela sem pagar tarifas, segundo fontes com conhecimento do assunto, que pediram anonimato por se tratar de informações confidenciais.

Esses 131 itens somam cerca de US$ 40 bilhões, ou aproximadamente 24% das importações chinesas dos EUA em 2024, segundo cálculos da Bloomberg baseados em dados da alfândega chinesa.

Essa medida reflete passos semelhantes tomados pelo governo Trump, que isentou smartphones e outros eletrônicos de suas próprias tarifas “recíprocas”, incluindo as alíquotas de 145% sobre produtos chineses. Essas isenções dos EUA cobrem cerca de US$ 102 bilhões (cerca de R$ 578 bilhões) ou aproximadamente 22% das importações americanas da China no ano passado, de acordo com estimativas de Gerard DiPippo, diretor associado do Centro de Pesquisa sobre a China da RAND.

A ideia de que as isenções chinesas espelham na maioria as dos EUA sugere que isso é mais uma manobra estratégica para corresponder às ações de Washington, e não um gesto de boa vontade. Também indica que a prioridade de Pequim é proteger sua economia dos efeitos negativos da guerra comercial.

— A China provavelmente está tentando mitigar os danos à sua economia evitando o colapso de importações essenciais — disse DiPippo. — Essas isenções não devem ser interpretadas como um sinal para os EUA, já que a China tem sido discreta, agindo por meio de canais empresariais e evitando declarações públicas.

O que diz a Bloomberg Economics

— Nosso entendimento é de que isentar produtos americanos críticos e difíceis de substituir seria uma abordagem pragmática que poderia aliviar tensões com os EUA e beneficiar a indústria chinesa. — diz o economista-chefe para a Ásia da Bloomberg, Chang Shu. — Qualquer medida que ajude a diminuir a temperatura da guerra comercial também é positiva do ponto de vista de evitar conflitos maiores com os EUA.

Há sinais preliminares de que o impasse comercial entre EUA e China pode estar mudando. O Ministério do Comércio da China afirmou nesta sexta-feira que está avaliando a possibilidade de retomar negociações comerciais com os EUA, o que impulsionou os mercados de ações.

“Os EUA enviaram recentemente mensagens à China por meio de partes relevantes, expressando o desejo de iniciar conversas”, disse o ministério em um comunicado divulgado durante um feriado na China continental. “A China está atualmente avaliando isso.”

Segundo fontes, autoridades chinesas começaram a pedir a empresas estrangeiras, já na segunda semana de abril, que listassem quais importações americanas são essenciais para suas operações e não podem ser facilmente substituídas. Desde então, alguns desses itens receberam isenções das tarifas chinesas de 125% sobre produtos dos EUA.

De acordo com essas fontes, a lista de isenções é dinâmica e será continuamente ajustada segundo as necessidades da China. Mais produtos podem ser adicionados, enquanto outros podem ser removidos se o país conseguir encontrar substitutos.

A Administração Geral de Alfândega da China não respondeu a um pedido de comentário enviado por fax durante o feriado.

A Bloomberg informou na semana passada que o governo chinês está considerando suspender tarifas sobre determinados dispositivos médicos e produtos químicos industriais, como etano. Autoridades também discutem isentar a tarifa sobre leasing de aeronaves.

Embora os EUA importem muito mais da China do que o contrário, as isenções destacam áreas em que Pequim ainda depende de produtos americanos. Por exemplo, a China é a maior fabricante de plásticos do mundo, mas algumas de suas fábricas dependem do etano — uma matéria-prima majoritariamente importada dos EUA.

A China já concedeu isenções a dois produtores domésticos de plástico que dependem fortemente do etano americano, segundo a empresa de análises Vortexa.

A guerra comercial afetou duramente as duas economias. Com a atividade industrial da China tendo sua contração mais acentuada desde dezembro de 2023, um sinal precoce da pressão causada pelas tarifas. Grandes bancos, como UBS Group AG e Goldman Sachs Group Inc., reduziram suas previsões de crescimento para a China em 2024 para cerca de 4% ou menos — bem abaixo da meta oficial de cerca de 5%.

Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, em Xangai, afirmou que, embora não possa confirmar as isenções, elas não seriam surpreendentes.

— Tarifas são um tipo de autossabotagem — disse ele. — E queremos controlar os danos o máximo possível.

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