Mike Pompeo e Donald Trump: secretário de Estado, que deixa o cargo com o fim do governo Trump, entrou na lista de sanções chinesas nesta quarta-feira (Leah Millis/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 20 de janeiro de 2021 às 17h43.
A posse de Joe Biden ainda acontecia na tarde desta quarta-feira, 20, quando a China anunciou novas sanções a parte dos oficiais do governo de Donald Trump.
A lista do governo chinês inclui 28 pessoas, e tem nomes como o ex-secretário de Estado, Michael Pompeo, e o ex-estrategista de Trump e fundador do site de extrema-direita Breitbart, Steve Bannon (Bannon, aliás, também apareceu nas notícias hoje ao receber perdão presidencial de Trump e ficar livre de acusações de roubo nos EUA).
Os sancionados serão proibidos de entrar na China (e em Hong Kong e Macau, territórios chineses) e não poderão fazer negócios no país. Na nota de justificativa, o governo chinês diz que esses nomes “planejaram, promoveram e executaram uma série de movimentos malucos que interferiram gravemente” na China e nas relações com os EUA.
China e EUA vêm em uma ampla guerra comercial que se intensificou sobretudo durante o governo Trump, que afirma que os chineses têm roubado empregos da indústria americana. As relações continuam tensas, apesar de alguns acordos específicos nos últimos anos -- que visavam, por exemplo, aumentar a quantidade de produtos comprados entre as partes, sobretudo com o objetivo de minimizar o déficit da balança comercial americana com os chineses, uma das principais reclamações de Trump.
Ainda não se sabe qual será a postura de Biden com relação à China. A aposta de analistas até agora é que a guerra comercial permaneça, embora mais conversas diplomáticas devam acontecer.
Mesmo na guerra comercial, os EUA comparam quase 400 bilhões de dólares em produtos chineses em 2020, muito mais do que exportaram, gerando um déficit na balança comercial com a China de mais de 280 bilhões de dólares.
“Pelo menos em um primeiro momento, diversas medidas tomadas contra a China pelo governo Trump não serão significativamente atenuadas pelo governo Biden, a não ser aquelas que estão claramente prejudicando as próprias empresas americanas”, diz o professor Luís Antonio Paulino, do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Unesp, em entrevista anterior à EXAME.
Aos 78 anos, Biden completou nesta quarta-feira seu juramento e se tornou o 46º presidente dos Estados Unidos, no que chamou de “um dia de história e esperança”.
Em seu discurso de posse, que durou 24 minutos — um discurso considerado longo para os padrões das posses — Biden pediu aos americanos um “novo começo” e citou repetidas vezes a necessidade de “união”.
O democrata assume o poder em meio à profunda polarização que toma conta do país, acusações de fraude na eleição e um processo de impeachment em curso contra o então presidente Donald Trump. “Vamos começar a ouvir uns aos outros novamente”, disse.
Trump, como já havia anunciado, não foi à cerimônia e se dirigiu pela manhã a sua casa na Flórida.
“Hoje nós celebramos não o trunfo de um candidato, mas de uma causa: a causa da democracia. Aprendemos novamente que a democracia é preciosa, que é frágil”, disse. Biden lembrou que, há duas semanas, o Capitólio foi palco de uma invasão por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, sem citar, no entanto, o nome do presidente. “A democracia prevaleceu”, disse, sendo aplaudido.
Para Francis J. Kelly, chefe de Relações com o Governo e Assuntos Públicos para as Américas do Norte e Latina do banco alemão Deutsche Bank, que conversa com frequência com políticos e gestores em Washington, a gestão Biden terá grande foco em relações internacionais — dada a experiência do próprio Biden com o assunto. Mas a relação com a China deve ficar na lista das poucas coisas com as quais Trump e Biden, intimamente, concordam, segundo afirmou o analista em dezembro.
“O presidente eleito entende que o mundo mudou [desde o governo Obama] e a China é um lugar diferente agora. Acho que o que se verá com a China é uma continuação de negociações comerciais muito duras e até do que vimos sob Trump”, diz.
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