Bombardeiros chineses H-6 entraram na sexta-feira na zona de identificação de defesa aérea de Taiwan. (Foto/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de outubro de 2021 às 08h38.
Última atualização em 11 de outubro de 2021 às 12h21.
Em mais um movimento de deterioração da relação entre China e Taiwan, os líderes do país e da ilha trocaram acusações e ameaças sobre a unificação do território, considerado por Pequim como uma 'província rebelde'. No fim de semana do 110.º aniversário da Revolução de 1911, a tensão no Estreito de Taiwan só aumenta, após a maior incursão por aviões militares chineses na zona de identificação de defesa aérea da ilha.
O presidente chinês, Xi Jinping, prometeu uma "reunificação" inevitável com Taiwan por "meios pacíficos" e a presidente da ilha, Tsai Ing-wen, reagiu dizendo que ninguém obrigaria a população a se curvar à pressão chinesa. Taiwan relatou na última semana um número recorde de incursões de aviões militares de Pequim.
O discurso de Xi ocorreu no sábado, 9, durante comemorações da Revolução de 1911, que derrubou a última dinastia chinesa. O mesmo evento foi lembrado neste domingo, 10, em Taiwan, onde Sun Yat-sen, o primeiro e efêmero presidente chinês, é considerado o pai da nação.
Na Revolução de 1911, a dinastia Qing foi derrubada e fundou-se a República da China, sob Sun Yat-sen. Na subsequente guerra civil, os comunistas liderados por Mao Tsé-tung tomaram o poder, enquanto o partido nacional chinês, o Kuomintang, refugiou-se com o governo em Taiwan.
Hoje, a ilha se considera independente, e se proclama República da China, celebrando a revolução como seu feriado nacional. A liderança comunista em Pequim, por sua vez, vê Taiwan como "parte indivisível" da República Popular da China, fundada em 1949. A ilha de Taiwan vive sob um sistema democrático, mas a China ameaça usar a força no caso de uma proclamação formal de independência.
"Alcançar a reunificação da pátria por meios pacíficos é do interesse geral da nação chinesa, incluindo dos compatriotas de Taiwan", afirmou Xi no Palácio do Povo em Pequim, com um retrato de Sun Yat-sen ao fundo. "A reunificação de nosso país pode e será alcançada", garantiu o presidente chinês, fazendo um alerta contra qualquer interferência estrangeira.
As tensões entre Taiwan e o continente atingiram seu nível mais alto a partir de 2012, sob a presidência de Xi Jinping, e se deteriorou ainda mais em 2016, com a eleição de Tsai. Na ocasião Xi interrompeu a comunicação oficial com Taipei. "Aqueles que traem a pátria e dividem o país nunca terminam bem", ameaçou Xi a respeito dos separatistas taiwaneses.
O governo de Xi considera que Tsai apoia o separatismo da ilha, mesmo a presidente se declarando favorável a manter o statu quo e não tendo dado nenhum passo em direção a uma declaração de independência.
Após ganhar duas eleições, Tsai propôs negociações a Pequim, que as rejeitou. No discurso de ontem, a presidente reiterou sua oferta de "iniciar um diálogo" e disse ser a favor da manutenção da atual situação entre os dois territórios. Mesmo assim, o sentimento nacionalista taiwanês vem crescendo, especialmente entre os jovens.
"Ninguém pode forçar Taiwan a seguir o caminho que a China traçou para nós. Queremos uma distensão das relações (com Pequim) e não agiremos precipitadamente, mas eles não devem ter a ilusão de que o povo taiwanês se curvará sob pressão", disse Tsai.
Um recorde de 150 aeronaves militares chinesas, incluindo bombardeiros H-6 com capacidade nuclear, fizeram incursões na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) de Taiwan antes e depois de 1.º de outubro, data do feriado nacional chinês.
Esta zona não corresponde ao espaço aéreo taiwanês, mas a uma área maior, que em alguns casos se sobrepõe à China continental. Tsai alertou ontem que tudo o que acontecer a Taiwan terá grandes consequências regionais e globais.
Na sexta-feira, 8, os Estados Unidos admitiram que treinavam em segredo o Exército taiwanês há meses. Um contingente de cerca de 20 membros das operações especiais e forças convencionais americanas vem conduzindo o treinamento há menos de um ano.
Os EUA fornecem armas a Taiwan, incluindo mísseis de defesa e caças, e têm um compromisso ambíguo de defender Taiwan. Xi voltou a falar, no sábado, que a situação na região é um tema interno". "A questão de Taiwan é um assunto puramente interno da China. Ninguém deve subestimar a forte determinação do povo chinês em defender a soberania nacional e a integridade territorial", afirmou.
O domínio crescente de Pequim sobre Hong Kong, um modelo de como a China pretende governar Taiwan, deixa os habitantes da ilha inda mais temerosos com as declarações de Xi. "Como taiwanês, não acho que podemos aceitar (a reunificação), basta olhar para o que acontece em Hong Kong", disse à AFP Hung Chen-lun, que esteve com seus dois filhos nas celebrações do feriado nacional ontem.