Policiais chineses: vice-ministro afirmou que os reiterados ataques islamitas em Xinjiang impõem medidas repressivas (Peter Parks/AFP)
AFP
Publicado em 6 de novembro de 2018 às 15h22.
A China enfrentou duras críticas na Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira, 6, por conta do seu programa de internação de cidadãos muçulmanos e tratamento de minorias étnicas.
Quase um milhão de uigures e membros de outras etnias chinesas de língua turca estão ou estiveram detidos em campos em Xinjiang (noroeste do país), segundo estimativas citadas em agosto por um grupo de especialistas das Nações Unidas.
Nesta terça, uma delegação de alto nível do regime comunista chinês teve que dar explicações sobre esse programa de prisão maciça durante o chamado Exame Periódico Universal (EPU), ao qual são submetidos os 193 membros das Nações Unidas a aproximadamente cada quatro anos.
Diante do Palácio das Nações de Genebra, sede da ONU, 500 manifestantes protestavam com cartazes nos quais podia-se ler "Parem o genocídio dos uigures" e "O Tibete morre, a China mente".
"Estamos alarmados com a crescente repressão das autoridades chinesas contra os uigures, os cazaques e outros muçulmanos em Xinjiang", declarou o representante americano, Mark Cassayre, na sala do Conselho de Direitos Humanos. O último relatório sobre os direitos humanos na China data de 2013. Cassayre afirmou que Washington quer que Pequim declare a abolição de "qualquer forma de detenção arbitrária, incluindo os campos de internação em Xinjiang e liberte imediatamente os milhares, ou até milhões, de indivíduos detidos nesses campos".
Já a França pediu à alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que vá à China para observar in loco o programa.
O vice-ministro de Relações Exteriores chinês, Le Yucheng, rejeitou abertamente o que chamou de "acusações políticas vindas de alguns países cheios de preconceitos". Em um primeiro momento, a China negou a existência de tais centros em Xinjiang, mas após a publicação de imagens de satélite e da presença de documentos oficiais de autoridades locais na Internet que mencionavam a sua existência, as autoridades falaram de centros educacionais nos quais se ensina chinês, esporte e música folclórica para frear o extremismo religioso.
Em seu comparecimento desta terça-feira, o vice-ministro chinês insistiu que os reiterados ataques islamitas em Xinjiang impõem essas medidas.
Uma investigação da AFP de mais de 1.500 documentos públicos acessíveis na internet revelou em outubro que esses centros, 184 deles estabelecidos em Xinjiang desde 2014, compraram principalmente cassetetes, algemas e sprays de gás lacrimogêneo.
Os centros devem "ensinar como escolas, serem administrados como o Exército e ser seguros como prisões", segundo um dos documentos, que citava o chefe do Partido Comunista Chinês (PCC) em Xinjiang, Chen Quanguo.
Uma série de atentados que Pequim imputou a separatistas ou extremistas uigures deixaram centenas de mortos nos últimos anos. As autoridades asseguram que estão preocupadas com o aumento do islamismo radical na região, onde metade dos quase 24 milhões de habitantes são de confissão muçulmana.
De acordo com ativistas no exílio, tratam-se de campos fechados de reeducação política. Alguns ex-prisioneiros afirmaram ter sido detidos por usar longas barbas, véu ou por ter parabenizado pela Internet as celebrações muçulmanas.
A delegação chinesa negou qualquer forma de violação dos direitos humanos e, ao contrário, destacou o progresso alcançado em seu desenvolvimento econômico para o combate à pobreza. "O que a China fez demonstra que não há uma via única para a modernização e que cada país pode escolher o seu caminho de desenvolvimento e o seu modelo de proteção dos direitos humanos", disse Le.