Hong Kong: governo de Pequim se recusou a fazer qualquer concessão e advertiu que não tolerará uma insurreição (Thomas Peter/Reuters)
AFP
Publicado em 18 de novembro de 2019 às 15h31.
Dezenas de manifestantes pró-democracia cercados pela polícia em uma universidade de Hong Kong conseguiram escapar nesta segunda-feira (18), após uma nova ameaça de intervenção da China para resolver a crise política em seu território autônomo.
Entrincheirados na Universidade Politécnica (PolyU), os manifestantes desceram de uma passarela por uma corda e depois foram resgatados por motociclistas. Por enquanto não se sabe quantos ficaram no campus.
A fuga espetacular ocorreu quando a polícia ameaçou usar "balas reais" caso manifestantes radicais, que jogam tijolos e coquetéis molotov, recorressem a "armas letais" para enfrentar as forças de ordem.
Anteriormente, os manifestantes haviam incendiado a entrada do campus para impedir a intervenção da polícia.
Hong Kong é cenário desde junho de manifestações sem precedentes contra a interferência da China e a favor de mais democracia no território semiautônomo de 7,5 milhões de habitantes, que sofre sua crise política mais grave desde 1997, quando retornou à soberania chinesa.
O governo de Pequim se recusou a fazer qualquer concessão e advertiu que não tolerará uma insurreição.
A crise entrou em uma nova fase, mais radical, com a adoção pelos manifestantes da estratégia batizada de "Blossom Everywhere" (Eclosão Geral), que consiste em multiplicar os bloqueios e os atos de vandalismo para testar a capacidade da polícia.
No sábado, pela primeira vez desde o início das manifestações em junho, soldados do Exército Popular de Libertação (EPL) saíram dos quartéis para ajudar a retirar barricadas das ruas.
"Restaurar a ordem em Hong Kong é a tarefa mais urgente", declarou nesta segunda um porta-voz do Ministério da Defesa chinês em Bangcoc, referindo-se à primeira mobilização de soldados chineses nas ruas da ex-colônia britânica.
A declaração foi feita após uma reunião entre o ministro chinês da Defesa, Wei Fenghe, e o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper.
O EPL, que tem milhares de soldados em Hong Kong desde 1997, quando a China recuperou o controle do território, está decidido a "salvaguardar os interesses da soberania chinesa", declarou o porta-voz Wu Qian.
De acordo com o artigo 14 da Constituição de Hong Kong, o exército chinês pode intervir por ordem do Executivo para "manter a ordem pública" ou em caso de "catástrofe humanitária".
Enquanto o exército chinês está à espreita, os manifestantes conquistaram nesta segunda-feira uma vitória simbólica: a proibição do uso de máscaras em protestos, anunciada em outubro pelo governo de Hong Kong para tentar conter a mobilização pró-democracia, foi considerada inconstitucional pela Alta Corte.
Para evitar a identificação, os manifestantes usam máscaras, além de óculos de natação ou máscaras para evitar o gás lacrimogêneo.
Na madrugada desta segunda-feira foram ouvidas várias explosões, antes de um foco de incêndio ser observado na entrada da PolyU, que durante o fim de semana virou o principal reduto dos protestos.
Ao que parece, a polícia tentou fazer uma intervenção no campus - que fica na península de Kowloon -, mas que foi impedida pelos manifestantes.
Depois que um policial foi ferido no domingo por uma flecha lançada por um manifestante, as forças de segurança alertaram que utilizariam "balas reais", pela primeira vez desde o início dos protestos, que nos últimos dias registraram um nível de violência inédito.
O campus e a entrada do Cross Harbour Tunnel - um dos três túneis que dão acesso à ilha Hong Kong, bloqueado desde terça-feira - viraram cenário de confrontos desde domingo.
A polícia decretou a região como "zona de distúrbios" e ameaçou destruir as barricadas estabelecidas pelos manifestantes.
O porta-voz da polícia, Louis Lau, fez uma advertência.
"Peço aos agitadores que não usem bombas incendiárias, flechas, carros ou quaisquer outras armas mortais para atacar os policiais. Se continuarem com estes atos perigosos, não teremos outra opção que usar a mínima força necessária, incluindo munição letal".
Os policiais de Hong Kong portam armas de serviço, mas só utilizam o equipamento em incidentes isolados. Três pessoas foram baleadas pelas forças de segurança, mas nenhuma corre risco, em meses de protesto.
A União Europeia pediu nesta segunda que a aplicação da lei em Hong Kong seja feita de maneira "estritamente proporcional".
"Qualquer tipo de violência é inaceitável. As ações das autoridades policiais devem permanecer estritamente proporcionais", disse a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, em nome da UE.