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China condena plano 'discriminatório' dos EUA de revogar vistos de estudantes

Pequim reage com indignação à decisão do governo Trump de cancelar vistos e endurecer regras para estudantes chineses, medida vista como ataque político ao ensino superior internacional

Estudantes de Harvard protestaram na terça-feira após o governo dos EUA anunciar a intenção de cancelar todos os contratos financeiros restantes com a universidade (AFP)

Estudantes de Harvard protestaram na terça-feira após o governo dos EUA anunciar a intenção de cancelar todos os contratos financeiros restantes com a universidade (AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 29 de maio de 2025 às 10h30.

Pequim reagiu com indignação nesta quinta-feira à promessa do governo dos Estados Unidos de revogar vistos de estudantes chineses, condenando a repressão do presidente Donald Trump aos acadêmicos internacionais como “política e discriminatória”.

Na quarta-feira, o governo Trump anunciou que removeria “agressivamente” as permissões para estudantes chineses — uma das maiores fontes de receita para as universidades americanas — em seu mais recente ataque ao ensino superior nos EUA.

Os EUA também revisarão os critérios de concessão de vistos para endurecer as verificações em todas as futuras solicitações vindas da China e de Hong Kong, segundo declarou o Secretário de Estado Marco Rubio.

Criticando os EUA por cancelarem “injustificadamente” os vistos de estudantes chineses, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, afirmou que Pequim já apresentou sua oposição a Washington.

Rubio aumentou a tensão após a China criticar sua decisão, no dia anterior, de suspender temporariamente os agendamentos de vistos para estudantes em todo o mundo.

O governo Trump já havia tentado encerrar a concessão de vistos para todos os estudantes internacionais da Universidade de Harvard, que resistiu às pressões do presidente relacionadas aos protestos estudantis.

Jovens chineses têm sido essenciais para as universidades dos EUA, que dependem dos estudantes internacionais que pagam mensalidades integrais.

A China enviou 277.398 estudantes no ano acadêmico de 2023-24, embora a Índia, pela primeira vez em anos, tenha superado esse número, segundo um relatório do Instituto de Educação Internacional, com apoio do Departamento de Estado.

Durante seu mandato anterior, Trump também mirou estudantes chineses, mas focou especialmente naqueles que atuavam em áreas sensíveis ou que tinham vínculos explícitos com o exército.

Incerteza global

Na quarta-feira, Mao afirmou que a China instava os Estados Unidos a “proteger os direitos e interesses legítimos dos estudantes internacionais, incluindo os da China”.

Rubio já havia celebrado a revogação de milhares de vistos, em sua maioria de estudantes internacionais envolvidos em ativismo crítico a Israel.

Um memorando assinado por Rubio na terça-feira ordenou que embaixadas e consulados dos EUA não disponibilizassem “nenhuma capacidade adicional para agendamento de vistos de estudantes ou intercambistas até que novas diretrizes sejam emitidas” sobre o aumento da triagem de contas em redes sociais dos solicitantes.

Na quarta-feira, Rubio aumentou a pressão sobre a China, afirmando que Washington vai “revogar agressivamente os vistos de estudantes chineses, incluindo aqueles com ligações ao Partido Comunista Chinês ou que estudam em áreas críticas”.

— Também vamos revisar os critérios de visto para reforçar a triagem de todas as futuras solicitações de visto vindas da República Popular da China e de Hong Kong — declarou ele.

No entanto, o conjunto de medidas também ameaça estudantes de países aliados dos Estados Unidos.

Em Taiwan, um estudante de doutorado prestes a estudar na Califórnia expressou “incerteza” devido à suspensão dos vistos.

— Entendo que o processo pode atrasar, mas ainda falta algum tempo até o início do semestre, em meados de agosto — disse o estudante de 27 anos, que preferiu não se identificar.

—Tudo o que posso fazer agora é esperar e torcer pelo melhor.

Protestos em Harvard

Trump está furioso com Harvard por rejeitar a tentativa de seu governo de supervisionar admissões e contratações, em meio às alegações do presidente de que a universidade é um centro de antissemitismo e ideologia liberal “woke”.

Um juiz suspendeu temporariamente a ordem que barraria estudantes estrangeiros, aguardando uma audiência marcada para esta quinta-feira — o mesmo dia da cerimônia de formatura da universidade, que reuniu milhares de estudantes e suas famílias em Cambridge, Massachusetts.

A Casa Branca também retirou de Harvard — e de outras universidades americanas amplamente consideradas entre as mais prestigiadas do mundo — o financiamento federal para pesquisas.

— O presidente está mais interessado em destinar esse dinheiro do contribuinte para escolas técnicas, programas e universidades estaduais que promovem os valores americanos e, mais importante ainda, educam a próxima geração com base nas habilidades de que precisamos em nossa economia e sociedade — disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, à Fox News.

Alguns estudantes de Harvard temem que as políticas do governo Trump tornem as universidades dos EUA menos atrativas para estrangeiros.

— Não sei se faria um doutorado aqui. Seis anos é muito tempo — disse Jack, um estudante britânico de história da medicina, que está se formando esta semana e forneceu apenas o primeiro nome.

Harvard já entrou com diversos processos legais contra as medidas de Trump.

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