Beijing, China: o governo diz que a energia nuclear pode ser parte da solução para a poluição (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2015 às 11h23.
Pequim - Esquecidos os temores surgidos após a catástrofe da central atômica de Fukushima, no Japão, em 2011, a China reafirmou nesta semana sua aposta no setor nuclear como principal alternativa energética aos combustíveis fósseis.
O gigante asiático, que atualmente tem 23 centrais em operação, anunciou que colocará em funcionamento neste ano oito das 26 usinas que está construindo, e dará sinal verde ao início das obras de entre mais seis e oito instalações.
As autoridades chinesas, pressionadas por uma poluição que incomoda a população cada vez mais, consideram que este ano é crucial em sua aposta na energia nuclear.
"2015 é um ano importante em que a China reiniciará seu programa nuclear depois da crise do Japão", disse o presidente da Associação da Energia Nuclear da China, Zhang Huazhu, durante uma feira do setor realizada nesta semana em Pequim.
O tsunami que se seguiu ao terremoto de 11 de março de 2011 e que atingiu a central de Fukushima não só provocou um dos maiores acidentes nucleares da história, mas foi um balde de água fria para os planos do governo chinês de potencializar esta fonte de energia para reduzir suas emissões de gases poluentes.
Depois de Fukushima foi decretada uma moratória ao programa nuclear chinês para examinar a segurança das usinas existentes e projetadas, que acabou no mês passado, quando o governo concedeu licenças à construção de dois novos reatores.
"Foi necessário fazer melhorias nos projetos, mas algumas centrais voltaram a ser aprovadas, algumas já planificadas, e todos esses planos estão sendo reativados", explicou à Agência Efe Tamara Paris, representante da empresa espanhola Equipos Nucleares (ENSA) na feira da indústria nuclear de Pequim.
Dessa revisão saiu uma estratégia oficial que busca alcançar uma capacidade de geração elétrica de 58 gigawatts a partir dos aproximadamente 20 gigawatts que tem atualmente.
Mais adiante, a China poderia aumentar sua capacidade para até 150 gigawatts em 2030 e "muito mais" em 2050, segundo a ficha do país publicada pela Associação Nuclear Mundial em seu site.
O governo chinês "considera bastante claro, não precisa mais ver a nuvem que há em cima de Pequim e outras grandes cidades devido a geração de energia à carvão: a energia nuclear faz parte da solução", disse à Efe o diretor do negócio nuclear da empresa espanhola Técnicas Reunidas, Manuel Casanova.
De acordo com dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China de 2013 (os últimos disponíveis), o carvão cobre 66% da demanda energética do país, na frente do petróleo (18,4%) e do gás natural (5,8%).
Além disso, por causa do histórico acordo entre China e Estados Unidos sobre a mudança climática, alcançado em novembro, o país asiático se comprometeu a, em 2030, ter 20% de sua energia de fontes limpas e renováveis (entre as quais as autoridades chinesas incluem a nuclear).
A energia nuclear representa atualmente 2,4% da geração total de eletricidade, segundo a Associação da Energia Nuclear da China, que vê um enorme potencial de crescimento no setor.
Assim entende também o governo chinês, que dentro de seu ambicioso plano de expansão da energia nuclear incorporou os primeiros reatores de design nacional (o modelo Hualong 1), desenvolvidos por duas companhias estatais, que neste mês receberam as primeiras licenças de construção.
Além disso, Pequim já assinou acordos de exportação desta tecnologia, de modo que o ímpeto da aposta nuclear chinesa acabará chegando a países como Argentina, Paquistão, Reino Unido, África do Sul e Romênia.