EUAxChina: o ministro das Relações Exteriores chinês disse que Washington se infectou com um "vírus político" (Hyungwon Kang/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de maio de 2020 às 09h54.
A China alertou, neste domingo (24), que suas relações com os Estados Unidos estão "à beira de uma nova Guerra Fria", prejudicadas ainda mais pela pandemia de COVID-19, que avança rapidamente na América Latina.
A pandemia, que já causou mais de 342.000 mortes e mais de 5,3 milhões de infectados em todo o mundo, ofuscava neste domingo a festa do Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadã para centenas de milhões de muçulmanos.
A crise da saúde exacerbou as relações já tensas entre a China e os Estados Unidos, e as duas potências continuam a lançar ataques verbais.
Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, disse que Washington se infectou com um "vírus político" que aproveita "todas as oportunidades para atacar e difamar a China".
"Algumas forças políticas nos Estados Unidos estão fazendo as relações entre China e Estados Unidos como reféns e levando nossos dois países à beira de uma nova Guerra Fria", disse o chanceler a repórteres.
Wang também acusou os políticos americanos de "espalhar boatos" para "estigmatizar a China", onde o novo coronavírus surgiu no final do ano passado.
No entanto, o ministro garantiu que o sue país está "aberto" à cooperação internacional para identificar a origem do vírus mortal.
Essa cooperação deve ser "profissional, justa e construtiva" e sem "interferência política", enfatizou.
Nas últimas semanas, o presidente americano, Donald Trump, acusou repetidamente as autoridades chinesas de terem demorado para comunicar dados cruciais sobre a gravidade da doença.
Os Estados Unidos são de longe o país mais atingido pela COVID-19, com 1,6 milhão de casos e 97.048 mortes (+1.127 nas últimas 24 horas).
No entanto, o estado de Nova York, foco da epidemia, registrou 84 mortes nas últimas 24 horas, o número mais baixo desde 24 de março, anunciou o governador Andrew Cuomo.
Trump, que quer flexibilizar o confinamento e reativar a economia, fez um gesto no sábado para marcar um retorno à normalidade e foi jogar golfe em seu clube na Virgínia, perto de Washington, pela primeira vez desde 8 de março.
Na Europa, os países avançam cautelosamente no desconfinamento.
O continente, que ultrapassou dois milhões de infectados, continua sendo o mais enlutado por esta pandemia, com mais de 173.500 mortes.
O governo espanhol anunciou o retorno da Liga de Futebol em 8 de junho e, a partir de julho, turistas estrangeiros poderão viajar para o país.
Esta segunda medida é crucial para a Espanha, o segundo destino turístico do mundo, onde o setor representa 12% do PIB.
Madri e Barcelona poderão reabrir bares, museus e hotéis a partir de segunda-feira.
"A parte mais difícil já passou (...) a grande onda da pandemia foi superada", assegurou o chefe do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez.
Na França, outro país gravemente atingido pela COVID-19, as igrejas reabriram suas portas neste domingo, mantendo as recomendações sanitárias.
Depois da Grécia e da França, o governo italiano autorizou seus cidadãos no sábado a ir às praias, mas apenas passear ou tomar banho, sem poder tomar sol na areia.
Enquanto a Europa se recupera, os tremores desse terremoto sanitário continuam a abalar os países da América Latina. A região, que se tornou o "novo epicentro" da COVID-19, segundo a OMS, está no auge da pandemia.
O Brasil, com mais de 347.000 casos e 22.000 mortes, é de longe o mais punido da região e já ultrapassou a Rússia como o segundo país com o maior número de infecções, atrás apenas dos Estados Unidos.
O presidente Jair Bolsonaro protagonizou uma nova polêmica quando um vídeo de seu gabinete foi revelado e no qual a pandemia mal é mencionada.
Cheio de obscenidades, insultos, reclamações e declarações potencialmente incriminatórias, o vídeo causou indignação no gigante sul-americano, onde muitos questionam a gestão do governo da crise.
O México, o segundo país da região com maior número de mortes, registrou até este sábado 65.856 casos confirmados e 7.179 óbitos.
O país enfrenta seu "momento mais doloroso devido à pandemia", nas palavras do presidente Andrés Manuel López Obrador.
Na Argentina, a aceleração das infecções, que em Buenos Aires aumentou cinco vezes nas últimas duas semanas, levou o presidente Alberto Fernández a estender o isolamento social obrigatório até 7 de junho.
Na Bolívia, o departamento amazônico de Beni, na fronteira com o Brasil, foi declarado em "desastre de saúde" após um aumento exponencial das infecções e mortes.
No Peru, o segundo país da região em infecções (115.754) e o terceiro em mortes (3.300), o governo estendeu o confinamento obrigatório até 30 de junho, embora tenha autorizado a retomada de alguns serviços em domicílio.
No Chile, que contabiliza 65.393 casos e 673 mortos, multiplicam-se os protestos em comunidades pobres de Santiago contra a pouca ou nenhuma ajuda do governo, a falta de comida e o desemprego.
A Costa Rica, que não adotou confinamento obrigatório, luta para manter sua "frágil conquista" de poucos contágios com "disciplina", disse o presidente Carlos Alvarado à AFP.
Na América Latina, mais de 39.000 pessoas morreram e cerca de 715.500 infecções foram registradas, segundo contagem da AFP.
Os muçulmanos comemoram neste domingo o fim do mês de jejum do Ramadã, marcado em muitos países por restrições.
No Paquistão, desconsiderando as recomendações de distanciamento físico, os muçulmanos correram aos mercados para fazer compras antes do Eid al-Fitr, uma das festas mais importantes do calendário muçulmano.
"Por mais de dois meses, meus filhos ficaram confinados em casa", disse Ishrat Jahan à AFP em um mercado de Rawalpindi.
"Esta festa é para as crianças e se elas não podem comemorar com roupas novas, não faz sentido trabalhar tanto o ano todo", acrescentou.
Na Indonésia, o país com a maior população muçulmana do mundo, alguns recorrem a contrabandistas e certificados falsos para contornar a proibição de viajar para outras partes do arquipélago e se reunir com suas famílias.
Vários países como Egito, Iraque, Turquia e Síria proibiram orações coletivas por medo da propagação do coronavírus.
Lar dos locais mais sagrados do Islã, a Arábia Saudita impôs um toque de recolher de cinco dias desde sábado.
O Irã, com o maior número de mortes pela pandemia no Oriente Médio, pediu a seus cidadãos que evitem viajar durante o Eid, que deve ocorrer na segunda-feira neste país predominantemente xiita, assim como para a comunidade xiita do Iraque.