Desde o início do século XXI, o número de armas nucleares no mundo vem diminuindo. No entanto, a corrida armamentista voltou a ganhar força com a expansão acelerada do arsenal chinês. Segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), a China já possui ao menos 600 ogivas nucleares e tem adicionado cerca de 100 por ano desde 2023.
As estimativas coincidem com o relatório anual do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que projeta que a China poderá alcançar 1.000 ogivas até 2030 e chegar a 1.500 até 2035.
Se manter esse ritmo, o país asiático poderá alcançar paridade com os EUA e a Rússia em número de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) até o final da década, embora ainda fique atrás no total de ogivas.
A Rússia no topo
Atualmente, os Estados Unidos e a Rússia continuam liderando o cenário nuclear global. Segundo o SIPRI, a Rússia detém 5.459 ogivas nucleares e os EUA, 5.177 — juntas, essas potências concentram cerca de 88% do total mundial.
Em contrapartida, a China vem adotando uma postura mais assertiva na modernização e expansão de seu arsenal. Em fevereiro, o presidente Donald Trump reconheceu esse avanço e afirmou que pretende envolver os líderes de China e Rússia em negociações de desnuclearização em breve. “Dentro de cinco ou seis anos, eles estarão parelhos”, disse Trump.
Apesar do crescimento, a China mantém oficialmente uma política de defesa. Em coletiva, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, afirmou que o país "mantém sua força nuclear no nível mínimo necessário para garantir a segurança nacional" e que "a estratégia é focada em autodefesa".
O impacto da China na dinâmica global
A ascensão da China como uma potência nuclear modifica o equilíbrio estratégico global. Além do aumento numérico, especialistas apontam para o avanço em sistemas de lançamento, mobilidade e sobrevivência, incluindo novos ICBMs móveis, submarinos com capacidade de lançamento de mísseis e possíveis instalações de ogivas em túneis subterrâneos.
A presença chinesa também pressiona os demais países detentores de armas nucleares — como França (290), Reino Unido (225), Índia (180), Paquistão (170), Israel (90) e Coreia do Norte (50) — a reavaliar suas estratégias de dissuasão. O crescimento chinês reforça a percepção de uma nova corrida armamentista, desafiando os esforços de controle e redução de arsenais em escala global.
O SIPRI destaca ainda que, mesmo com os tratados existentes, como o New START entre EUA e Rússia, não há mecanismos multilaterais eficazes que envolvam a China ou outras potências nucleares emergentes.