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Chile vive escândalo político semelhante ao do Brasil

País é visto, muitas vezes, como modelo de estabilidade e democracia na América Latina, mas enfrenta problemas muito parecidos com os do Brasil


	Chile: escândalo político no país latino-americano está dificultando o surgimento de candidatos para a eleição de 2017.
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Chile: escândalo político no país latino-americano está dificultando o surgimento de candidatos para a eleição de 2017. (Thinkstock/tifonimages)

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Da Redação

Publicado em 22 de março de 2016 às 21h25.

O Chile, muitas vezes visto como modelo de estabilidade e democracia em uma região atormentada por atos ilícitos e distúrbios populares, enfrenta um escândalo de financiamento de campanha que lançou dúvidas sobre políticos de todos os grandes partidos.

Revelações ao longo de mais de um ano contribuíram para derrubar os índices de aprovação do governo, da presidente Michelle Bachelet, da Câmara dos Deputados, do Senado e da oposição para os menores níveis em registro.

Com o surgimento quase semanal de novas acusações, os partidos enfrentam dificuldades para encontrar candidatos com reputações imaculadas para a eleição de 2017.

Assim como no crescente escândalo do Brasil, uma empresa está no centro de tudo. No Brasil, a Petrobras transferia dinheiro a políticos; no Chile, esse papel cabe à Sociedad Química Minera de Chile, ou SQM, a produtora de fertilizantes que fornece mais de um quinto do lítio do mundo e é controlada por Julio Ponce, ex-genro do ditador Augusto Pinochet.

E embora os recursos envolvidos no Chile sejam uma ninharia em comparação com o que se vê no Brasil, o alcance do escândalo ajuda a desacreditar toda a classe política.

Entre os acusados de aceitarem dinheiro ilegalmente da SQM estão captadores de recursos ou assistentes de Bachelet e de um ex-presidente, Eduardo Frei, assim como Carlos Ominami, pai adotivo de um candidato presidencial da eleição de 2013.

Pessoas ligadas ao ex-presidente Sebastián Piñera e ao seu ministro da Economia, Pablo Longueira, também estão sendo investigadas pelas autoridades tributárias, embora não tenham sido acusadas pelo Ministério Público.

A assessoria de imprensa externa da SQM não respondeu a um e-mail e a telefonemas solicitando comentário para esta reportagem. A empresa tem dito que está cooperando com as autoridades.

Ninguém acusou Bachelet pessoalmente de envolvimento, mas o escândalo é tão generalizado que oito dos maiores partidos políticos do Chile foram ligados a ele. Um comediante sugeriu recentemente que todos os partidos do país se unissem em um só sob a legenda SQM.

Modelo desgastado

“O Chile é considerado um exemplo mundial em transição da ditadura à democracia”, disse Kenneth Bunker, pesquisador político chileno da London School of Economics e da Universidad de Diego Portales.

“Para muitos, os escândalos recentes atrasam a democracia em 20 anos e só poderão ser corrigidos com uma reforma constitucional”.

O Chile realizou seis eleições presidenciais desde 1990, com pouca ou nenhuma violência e resultados incontestados.

O país normalmente aparece em segundo lugar na América Latina, atrás do Uruguai, no índice da Transparência Internacional de percepção da corrupção. Esta percepção está mudando.

Segundo as autoridades tributárias, o modus operandi da SQM era o seguinte: políticos, seus parentes ou assistentes eram incentivados a cobrar a empresa por trabalhos que nunca realizavam.

Desde que surgiram as primeiras acusações, em janeiro do ano passado, o Ministério Público acusou 21 pessoas e outras dezenas estão sendo investigadas. Os julgamentos deverão começar em um ano.

A investigação sugere que a SQM distribuía subornos sem se preocupar com a ideologia. Marcos Enríquez-Ominami, candidato presidencial em 2013, está entre os investigados. Ele é o filho de um revolucionário de esquerda morto pelas forças da ditadura em 1974.

Se julgado e condenado, será irônica a comprovação de que ele recebeu dinheiro de uma empresa controlada pelo ex-genro do ditador. Enríquez-Ominami afirmou que agiu dentro da lei.

Outros políticos também negaram que tenham aceitado dinheiro ou disseram que não sabiam das atividades de seus assistentes ou captadores de recursos.

Longueira disse que não concedeu à SQM influência indevida para a redação de uma lei fiscal para o setor de mineração após o surgimento de um e-mail no qual o CEO da SQM parecia ditar uma parte do projeto de lei para ele. Os chilenos parecem não acreditar.

“A crença geral no Chile é que todos os políticos estão envolvidos no esquema de financiamento irregular de campanha”, disse Patricio Navia, cientista político chileno da Universidade de Nova York. Na eleição de 2017, “as pessoas terão que decidir entre candidatos maculados de esquerda e de direita”.

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