Protestos no Chile (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 21 de dezembro de 2011 às 16h03.
Santiago - A luta dos estudantes chilenos por uma educação gratuita e de qualidade ao longo deste conflituoso e histórico ano tirou os movimentos sociais do país de um estado de letargia em que caíram após a redemocratização.
Ao mesmo tempo, colocou o governo e os partidos políticos numa encruzilhada. Além dos estudantes, trabalhadores, ecologistas e cidadãos comuns saíram às ruas do Chile, em manifestações que lembraram os protestos do final da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.
A democracia chilena, consolidada sob as bases da estabilidade política e do crescimento econômico, enfrenta hoje o desafio de diminuir as fissuras sociais, atender às demandas da população e revitalizar instituições pouco valorizadas pelos cidadãos.
O principal foco de descontentamento foi o sistema educacional, que assim como a saúde e a previdência foram privatizadas durante o regime militar. O Chile tem um dos sistemas escolares mais desiguais do mundo, pois só 15% da verba da educação é financiado pelo estado.
Em maio, os estudantes começaram a protestar contra esta situação, que vigora desde 1981, e que não foi alterada durante os vinte anos nos quais a centro-esquerda governou o país após a redemocratização.
Milhares de jovens ocuparam as ruas do Chile durante todos esses meses e usaram a Federação de Estudantes do Chile, liderada pela carismática Camila Vallejos, para negociar com o governo. Em outubro, porém, as conversas foram suspensas.
O debate também foi travado no Parlamento, onde em fins de novembro foi aprovado o orçamento para a educação em 2012, que aumentou em 10% a verba para o setor.
As novas contas preveem um aumento de US$ 300 milhões nos fundos para bolsas de estudos nas universidades, assim como um aumento de 5% nas contribuições estatais aos 25 principais centros acadêmicos do país.
Os estudantes, apesar disso, lutam por uma educação gratuita, e dizem que as medidas não significam uma mudança no sistema educacional, por isso já adiantaram que as manifestações continuarão.
O ano de 2011 também assistiu a reivindicações políticas, como o direito ao plebiscito e a supressão do sistema de representação bipartidário; e sindicais, como o reconhecimento do direito à negociação coletiva.
Os ecologistas também se manifestaram contra a construção de represas na Patagônia, e moradores de lugares como Magallanes e Calama simplesmente protestaram contra as duras condições de vida.
Para dar uma resposta aos movimentos sociais, e com isso melhorar sua popularidade, o presidente Sebastián Piñera foi obrigado a realizar diversas mudanças em seu governo.
Olhando de fora, é difícil compreender como um país que goza de estabilidade política e que tem os melhores índices econômicos da América Latina, possa ter vivido um ano tão convulsionado.
A prosperidade não significou, porém, uma melhora na qualidade de vida das famílias chilenas, pois o país permanece entre os quinze mais desiguais do mundo.
Pesquisas mostram que os chilenos não se sentem representados pelo Parlamento e quatro de cada dez cidadãos não participam das eleições. A situação é ainda mais grave entre a população entre 18 e 24 anos: apenas sete em cada 100 jovens exercem seu direito ao voto.