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Chile divulga arquivos da espionagem da Alemanha nazista no país

Trata-se de documentos e fotografias do chamado "Departamento 50", uma unidade de inteligência da polícia civil chilena criada em 1941

Arquivos sobre a espionagem nazista no Chile, dia 22/06/2017 (Carlos Vera/Reuters)

Arquivos sobre a espionagem nazista no Chile, dia 22/06/2017 (Carlos Vera/Reuters)

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EFE

Publicado em 22 de junho de 2017 às 18h54.

Santiago do Chile - A Polícia de Investigações (PDI) do Chile retirou o sigilo nesta quinta-feira de mais de mil arquivos e documentos de uma investigação que permitiu desmantelar uma operação de espionagem da Alemanha nazista no país sul-americano durante a Segunda Guerra Mundial que, entre outras coisas, pretendia destruir o Canal do Panamá.

Os documentos divulgados foram entregues pela PDI ao Arquivo Nacional, que os digitalizou e os postou em seu site.

Trata-se de documentos e fotografias elaboradas pelo chamado "Departamento 50" da PDI, uma unidade de inteligência da polícia civil chilena criada em 1941 após a descoberta de grupos nacional-socialistas no sul do país.

No início dos anos 40, se detectou que no Chile e na Argentina havia assentamentos nazistas com o objetivo de controlar o tráfego pelo Estreito de Magalhães, um ponto de comunicação estratégico.

Nessa época ocorreram dois incidentes que deram origem ao "Departamento 50" da PDI. Por um lado, a informação de que na localidade de Puerto Varas realizavam-se treinamentos paramilitares de jovens descendentes de famílias alemãs.

Por outro, se determinou que grupos nazistas interceptavam as comunicações da Marinha chilena e enviavam a informação de inteligência à Alemanha.

"Ficou estabelecido que havia dois anéis de espionagem e sabotagem no país com infiltração no Chile e outros países da América, e se conseguiu, com a Interpol, unificar a informação, compartilhá-la com outros países e evitar uma coisa maior", explicou hoje o diretor-geral da PDI, Héctor Espinosa, em uma cerimônia no Arquivo Nacional.

Em 1941, o então diretor da PDI, Jorge Garretón, entregou ao comissário Hernán Barros Bianchi, uma unidade reservada de detetives que devia desarticular as redes nazistas no Chile.

A unidade era conhecida como "Departamento 50" pelo anexo telefônico que tinha no quartel general da PDI em Santiago e o seu trabalho logo obteve os primeiros resultados.

Em 1942 desbaratou uma estação de rádio alemã que operava na localidade de Quilpué e que transmitia mensagens encriptadas à Alemanha sobre os itinerários de navios mercantes do esquadrão aliado.

Um ano depois, 20 pessoas foram detidas no sul do Chile e em Santiago foram desenterrados equipamentos de rádio de alta tecnologia, dinheiro vivo, um livro de chaves para enviar mensagens à Alemanha, e planos para bombardear jazidas de minérios no norte do país.

O diretor-geral da PDI destacou hoje que os grupos nazistas neutralizados pela polícia chilena também planejavam destruir o Canal do Panamá.

"Fomos capazes de prevenir atrocidades muito maiores com o trabalho eficiente destes detetives dos quais nos sentimos tremendamente orgulhosos", disse Espinosa.

A divulgação destes documentos, que eram secretos pela lei de inteligência nacional, foi possível graças à solicitação feita em janeiro por um grupo de deputados.

O deputado Gabriel Silber, um dos autores da petição, ressaltou o valor histórico dos documentos e afirmou então que poderiam revelar uma "verdade incômoda", com figuras chilenas do mundo politico e empresarial da época que tiveram proximidade com o nazismo.

Silber sustentou que este episódio é "o ponto de partida" e expressou o seu desejo de que a PDI divulgue outros documentos relacionados com a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

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