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Senado chileno aprova descriminalização do aborto em alguns casos

Os legisladores descriminalizaram o aborto em caso de risco para a vida da mãe, por inviabilidade do feto e por estupro

Aborto: o texto segue agora para a Câmara dos Deputados, onde poderá ser sancionado (BanarTABS/Thinkstock)

Aborto: o texto segue agora para a Câmara dos Deputados, onde poderá ser sancionado (BanarTABS/Thinkstock)

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AFP

Publicado em 19 de julho de 2017 às 10h24.

Última atualização em 19 de julho de 2017 às 10h36.

O Senado chileno aprovou, na madrugada desta quarta-feira (19), a descriminalização do aborto terapêutico e em caso de estupro, deixando o projeto impulsionado pela presidente Michelle Bachelet a um passo de se tornar lei.

Depois de horas de tenso debate e de mais de dois anos de tramitação, os senadores aprovaram a descriminalização do aborto em caso de risco de vida para a mãe (20 votos a favor, 14 contra), inviabilidade do feto (19 contra 14) e estupro (18 contra 16).

O texto segue agora para a Câmara dos Deputados, onde poderá ser sancionado, retirando o Chile de uma ínfima lista de países que não permitem essa prática em situação alguma.

"Foram aprovadas as três causas (...) é uma grande contribuição para a história do Chile", declarou à AFP a porta-voz da Corporação para os Direitos Sexuais e Reprodutivos (Miles), Claudia Dides, minutos depois da votação que arrancou os aplausos dos apoiadores do projeto nas arquibancadas do Congresso.

O debate continuava para definir os pontos-chave do projeto, como o alcance da objeção de consciência e o envolvimento dos pais no caso de menores de idade, entre outros.

Faltando quatro meses para a eleição presidencial, a presidente decidiu fazer avançar o projeto em caráter de urgência para garantir sua tramitação antes do final de seu mandato, em março de 2018.

Mais cedo, foi possível vencer o primeiro obstáculo para a votação, ao se rejeitar - por um voto - a proposta do presidente do Senado, o governista Andrés Zaldívar, que buscava não considerar legalmente como um aborto a intervenção médica para interromper a gravidez em caso de risco para a mãe.

A proposta de Zaldívar - dos democratas-cristãos -"foi uma traição ao governo da presidente", disse à AFP Claudia Dides.

Debate ao limite

O debate começou às 16h (17h, horário de Brasília), mantendo o tom polêmico e polarizado que teve desde que chegou ao Congresso.

"É um ato de crueldade não permitir que as mulheres decidam. Acredito que uma mulher sempre deve decidir sobre sua vida", declarou o senador oficialista Guido Girardi, em sua primeira intervenção.

Na oposição, a senadora de direita Ena Von Baer disse que "o feto não é uma coisa, é um ser humano e tem os mesmos direitos e dignidade da mãe".

A oposição de direita anunciou que enviará o projeto para o Tribunal Constitucional, considerando que viola a proteção da criança não nascida.

Durante o debate, militantes religiosos tiveram de ser expulsos das instalações do Congresso pela polícia, após interromperem as discussões com gritos.

Desde que Bachelet lançou o projeto em janeiro de 2015, quando contava com altos índices de popularidade, o texto foi alvo de forte oposição pelos setores conservadores.

Oficialmente, no Chile, são registrados cerca de 30.000 abortos provocados ou espontâneos por ano. Calcula-se que as interrupções clandestinas possam chegar a 160.000.

Até 1989 e por mais de 50 anos, o aborto era permitido no Chile em casos de perigo para a mãe, ou de inviabilidade do feto. Antes de deixar o poder, o ditador Augusto Pinochet (1973-1990) proibiu a prática.

No Twitter, a hastag #apoyo3causales virou o assunto mais comentado no Chile em apoio ao projeto de Bachelet.

Pediatra de profissão, a presidente lançou em seu mandato anterior (2006-2010) o projeto de distribuição de pílulas do dia seguinte, desafiando os grupos conservadores e em sintonia com a maior parte da população chilena - cerca de 70%, segundo pesquisas - que aprova tais iniciativas.

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