Venezuela: "Em 6 de dezembro Chávez vence!", assegura Maduro em todos seus discursos, visando às eleições legislativas de domingo (Marco Bello / Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de dezembro de 2015 às 10h47.
"Maduro não é Chávez", afirmam os chavistas. Quase três anos depois da morte de Hugo Chávez, seu herdeiro político, Nicolás Maduro, tenta manter o culto à personalidade do líder venezuelano, mas não consegue evitar o enfraquecimento do projeto bolivariano.
"Em 6 de dezembro Chávez vence!", assegura Maduro em todos seus discursos, visando às eleições legislativas de domingo onde a oposição figura como favorita pela primeira vez em 16 anos de chavismo.
Em velhos discursos televisionados e fotos espalhadas, a imagem de Chávez é onipresente na campanha marcada pela grave crise econômica, em que os venezuelanos sofrem com a escassez de produtos básicos e uma inflação que evapora com seus já desvalorizados bolívares.
Com tantos problemas, a devoção já não é suficiente para evitar que o chavismo sofra uma grande erosão.
Uma pesquisa recente da empresa Datanálisis estabeleceu que 60% das pessoas que se dizem militantes do governo avaliam negativamente a situação do país que possui as maiores reservas de petróleo do mundo.
"O chavismo com Maduro enfraqueceu dramaticamente", afirma Luis Vicente León, presidente da empresa, enfatizando que o presidente não é um líder carismático como Chávez.
Popularidade em queda
Maduro não desfrutou da lua de mel que costumam ter os presidentes recém-eleitos.
Seu governo teve um início confuso em abril de 2013: a oposição contestou seu triunfo e a acentuação da crise econômica, apesar dos preços crus terem desabado um ano depois.
Desde então, sua popularidade começou a diminuir até o atual 22%, segundo a Datanálisis.
Após um ano no poder, o governante enfrentava de frente a crise que contribuiu com uma "guerra econômica da direita' e protestos opositores que buscam sua renúncia, deixando 43 mortos.
Gonzalo Gómez, membro antigo do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), hoje afastado da cúpula oficial, acredita que, diferente do atual presidente, Chávez tomava "medidas valentes" e funcionava como um mediador, inclusive com a oposição e os poderes econômicos.
Para Gómez, líder do Maré Socialista - movimento a favor do chavismo, mas crítico ao atual governo -, o problema de Maduro "não é sua capacidade como indivíduo, mas de definições políticas".
"Agora temos muitas hesitações, coisas que se anunciam e não são cumpridas", questionou.
"Preocupa-nos a burocracia, o avanço da corrupção e a acumulação de capital por parte de funcionários que usam o discurso socialista para seguir no poder, sem interesse de fazer avançar a revolução. Estão moldando uma nova casta capitalista que tem a vantagem de administrar as receitas do petróleo", acrescentou.
Chavismo não madurista
Sem a liderança forte nem ações efetivas para reanimar a economia, é inevitável que os chavistas sintam que Maduro "deteriorou o legado" de seu predecessor e que haja divisões porque se vê uma desvantagem eleitoral pela primeira vez, observa León.
Mas o presidente, que assegura ter um "voto pesado" para ganhar os comícios, comprometeu-se a manter os programas sociais nos quais o chavismo baseou seu apoio, mesmo com a queda do preço cru.
"A revolução passou de uma liderança messiânica a um coletivo e isso pode gerar confusão. Ninguém tem a capacidade de Chávez", opina um ex-guerrilheiro de 78 anos e militante do PSUV, que prefere reservar seu nome.
Enquanto aguarda para votar em um dos ensaios eleitorais do oficialismo, o homem afirma que "Maduro não deixou de governar", e denuncia que no poder há "aproveitadores, um grupo de chavistas somente no nome", pelo que exige "radicalizar a revolução".
"O governo está falhando na segurança e abastecimento, é preciso aplicar um punho forte. Uma revolução não pode ser feita com punho fraco", afirma Juan Fernández, outro chavista de 50 anos.
Para León, um amplo triunfo opositor nas legislativas poderia dar origem a um "chavismo não madurista" tentado a mudar o líder antes que termine seu mandato e ter possibilidade de vitória nas presidenciais de 2019.
Velhos colaboradores de Chávez, como a ex-ministra Ana Elise Osorio, advertem que o gabinete de Maduro teria que renunciar se o oficialismo fosse derrotado nas parlamentárias.
Gómez recorda que em outubro de 2012, após ser reeleito, Chávez reuniu seus ministros para lhes preveniu, destacando "a burocracia, a ineficiência e a importância da autocrítica" e que, "caso o governo não mudasse certas coisas, poderia ser o sepultamento desta revolução".