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Chávez, um líder que não cede ao tempo

Presidente se relegeu e conseguiu duas décadas no poder para aprofundar seu projeto socialista particular


	Chávez: os 14 anos que está no poder passou tentando projetar a imagem de homem que supera as dificuldades e considerando cada um de seus revezes como vitórias
 (Oscar Sabetta/Getty Images)

Chávez: os 14 anos que está no poder passou tentando projetar a imagem de homem que supera as dificuldades e considerando cada um de seus revezes como vitórias (Oscar Sabetta/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2012 às 06h07.

Caracas - Após 14 anos no poder e um ano e meio em tratamento de um câncer, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, não cede ao tempo e atingiu seu propósito de conseguir as duas décadas no poder para aprofundar seu projeto socialista particular.

Chávez terá um quarto mandato, o terceiro consecutivo, e com isso prolongará a guerra de ódios e paixões, que o transformam em uma figura idolatrada por alguns como um defensor da democracia com sensibilidade social, e vilipendiada por outros que o veem como um mero ditador populista preocupado consigo mesmo.

Os 14 anos que está no poder passou tentando projetar a imagem de homem que supera as dificuldades e considerando cada um de seus revezes como vitórias. Desta vez conseguiu o triunfo mais apertado em suas quatro eleições para a Presidência.

Obteve a vitória com 54,4% dos votos na disputa com maior participação das últimas décadas.

Dois momentos marcaram sua vida: a fracassada tentativa de golpe de Estado de 1992 contra o então presidente, Carlos Andrés Pérez, que o levou a prisão para depois ser indultado, e o também fracassado golpe de Estado contra si em 2002 que durante quase 48 horas o tirou do poder, até retornar triunfal a Miraflores.

No dia 30 de junho de 2011 apareceu solene nos televisores do país para dizer à nação que tinha câncer. Ele mesmo somou a nova encruzilhada aos dois episódios anteriores.

Extrovertido, impudico, carismático, Chávez fez do exercício do poder um espetáculo televisivo no qual se apresenta como defensor dos pobres, castigo dos ricos, continuador do libertador Simón Bolívar e antagonista do "Império", como chama os Estados Unidos.

Desde 1998, tudo o que acontece nesta nação sul-americana tem algum vínculo com Chávez. Passa por, contra, sem, com, para, segundo, sob ou perante o comandante-presidente da Venezuela. A favor ou contra, nenhum venezuelano pode explicar o dia a dia de seu país sem mencioná-lo.

Há quem sustente que para os venezuelanos sua liderança tem mais de espiritual e religioso que de político e revolucionário. Por seu discurso, fundamentalmente nacionalista, passam Jesus Cristo, Che Guevara, Mao, Miranda, Túpac Katari e Marx em uma estranha comunhão que Chávez consegue armar em uma sorte de doutrina.

Defende o socialismo com a cruz na mão, ora em silêncio em uma capela enquanto o país o vê pela televisão e vai rumo a uma nova operação em Cuba, acenando de dentro de um carro com uma imagem de Jesus Cristo sob a qual se pode ler: "E te curarei".


Amigo dos líderes mais controvertidos, como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad e do falecido ditador líbio Muammar Kadafi, Chávez conjuga o tradicional caudilhismo latino-americano com um discurso em defesa das lutas sociais, que um dia batizou com o pegajoso nome de Socialismo do Século XXI.

Segundo dos sete descendentes homens de um casal de professores rurais do estado ocidental e rural de Barinas, Hugo Rafael Chávez Frias nasceu no dia 28 de julho de 1954 em Sabaneta.

O único antecedente político em sua família foi seu bisavô Pedro Pérez Delgado, apelidado "Maisanta", um caudilho popular daqueles que eram alçados rapidamente ao grau de general e que lutou contra a ditadura de Juan Vicente Gómez (1908-1935).

Chávez, disse várias vezes, teve uma infância feliz apesar das carências da família, que vivia em uma casa de barro, teto de folha de palma seca e piso de terra.

Procurando jogar beisebol nas Grandes Ligas dos Estados Unidos, Chávez se alistou em 1971 na Academia Militar, mas não por vocação mas porque seu técnico, a quem ele admirava, achava que podia ajudar em sua carreira rumo ao estrelato esportivo.

No entanto, se graduou na academia em 1975 como subtenente e com o pomposo título de "Formado em Ciências e Artes Militares, Ramo Engenharia, Menção Terrestre", com o qual voltou a sua terra, onde se casou com Nancy Colmenares, com quem teve três filhos.

Chávez se casou novamente com a locutora Marisabel Rodríguez, com a qual tem uma filha e da qual depois se separou.

Sua carreira militar é uma sucessão de destinos. Assegura que se afiançou como "um rebelde" como consequência da repressão militar do levante popular de 1989, conhecido como "El Caracazo", contra a política econômica liberal de Pérez e que acabou em um massacre.

No dia 4 de fevereiro de 1992 rubricou seu fracasso golpista com um "por enquanto", que se transformou no símbolo de sua entrada na vida política venezuelana.

Saiu da prisão em 26 de março de 1994 graças a um indulto presidencial em troca de sua baixa nas Forças Armadas e se lançou à carreira política. EFE

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