O presidente da Venezuela, Hugo Chávez: queda na popularidade pode ameaçar maioria governista nas eleições para o legislativo (Arquivo/AFP)
Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2010 às 14h25.
Caracas - Uma nova campanha eleitoral foi iniciada nesta quarta-feira na Venezuela e seu grande protagonista, o presidente Hugo Chávez, pretende manter uma maioria arrasadora de deputados nas eleições de setembro, embora se encontre em seu mais baixo nível de popularidade, muito diferente dos tempos de seus recordes históricos.
"A popularidade do presidente Chávez diminuiu fortemente no último ano e chega a 37% neste início de campanha para as legislativas, o que se traduz numa baixa intenção de voto para o governo, que se situa em 32% frente aos 46% da oposição", declarou o pesquisador Alfredo Keller à AFP.
"É difícil suspender as legislativas, e o presidente faria isso, se pudesse", assinalou, por sua parte, o pesquisador Saúl Cabrera, da Consultores 21.
Esta consultoria coincide que a popularidade do presidente venezuelano, depois de 11 anos no poder, se situa nos 37%, porcentagem afastada dos 57% que o presidente registrava há um ano a pesquisa da consultora Datanálisis e dos 71% alcançado em 2005.
No entanto, isso não impede que Chávez esteja de novo na primeira linha da campanha do Partido Socialista Unido (PSUV, no poder), que enfrentará uma oposição ainda debilitada e com dificuldade para apresentar um bloco unido.
"Já se fala das listas de Chávez e o governo usa consignas que visam a consolidar a figura do presidente para conservar a maioria parlamentar", afirmou Cabrera.
No próximo dia 26 de setembro, os venezuelanos elegerão uma nova Assembleia Nacional (Parlamento unicameral), dominada pelo chavismo, já que a oposição se retirou da votação de 2005 em uma vã tentativa de boicotá-las.
O presidente, apesar de estar consciente de que cenário de há cinco anos não voltará a repetir-se, reiterou que necessita de dois terços dos deputados para seguir adiante com seu projeto político, conhecido como revolução bolivariana.
Para Keller, a decisão governamental de "converter cada eleição em um plebiscito", no qual só se vota a favor ou contra Chávez, se deve ao fato de que o presidente "é o único líder da situação com uma popularidade real, apesar de suas quedas".
Por outra parte, Keller enfatizou que, nessas eleições, "é possível que o governo obtenha uma maioria de deputados, apesar de conseguir menos votos que a oposição devido a uma modificação da lei eleitoral com a intenção de favorecer o voto oficial".
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) mudou, em janeiro, a composição das regiões eleitorais e a distribuição de deputados em oito Estados venezuelanos, governados em sua maioria por adversários do governo, em uma decisão muito criticada pela oposição.
Para o presidente da Datanálisis, José Antonio Gil, ante a insistência de centrar a campanha em Chávez, a oposição deveria evitar o erro estratégico de seguir os passos do oficialismo.
"A oposição deveria reforçar a imagem de seus candidatos focando-se na pessoa do presidente, que não está na eleição, e sim precisamente nos problemas que afetaram a popularidade de Chávez: a insegurança, o desemprego, a inflação", opinou.
Segundo os especialistas, cada vez mais venezuelanos culpam Chávez pelos problemas do país, um mal que o presidente conseguira evitar até agora. A firma Hinterlaces assinala que 37% dos cidadãos responsabiliza o chefe de Estado pelas falhas, enquanto que a Consultores 21 destaca que 57% o consideram o principal culpado dos problemas.
Nestas eleições, a oposição em a oportunidade de recuperar os espaços perdidos nas últimas eleições legislativas e de medir sua aceitação popular. Estas poderão ser, além disso, as últimas votações nacionais antes das presidenciais de 2012, nas quais Chávez aspirará a um novo mandato.
"Se for concretizado o paradoxo do governo obter a maioria de deputados com menos votos que a oposição, isso será um sinal terrível para Chávez visando às presidenciais", concluiu Keller.
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