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Cercadas de perigo, crianças vivem em más condições em Jacarta

São aproximadamente 50 mil crianças que vagam pelas ruas da capital e correm risco de serem exploradas

Crianças de rua em Jacarta: só 40% dos menores de 5 anos estão recenseados no país (Ulet Ifansasti/Getty Images)

Crianças de rua em Jacarta: só 40% dos menores de 5 anos estão recenseados no país (Ulet Ifansasti/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2011 às 07h29.

Jacarta - A situação de desamparo das milhares de crianças que vivem em ruas das maiores cidades da Indonésia é explorada por gente sem escrúpulos, incluindo pedófilos.

Um caso em que um vendedor ambulante de brinquedos detido pela Polícia após abusar de 96 menores demonstra o quanto é indefesa e o quanto está exposta a perigos a legião de crianças que vaga pelas ruas de Jacarta e outros grandes municípios do país, e que, como admitem as autoridades, são aproximadamente 50 mil.

A Unicef desconhece o número, mas não descarta que possa ser maior, já que apenas 40% dos menores de cinco anos estão recenseados.

"Não sabemos de quantas crianças estamos falando, mas, apesar de ser possível que não seja uma porcentagem muito grande em um país como a Indonésia, com 240 milhões de habitantes, podemos estar falando de milhares e milhares de menores que vivem em más condições nas ruas", declarou Karen Manda, especialista do Unicef.

Entre eles, há dois grupos diferenciados: o das crianças que, por não terem um lar, dormem onde conseguem, e o daquelas que a desatenção familiar lhes leva a ir para as ruas.

Em Jacarta e em outras cidades, é recorrente ver crianças limpando os para-brisas dos carros em troca de algumas poucas moedas, carregando caixas de engraxates para oferecer serviço, vendendo jornais ou pedindo esmola.

Brebes, uma criança órfã de pai, vive nas emaranhadas ruas desde que fugiu da casa de um parente ao qual a mãe concedeu sua custódia antes de emigrar para o Oriente Médio para trabalhar.


O passado e o presente do menino são similares aos de outros tantos que, por desespero, caem na prostituição, mais florescente nos bairros marginais e nas regiões industriais, ou são explorados em oficinas ilegais dos subúrbios, que empregam menores como mão de obra.

"Quando limpava sapatos, um dos meus clientes abusou sexualmente de mim e depois me deu 3 mil rúpias (US$ 0,33)", relatou Amran, de 19 anos, ao lembrar de sua situação quando tinha oito.

A especialista do Unicef afirmou que a maioria dos menores que subsistem nas ruas são meninos, tendência que atribuiu ao fato de que na cultura indonésia "uma menina é considerada menos conflituosa, ajudará nos trabalhos da casa e a cuidar de bebês ou de idosos".

Embora em porcentagem muito menor, também nas ruas há meninas em situação parecida de desamparo diante de pedófilos como Mohammad Davis Suharto, condenado recentemente a 15 anos de prisão por abusar de 15 meninas de entre nove e 12 anos.

As ONGs indonésias comprometidas com a assistência social estimam que um terço dos cerca de 9,5 milhões de habitantes de Jacarta vive na pobreza, e atribuem a isso a existência de crianças nas ruas.

Quase todas as administrações adotaram alguma medida para tentar deter o problema, como multas e até prisão a quem dá esmolas, proibição da venda ambulante e de se habitar em barracos construídos em espaços públicos.

"As crianças criaram uma autêntica subcultura, estão muito organizadas, formam grupos com redes de comando, que, em alguns casos, lhes dão proteção", explicou Karen.

Porém, para uma das ONGs, o problema em Jacarta "é a pobreza e a falta de trabalho, e não a disciplina nas ruas".

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