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Cerca de 40 pessoas são detidas por dia na Venezuela

Segundo ONG, mais de 4.500 pessoas foram detidas desde o início das manifestações em 1º de abril

Protestos: segundo o diretor da ONG, além das ocorrências em protestos, também têm ocorrido detenções dentro das casas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Protestos: segundo o diretor da ONG, além das ocorrências em protestos, também têm ocorrido detenções dentro das casas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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EFE

Publicado em 31 de julho de 2017 às 11h10.

Caracas - Na Venezuela, uma média de 40 pessoas, a maioria estudantes, foi detida por dia por crimes como "terrorismo" e "insurreição" desde que começou em 1º de abril a atual onda de protestos para exigir a renúncia do presidente Nicolás Maduro, na qual morreram mais de 100 pessoas.

Segundo dados da ONG Foro Penal Venezolano (FPV), mais de 4.500 pessoas foram detidas desde o início das manifestações pela Polícia, pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB, polícia militar) e pelo Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), das quais cerca de 1.200 continuam atrás das grades.

"Há detenções em protestos com barricadas, mas agora também estão fazendo detenções dentro das casas", disse à Agência Efe Alfredo Romero, diretor-executivo do FPV, cujos advogados estão cuidando de mais de três quartos dos casos de algumas detenções que a ONG qualifica como abusivas e ilegais.

Romero se refere às barricadas com as quais alguns manifestantes bloqueiam as ruas e enfrentam com pedras e, em algumas ocasiões, com coquetéis molotov e artefatos de pirotecnia, as forças da ordem que dispersam as manifestações populares com disparos de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.

"Eles são denunciados por vizinhos que estão com o governo e os acusam", explicou Romero sobre a origem de algumas listas que contém as identidades dos que respondem com violência às investidas das autoridades.

"Mas também existem casos de pessoas que são presas e que não têm nada a ver com as manifestações", esclareceu o diretor-executivo do FPV.

Uma delas é Lolymar Ramos, uma cidadã de Caracas de 36 anos que trabalha em uma empresa de publicidade e vive em Los Verdes, no setor El Paraíso, uma das áreas mais castigadas pelas operações de busca e apreensão das autoridades.

Lolymar foi detida em 13 de junho por mais de 30 homens armados do Sebin, que estavam com as cabeças cobertas e vestidos de preto, quando ela retornava do trabalho.

"Eles me perguntavam quem eram os 'guarimberos' (manifestantes que montam barricadas) e, como eu não tinha informações para dar a eles, me disseram que eu seria presa como uma 'guarimbera'", relatou Lolymar, acrescentando que foi agredida com chutes antes de ser levada em um camburão com mais de 20 jovens detidos.

Lolymar ficou presa por 37 dias, nos quais passou, sob a custódia da Polícia, por vários centros de reclusão e dividiu cela com presas comuns.

Os advogados do FPV conseguiram libertá-la, mas ela ainda deve se apresentar periodicamente a um tribunal e responder pelo crime de "terrorismo" do qual é acusada.

A acusação será fundamentada no material de combate com o qual ela foi fotografada após ser detida junto com os outros jovens, imagens que foram exibidas pela emissora de televisão pública "VTV" para mostrar o "sucesso" das operações antiterroristas.

"Levaram-nos ao Helicoide para fazer o show televisivo da 'VTV', e lá nos colocaram ao lado de morteiros, armas, explosivos, escudos e capacetes, e nos perguntaram por que éramos 'guarimberos'", lembrou Lolymar.

O Helicoide é uma imponente construção em Caracas projetada durante a ditadura de Marcos Pérez Jiménez nos anos 1950 para abrigar um shopping, um hotel 5 estrelas, uma casa de espetáculos e outros estabelecimentos de lazer, cujo formato lhe dá nome e funciona como a sede central do Sebin.

Lá dormem todas as noites muitos dos detidos nos protestos que continuam sob custódia e alguns dos quase 500 presos políticos que, segundo o FPV, existem na Venezuela.

O segundo lugar com mais pessoas encarceradas é a prisão militar de Ramo Verde, nos arredores de Caracas. Lá está preso há mais de um mês o estudante de Economia Abelardo Sánchez, de 21 anos, e de nacionalidade portuguesa e venezuelana, que foi detido com outros quatro jovens em 23 de junho em um apartamento no leste de Caracas.

A Polícia encontrou no apartamento "três capacetes, duas ou três máscaras de gás, luvas e dois escudos" que os jovens mais ativos nos protestos utilizavam para seus confrontos com a GNB, explicou à Efe o seu irmão, Lisandro Sánchez.

Aberlado é acusado dos delitos de "rebelião e subtração de elementos das Forças Armadas", duas acusações que são rejeitadas por seu irmão Lisandro, que planeja fazer contato com o consulado de Portugal para pedir ajuda.

"As detenções têm dois objetivos: intimidar todos os demais que protestam e prender as pessoas que organizam e dirigem os protestos", afirmou Romero, citando também os "assassinatos" de jovens durante as manifestações como uma das formar de deixar fora de circulação os personagens mais decisivos da luta nas ruas.

Jorge Silva pai e Jorge Silva filho foram detidos pela GNB em 26 de maio quando participavam de uma manifestação em Caracas que ainda não tinha desembocado nos distúrbios habituais.

Após 21 dias presos, o FPV conseguiu libertá-los, mas eles ainda enfrentam um processo por "insurreição" e devem comparecer a cada cinco dias ao tribunal.

"Esta perseguição aos dois fez com que toda a família ficasse com o pé atrás e ninguém mais compareceu a um protesto, porque foram 21 dias de terror e agora todos nos mantemos afastados das manifestações", disse uma parente dos dois.

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