Bandeira síria em hotel: documento que analisa a situação na qual vive a população sitiada na Síria, que ultrapassa as 240 mil pessoas (Louai Beshara/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 14h14.
Genebra - Cerca de 173 mil civis vivem presos na região de Guta, na província de Damasco Rural, sitiados pelas forças governamentais desde novembro de 2011, segundo um relatório da ONU.
O Escritório da alta comissária da ONU para os Direitos Humanos publicou nesta quarta-feira em Genebra um documento que analisa a situação na qual vive a população sitiada na Síria, que ultrapassa as 240 mil pessoas, embora organizações como a Cruz Vermelha elevem esse número para mais de um milhão.
"A evacuação da parte antiga de Homs, cercada durante mais de 600 dias, centrou a atenção sobre as duras condições nas quais se vive ali. Utilizar a fome como arma de guerra e os cercos que privam as pessoas de bens básicos para viver estão proibidos pela lei internacional", lembrou em comunicado o responsável deste escritório, Navi Pillay.
Segundo o relatório, Guta é a região mais afetada, onde estão concentrados cerca de 173 mil civis, mais da metade da população sitiada no país.
Nos primeiros meses de cerco em Guta, as forças governamentais permitiam que idosos e comerciantes atravessassem os postos de controle para entrar em Damasco e adquirir remédios e comida, relata o documento.
Mas a partir de março de 2013, pressionado pelo avanço dos rebeldes, o Governo endureceu as condições do cerco e começou a bombardear com artilharia e por ar esta zona muito povoada.
Estes ataques destruíram grande parte das infraestruturas médicas de Guta, que foi também o palco do ataque com armas químicas de agosto de 2013, no qual morreram 1.300 pessoas.
No oeste da região, a luta armada ocorreu especialmente nos distritos de Darayya e Muadhamiya, de onde fugiram cerca de 70 mil pessoas desde o início do conflito antes que fosse reforçado o cerco, mas milhares seguem presas.
Segundo médicos entrevistados por este escritório da ONU, pelo menos quatro civis morreram só nessas povoações por falta de acesso à comida e aos remédios, entre abril de 2013 e janeiro de 2014, período que o relatório abrange.
"Vários clérigos emitiram éditos permitindo aos residentes destes lugares comer gatos e cachorros para poder sobreviver", assinala.
Também em Damasco Rural, no campo de refugiados palestinos de Yarmouk, morreram dezenas de pessoas por fome, por comer alimentos em mal estado, por falta de remédios e pela ausência de pessoal médico capaz de tratar doentes crônicos e grávidas.
No norte do país, na região de Aleppo, os rebeldes mantêm assediadas várias povoações como Nubul e Zahra, onde vivem apanhadas cerca de 45 mil pessoas que, além de sofrer com a falta de alimentos e remédios, tiveram que cavar poços pela escassez de água.
"Isto faz com que idosos e crianças fiquem vulneráveis a doenças que possam brotar por falta de saneamento", indica o relatório.