Mundo

CEO de petroleira russa é acusado armar contra ex-ministro

Ulyukayev, ex-ministro da economia, acusou o executivo, que é amigo de Putin, de ter preparado uma armadilha com a ajuda do serviço secreto para derrubá-lo

Ex-ministro: Ulyukayev, 61, é suspeito de ter tentado extorquir 2 milhões de dólares de Rosneft, em um caso que abalou o setor financeiro (Sergei Karpukhin/Reuters)

Ex-ministro: Ulyukayev, 61, é suspeito de ter tentado extorquir 2 milhões de dólares de Rosneft, em um caso que abalou o setor financeiro (Sergei Karpukhin/Reuters)

A

AFP

Publicado em 16 de agosto de 2017 às 11h40.

Última atualização em 16 de agosto de 2017 às 11h41.

O ex-ministro russo da Economia Alexei Ulyukayev, julgado em Moscou por suspeita de corrupção, acusou nesta quarta-feira o poderoso CEO da petroleira Rosneft, ligado ao presidente Vladimir Putin, de ter preparado uma armadilha com a ajuda do serviço secreto para provocar a sua queda.

Ulyukayev, 61, é suspeito de ter tentado extorquir 2 milhões de dólares de Rosneft, em um caso que abalou o setor financeiro. Se for considerado culpado, pode ser condenado a 15 anos de prisão.

No primeiro dia de audiências do processo - que tecnicamente começou na semana passada - o nome de mais alto escalão já detido por corrupção desde a chegada de Putin ao Kremlin, em 2000, denunciou o "absurdo" da acusação, "a falta de provas" e uma "acusação baseada exclusivamente nas afirmações de (Igor) Setchin", presidente da gigante do petróleo Rosneft.

O acusado relatou as condições curiosas de sua detenção em 14 de novembro de 2016 na sede da Rosneft.

De acordo com acusação lida nesta quarta-feira, o ex-ministro exigiu do empresário dois milhões de dólares "a título de agradecimento", por ter autorizado a venda da parte do Estado na empresa Bachneft para a Rosneft.

A operação aconteceu com o apoio de Putin e foi a maior venda de ativos realizada em 2016 pelo Estado russo, que esperava desta maneira ajustar o orçamento, afetado pela queda dos preços do petróleo.

Setchin, objeto de ameaças em caso de recusa, teria chamado o ministro para entregar uma bolsa com a quantia exigida, que foi colocada na mala de seu carro oficial.

O acusado, que apresentou pela primeira vez a sua versão dos fatos em público, contra-atacou de modo veemente e citou diretamente o CEO da Rosneft: "Setchin me ligou pessoalmente (...) Me convenceu a comparecer a Rosneft".

Então teria acontecido a entrega da bolsa, "planejada antes por agentes do FSB" (Serviço Federal de Segurança).

"Foi uma "provocação organizada do topo, a partir de uma denúncia falsa" de Igor Setchin, disse o ex-ministro, que perdeu 14 quilos desde sua detenção e destituição do cargo por Putin.

O caso representa a primeira detenção de um ministro em exercício por corrupção desde o fim da URSS.

Alexei Ulyukayev foi imediatamente destituído por Putin, que o substituiu pelo economista Maxime Oreshkin, de 35 anos.

A quantidade de fatos atribuídos aos personagens do caso - de um lado um ministro tecnocrata pouco carismático e partidário de reformas liberais e, do outro, uma empresa semiestatal muito poderosa - provocou uma grande surpresa e incompreensão na ala liberal do poder russo.

Com a proximidade da eleição presidencial de março de 2018, alguns analistas veem nessa detenção um novo episódio da luta entre os grupos no entorno de Putin e uma demonstração de força dos "siloviki" procedentes dos serviços secretos, dos quais Igor Setchin é considerado uma liderança, ante os liberais ligados a Ulyukayev.

Acompanhe tudo sobre:CEOsCorrupçãoIndústria do petróleoRússiaVladimir Putin

Mais de Mundo

Zelensky pede mais sistemas de defesa antiaérea após semana de fortes bombardeios

Após G20, Brasil assume Brics em novo contexto global

Guerra na Ucrânia chega aos mil dias à espera de Trump e sob ameaça nuclear de Putin

Eleição no Uruguai: disputa pela Presidência neste domingo deverá ser decidida voto a voto