Shopping Center Norte reabriu nesta sexta-feira (Beatriz Olivon)
Vanessa Barbosa
Publicado em 7 de outubro de 2011 às 16h20.
São Paulo - Mais de dois milhões de reais em multa, dois dias de porta fechadas e lojistas que amargaram mais de 80% de queda de vendas, para não falar do arranhão na imagem e no elo de confiança com clientes. Transtornos que poderiam ter sido evitados pelo Center Norte, com a execução de medidas simples e no tempo devido. Não foi isso o que aconteceu.
Em um relatório disponível em seu site, a Cetesb, explica que o shopping - segundo maior centro de compras de SP, por onde passam 80 mil pessoas por dia -, já conhecia há tempos o problema da concentração de metano em seu subsolo, que foi erguido sobre uma antigo lixão da década de 80.
Em 2004, a pedido do órgão ambiental, o shopping chegou a apresentar um relatório de avaliação dos níveis do gás, elaborado pela Environ Científica Ltda. Os resultados do levantamento foram considerados inconclusivos na época.
Apenas no final de 2010, segundo a Cetesb, a investigação detalhada da área do Shopping Center Norte foi apresentada. “O estudo mostrou concentrações de metano acima do limite de inflamabilidade, caracterizando uma situação de risco em diversas partes do Shopping”, diz o texto. Inclusive foi identificado vazamento do gás para áreas internas do centro comercial, como corredores. Em contato com o ar, o metano é altamente explosivo.
Mais, o mesmo estudo apresentado pelo shopping previa o início das obras de instalação de um sistema de mitigação dos gases tóxicos em março de 2011 e início da operação no final de abril do mesmo ano. O que também não aconteceu. Em visita ao Center Norte esta semana, o prefeito de SP, Gilberto Kassab, confirmou o que a sucessão de fatos relatados acima deixa transparecer.
Segundo ele, justamente por se tratar de obras simples, os responsáveis pelo shopping erraram. "Foi aí que errou o shopping porque já poderiam ter feito as obras assim que foram alertados", afirmou.
Perigos de construir sobre o lixo
De acordo com o professor de geotecnia da Coppe-UFRJ Maurício Ehrlich, o ideal era que a instalação do sistema de drenagem de gases tivesse sido feita antes da construção do shopping, erguido em 1984. “Construir sobre lixão ou aterro é uma estratégia de alto risco que, a princípio, deve ser evitada, mas se for lavada a cabo exige estudos e planejamento ambiental minucioso”, afirma. “Se ocorre alguma falha, ou um vazamento, qualquer fagulha ou curto circuito em um sistema elétrico pode causar uma explosão”, alerta.
Segundo o professor, caso não houvesse nenhuma construção sobre o lixão da região do shopping, o gás metano liberado pela decomposição da matéria orgânica seria liberado na atmosfera e não se acumularia em bolsões no subsolo. “Construir numa área como essa sem drenar o gás é risco em potencial”, diz. Ehrlich destaca que os riscos para o meio ambiente e para a população vão além dos gases tóxicos. Se não for confinado e tratado, o lixo pode liberar líquidos poluentes, como o chorume, que pode contaminar águas subterrâneas.
Mas onde estavam os órgãos ambientais que permitiram a instalação do shopping sobre o lixão? Segundo a Cetesb, na época da contrução do centro comercial, a legislação ambiental, o monitoramento e a fsicalização não eram tão rígidos como hoje em dia. Atualmente, para se erguer toda e qualquer obra é exigido um relatório ambiental.
Finalmente, após ser interditado pela prefeitura na quarta (5) pelo risco de explosão, o Center Norte instalou - em menos de dois dias - o sistema emergencial exigido pela Cetesb. Com a medida, o shopping teve suspensas as multas aplicadas pelo órgão ambiental desde 19 de setembro e reabriu nesta sexta.
Apesar das medidas, o centro ainda deve complementar as investigações em outras áreas do empreendimento, de 300 mil metros quadrados e 331 lojas, para se verificar a necessidade de ampliação do sistema de exaustão do metano. Também terá que complementar as investigações nas áreas do Lar Center e supermercado Carrefour.