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Célula da Catalunha se radicalizou "offline" e ao modo de seita

Integrado por irmãos, amigos e vizinhos, o grupo funcionava como um "círculo fechado, onde todas as pessoas se conheciam"

Ataque em Barcelona: especialistas também ressaltam a juventude da maior parte dos supostos integrantes da célula (Sergio Perez/Reuters)

Ataque em Barcelona: especialistas também ressaltam a juventude da maior parte dos supostos integrantes da célula (Sergio Perez/Reuters)

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AFP

Publicado em 23 de agosto de 2017 às 17h36.

A célula extremista responsável pelos atentados na Catalunha parece ter-se formado em torno de um guru, ao modo de uma seita, o que lhe permitiu, segundo especialistas, escapar da vigilância policial, evitando a utilização das novas tecnologias.

Os supostos membros da célula não despertaram suspeitas enquanto planejavam atentados. Até mesmo uma explosão em seu esconderijo no povoado catalão de Alcanar, onde concentravam mais de cem botijões de más de gás e litros de acetona em um primeiro momento não chamou a atenção da polícia catalã.

A principal razão é a maneira como a célula se formou, concordam os especialistas.

"As técnicas de propaganda e captação" de seus membros "correspondem ao recrutamento de uma seita", avalia a analista Lurdes Vidal, diretora do Instituto Europeu do Mediterrâneo.

Essas técnicas consistem em fazer "o papel da família, concentrar-se no próprio grupo e evitar qualquer saída do grupo", explica.

No núcleo, "há um personagem central que os reúne, que dá respostas salafistas à perda de pontos de referência dos jovens", disse Alain Rodier, um ex-funcionário de Inteligência francês.

O personagem chave neste caso é o imã marroquino Abdelbaki Es Satty, morto na explosão da moradia de Alcanar provocada pelos mesmos extremistas.

O imã poderia ter mostrado duas caras no povoado de Ripoll, onde viviam ele e a maioria dos suspeitos, sugeriu Alberto Bueno, membro do espanhol Observatório Internacional de Estudos sobre Terrorismo.

"Mostrava uma cara quando pregava e a outra com função de radicalização", disse Bueno. "O imã radicalizador ajudou com as relações interpessoais, com os irmãos, que facilitaram esse processo para a formação da célula", acrescenta o investigador da universidade de Granada (sul).

Integrado por irmãos, amigos e vizinhos, o grupo funcionava como um "círculo fechado, onde todas as pessoas se conheciam", à semelhança das células que perpetraram os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos ou de 11 de março de 2004 em Madri, explica Yves Trotignon, ex-membro especializado em terrorismo dos serviços franceses de inteligência (DGSE).

Os especialistas espanhóis já sabiam antes desses ataques que "na Espanha se privilegiam as famílias. Um irmão não trai o outro", explica Alain Rodier. Assim, a doutrinação fica mais fácil, ressalta.

Radicalização cara a cara

Sua radicalização foi "'offline' [sem internet], com contatos diretos, cara a cara, ao longo dos meses", avalia Alberto Bueno. Para ele, este tipo de relação tornou impossível qualquer detecção.

Assim despistaram a vigilância policial das redes sociais, para detectar sinais de radicalização.

"Este modelo clássico, com pessoas que se conhecem e um guru que acompanha o desenvolvimento da célula data de uns 15 ou 20 anos", afirma Alain Rodier, apontando como exemplos as redes argelinas dos anos 90, os ataques em Madri em 2004 e os de Londres em 2005.

Os especialistas também ressaltam a juventude da maior parte dos supostos integrantes da célula, alguns deles menores de idade.

"A dimensão religiosa tem sido muito instrumentalizada com um impacto emocional muito forte na construção da identidade do adolescente", disse Vidal.

"São muçulmanos, não convertidos. Faz falta um imã, um incubador entre eles que os convença de que sua fé requer que empreendam ações", opina Rodier.

"Eles podem ter-se visto como reconquistadores da Espanha para o mundo muçulmano, como sugere a carta encontrada em Alcanar", acrescenta o ex-funcionário francês.

Entre os escombros da casa de Alcanar, a Polícia encontrou um papel manuscrito em árabe que falava d"os Soldados do Estado Islâmico na terra do Andaluz".

Andaluz é o nome dos territórios da península ibérica sob dominação muçulmana até 1492.

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