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Casamento real pode ter efeito negativo sobre economia

Para alguns analistas, o PIB da Inglaterra é negativo e pode sofrer com feriados depois do casório

Analistas avaliam que o efeito positivo sobre o comércio e o turismo terá o contrapeso negativo da perda de produção em abril por causa do casamento real (Chris Jackson/Getty Images)

Analistas avaliam que o efeito positivo sobre o comércio e o turismo terá o contrapeso negativo da perda de produção em abril por causa do casamento real (Chris Jackson/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2011 às 20h21.

São Paulo - A ideia de que o casamento real poderá fortalecer a combalida economia do Reino Unido não passa de conto de fadas. O estímulo trazido pelo aquecimento do turismo e do comércio e a confiança criada pelo sentimento de orgulho nacional terão efeito apenas no curto prazo. Ainda assim, esse impacto tende a ser anulado pela sucessão de feriados próximos do evento, que reduzirá a produção, conforme analistas consultados pela Agência Estado. Para alguns, o resultado no Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido é até mesmo negativo.

Assim que o Big Ben der as 12 badaladas na próxima sexta-feira à noite, os britânicos terão de encarar novamente o clima de austeridade fiscal imposto pelo governo e o aumento do custo de vida causado pela inflação.

Depois da retração de 0,5% registrada nos últimos três meses de 2010, o PIB do Reino Unido voltou a subir no primeiro trimestre deste ano, com alta na mesma proporção, de 0,5%. Ou seja, nos últimos seis meses, a atividade ficou estagnada. O desempenho já adia a perspectiva de aperto monetário pelo Banco Central da Inglaterra.

"Não acreditamos que o casamento real terá qualquer impacto significativo na economia britânica", afirmou Chris Crowe, analista do Barclays Capital. "O efeito do casamento deve ser neutro sobre o PIB do segundo trimestre", concorda Stuart Green, economista do HSBC.

Lojas, vendas e festas

Existe a expectativa de crescimento das vendas no varejo. Londres já está decorada para a festa e as vitrines estão recheadas com os mais variados produtos estampados com William e Kate Middleton. Muitas famílias irão comemorar a ocasião com os tradicionais almoços de rua, o que tende a puxar as receitas dos supermercados. A New West End Company, que representa 600 varejistas do centro londrino, informou que, em três dias do feriado de Páscoa, dois milhões de pessoas foram às compras, um aumento de 4,1% sobre 2010.

O turismo também ganhará impulso. A agência nacional Visit Britain estima que 600 mil turistas estarão na cidade somente para o casamento, elevando o número total de visitantes em Londres para 1,1 milhão na próxima sexta-feira. Pelos cálculos da Verdict Research, unidade da consultoria Datamonitor, o evento pode representar um incremento de 620 milhões de libras (cerca de US$ 1 bilhão) para a economia do Reino Unido.


"Sem dúvida haverá algum estímulo, principalmente no setor de turismo, mas os efeitos serão transitórios e sem sustentabilidade", disse Charles Diebel, estrategista-chefe do Lloyds Bank.

Além disso, os analistas avaliam que o efeito positivo sobre o comércio e o turismo terá o contrapeso negativo da perda de produção em abril. Isso porque as pessoas estão tirando férias para aproveitar as folgas previstas no calendário, o que tende a reduzir a produção.

Feriadão de 11 dias

Entre 22 de abril e 2 de maio, há apenas três dias úteis no país espremidos entre a Páscoa, o feriado nacional do casamento e a folga tradicional da primeira segunda-feira de maio. Ou seja, muitos estão emendando um feriadão de 11 dias. "Isso vai representar uma produção menor do que o usual no segundo trimestre", acredita John Hydeskov, analista-chefe do Danske Bank. "O efeito líquido do casamento é negativo."

O economista Paul Mortimer-Lee, do BNP Paribas, também avalia que a união de William e Kate vai pesar negativamente sobre a produção e o PIB do segundo trimestre, algo como uma queda de 0 25% ou de 0,50%. Para ele, os feriados tendem a estimular o turismo externo e reduzir os gastos domésticos. Além disso, o comércio vai girar em torno de itens importados, como os souvenirs. "O brinde ao casal real será feito com champagne francês."

Os especialistas fazem uma comparação com a comemoração do aniversário de 50 anos do reinado da rainha Elizabeth II, o Golden Jubilee, em junho de 2002. O acontecimento desacelerou o crescimento do país para 0,2% no segundo trimestre daquele ano.

Na atual era de austeridade fiscal, o governo não divulga qual será o gasto com o casamento. A festa será bancada pela rainha, mas os custos com segurança e transporte ficarão na conta dos contribuintes. A união do príncipe Charles e Diana Spencer, em 1981, custou 30 milhões de libras (cerca de US$ 50 milhões) e estima-se que o evento da próxima sexta-feira será mais caro - embora não seja possível precisar a cifra.

Incertezas

Depois de ter saído de uma longa recessão, a economia do Reino Unido ainda patina. A alta dos preços da energia e dos alimentos está afetando a renda e o consumo da população. A estratégia de cortes de gastos do governo, os mais severos desde a Grande Depressão, também traz incertezas para os próximos meses.


Como a agência nacional de estatística atribui a queda de 0,5% do PIB no último trimestre de 2010 ao inverno rigoroso, a alta de 0,5% registrada nos primeiros três meses deste ano apenas anula o efeito da retração. "O crescimento atual é igual a zero, um resultado muito ruim, principalmente porque o impacto total dos cortes do governo ainda será sentido", disse Crowe, do Barclays Capital.

Para realmente ter engatado ritmo sustentável, a economia precisaria ter avançado 1% no primeiro trimestre, estima Hydeskov, do Danske Bank. "O resultado divulgado hoje é decepcionante."

Os analistas já não contam com alta dos juros na reunião do Banco da Inglaterra na próxima semana, como chegou a ser considerado semanas atrás, quando a inflação superou 4%. Mesmo com os preços em alta, os especialistas acreditam que não existe ambiente para aperto monetário neste momento e o BC inglês só deve começar a elevar a taxa básica da economia no segundo semestre.

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