Repórter
Publicado em 17 de julho de 2025 às 17h12.
Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não foi eleito como "imperador do mundo", a Casa Branca rebateu e disse que essa não é a intenção do republicano.
"Certamente, o presidente não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte para os Estados Unidos da América e ele também é o líder do mundo livre. E vimos uma grande mudança em todo o globo por causa da forte liderança deste presidente", afirmou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
A declaração de Lula foi dada em uma entrevista à CNN internacional sobre a decisão do governo americano de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados ao país.
A porta-voz do governo americano também comentou a decisão de Trump em abrir uma investigação sobre as práticas comerciais do Brasil para averiguar se elas estariam restringindo injustamente as exportações americanas para o país.
Em um comunicado emitido nesta terça-feira, 15, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos, declarou que o objetivo da investigação é verificar se determinadas políticas e ações do governo brasileiro são prejudiciais para empresas americanas. Entre os pontos que serão analisados estão: as tarifas aplicadas pelo Brasil a produtos dos Estados Unidos, políticas comerciais digitais, o acesso ao mercado de etanol e as "interferências anticorrupção", entre outros.
"Em relação ao Brasil, o presidente enviou uma carta, anunciando sua nova porcentagem de tarifas. Ele também orientou nosso Embaixador de Comércio dos EUA para iniciar uma investigação do Brasil sob a Seção 301 da Lei Comercial de 1974, criada para práticas estrangeiras que estão afetando o comércio dos EUA", disse Karoline Levitt.
Ela também ressaltou que os problemas enfrentados pelo Brasil em relação ao desmatamento ilegal comprometem os interesses comerciais dos EUA no país.
"Há anos conhecemos as regulamentações digitais do Brasil e as fracas proteções à propriedade intelectual minaram a tecnologia, as empresas inovadoras e sua tolerância ao desmatamento ilegal e outras práticas ambientais que colocam os produtos, fabricantes, agricultores e pecuaristas que seguem padrões ambientais em desvantagem competitiva".
E reforçou: "Então, esse presidente sempre age da melhor maneira possível pelo interesse do povo americano e ele continuará a fazer isso".
Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa extra de importação de 50% para os produtos brasileiros. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas.
Em tese, a medida entra em vigor em 1º de agosto, mas ainda não foi oficializada por uma ordem executiva. Assim, o governo brasileiro busca negociar formas de evitar o tarifaço.
Em uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele disse:
"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta".
"Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeito profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", afirmou.
"Além disso, tivemos anos para discutir nossa Relação Comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta, gerada pelas Políticas Tarifárias e Não Tarifárias e Barreiras Comerciais do Brasil. Nossa relação está longe de ser recíproca", disse o presidente americano.
No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA têm superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.
No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. O Brasil é um grande exportador de aço, café, carne, suco de laranja e outros produtos aos americanos.
Desde que tomou posse, em janeiro, Trump passou a aumentar tarifas de importação sobre outros países, sob argumento de que eles estariam trazendo problemas aos EUA.
Trump quer que as empresas voltem a produzir nos Estados Unidos, em vez de ter fábricas no exterior, como fazem há décadas para cortar custos. Assim, ao encarecer as exportações por meio de novas taxas, ele espera que mais indústrias se mudem para os EUA e gerem empregos no país.
Além disso, Trump reclama do déficit comercial dos EUA com os outros países, e usa as tarifas como meio de pressionar os parceiros a comprarem mais itens americanos. Em vários casos, houve acordos nesse sentido: um compromisso de maiores compras ou abertura de mercados a produtos dos EUA em troca de Trump desistir de novas taxas.
Assim, analistas apontam que Trump usa as novas taxas como um elemento de pressão. Ele cria um problema que não existia antes, as novas taxas, e exige que os outros países mudem de postura para não implantá-las.
Em abril, Trump anunciou uma tarifa geral de 10% extras a quase todos os países do mundo e outra taxa extra, que variava entre os países de acordo com o déficit que os EUA tinham com cada um.
Na época, houve uma crise nos mercados e o líder americano adiou as novas taxas por país até 9 de julho, sob o argumento de que daria tempo para negociações.
Na semana passada, ele adiou novamente o prazo, para 1º de agosto, e passou a anunciar novos percentuais de taxas para alguns países, que poderão ser negociados até o final de julho. A tarifa geral de 10% segue em vigor, além de outras taxas para países específicos, como China, Canadá e México, e para produtos, como aço e alumínio.