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Casa Branca considera reconhecer a Crimeia como parte da Rússia, afirma imprensa dos EUA

De acordo com o site Semafor, Trump ainda não tomou uma decisão final, mas tem sinalizado que Ucrânia precisará fazer concessões territóriais em acordo de paz

Moradores e marinheiros russos assistem a declarações de Putin em telão instalado no porto de Sebastopol, na Crimeia (VASILY BATANOV/AFP)

Moradores e marinheiros russos assistem a declarações de Putin em telão instalado no porto de Sebastopol, na Crimeia (VASILY BATANOV/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 18 de março de 2025 às 18h56.

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A Casa Branca cogita reconhecer a soberania da Rússia sobre a Crimeia, um território ucraniano ocupado e anexado unilateralmente por Moscou em fevereiro de 2014, como parte dos termos de um acordo definitivo de paz entre russos e ucranianos.

A revelação foi publicada pelo site de notícias Semafor, que apontou que o presidente Donald Trump ainda não tomou uma decisão final, e não está claro se ele a discutiu na conversa telefônica com o líder russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira.

Desde a semana passada, quando representantes dos EUA e da Ucrânia se encontraram na Arábia Saudita e Kiev aceitou a proposta para um cessar-fogo total — por terra, mar e ar — de 30 dias, o governo Trump tem acelerado seus passos, embora a Rússia, de Vladimir Putin, não tenha a mesma pressa. Segundo o Semafor, o reconhecimento da Crimeia seria uma das ideias que circulam nos corredores da Casa Branca para fazer com que os russos aceitem com a pausa temporária.

Não há qualquer indicação de que o presidente americano tenha dado sinal verde à ideia, mas ele e outros membros de seu governo têm deixado claro que a Ucrânia terá que fazer concessões territoriais se quiser um acordo definitivo.

No domingo, em uma entrevista à ABC News, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, disse ser “irrealista” achar que Kiev conseguirá retomar e controlar todos os territórios ocupados pelos russos, cerca de 20% da área total do país. Na conversa, ele citou a Crimeia.

— Vamos expulsar todos os russos de cada centímetro do solo ucraniano, incluindo a Crimeia? — disse Waltz à ABC News. — Podemos falar sobre o que é certo e errado, e também temos que falar sobre a realidade da situação no terreno.

Também no domingo, Trump também falou sobre possíveis concessões a Putin.

— Falaremos sobre terra. Muita terra é muito diferente do que era antes da guerra, como você sabe. Falaremos sobre terra, falaremos sobre usinas de energia, essa é uma grande questão — disse o presidente, citado pela CNN, se referindo à conversa telefônica com Putin, ocorrida nesta terça-feira. — Mas acho que já discutimos muito sobre isso, muito, por ambos os lados, Ucrânia e Rússia. Já estamos falando sobre isso, dividir certos ativos.

Ao responder às questões do Semafor, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes, disse que “não fizemos tais compromissos e não negociaremos este acordo pela mídia.”

— Há apenas duas semanas, tanto a Ucrânia quanto a Rússia estavam a quilômetros de distância em um acordo de cessar-fogo, e agora estamos mais próximos de um acordo graças à liderança do presidente Trump. O objetivo continua o mesmo: parar a matança e encontrar uma resolução pacífica para este conflito — acrescentou.

Território anexado

Dominada de forma relâmpago pela Rússia em fevereiro de 2014, em meio ao caos dos protestos que derrubaram o presidente pró-Moscou Viktor Yanukovich e ao início da guerra civil no leste do país, a Crimeia foi oficialmente anexada no mês seguinte, em um movimento não reconhecido pela maior parte da comunidade internacional.

A população, majoritariamente de origem russa, foi submetida aos sistemas fiscal, jurídico e político da Rússia: em 2018, foram realizadas eleições, inclusive para presidente da Federação Russa, em uma ação que incluiu a ampla distribuição de passaportes por Moscou. Naquele ano, o Banco Central Russo emitiu uma nota especial, de 200 rublos (R$ 13,87), com referências a marcos históricos da península. Mas algumas minorias, como os tártaros e ucranianos étnicos, acusam o governo de Putin de perseguição, prisões e deportações para outras regiões do país.

No início da guerra, a Crimeia serviu como ponto de partida para a ofensiva contra o sul e parte do leste ucranianos, assim como base para ataques aéreos com aviões de combate e lançamento de mísseis. A base naval de Sebastopol, base da Esquadra do Mar Negro, também assumiu posição nas linhas de frente — contudo, o território foi alvo de bombardeios ucranianos, que causaram destruição considerável. A ponte que liga a península ao continente, construída ao custo de quase US$ 4 bilhões, foi atingida com frequência ao longo dos últimos três anos.

Caso a proposta de reconhecer a soberania russa na Crimeia surja nas negociações, se é que não surgiu, não pegaria muitos de surpresa. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que no começo do conflito apontava a manutenção da integridade territorial do país, de acordo com as fronteiras de 1991, como inegociável, já parece aceitar que perderá algumas áreas para Moscou.

Em novembro do ano passado, em entrevista à Fox News, ele afirmou que seu objetivo era recuperar a Crimeia “diplomaticamente”, e que “não podemos fazer com que dezenas de milhares de nossos cidadãos morram para que a Crimeia volte”, ainda mais sem qualquer garantia de vitória.

Segundo o jornal New York Times, havia a expectativa de que a Crimeia fosse discutida no telefonema entre os dois líderes nesta terça-feira, mas não houve menção pública sobre esse diálogo — contudo, a publicação menciona os temores de alguns aliados de Zelensky em Kiev de que a lista de concessões seja ainda maior, e inclua, além da península e das áreas ocupadas no leste e sul, cidades como Odessa, o principal porto ucraniano.

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