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Cartel de los Soles existe? O que se sabe do grupo classificado como terrorista

Medida dos EUA abre espaço para mais operações contra o narcotráfico na Colômbia

Presidente da Venezuela Nicolás Maduro durante evento em Caracas, em 21 de novembro (Juan Barreto/AFP)

Presidente da Venezuela Nicolás Maduro durante evento em Caracas, em 21 de novembro (Juan Barreto/AFP)

Publicado em 25 de novembro de 2025 às 15h30.

Os Estados Unidos declararam, na segunda feira 24, que o chamado Cartel de los Soles (Cartel dos Sóis) como uma organização terrorista estrangeira. Segundo o Departamento de Guerra dos EUA, a nova medida poderia abrir uma “série de novas opções” para as operações americanas na Venezuela. Além disso, Trump diz que a nova classificação lhe permitiria atacar alvos ligados ao cartel e ao presidente Nicolás Maduro em solo venezuelano.

Nos últimos meses, os EUA vêm ampliando a pressão sobre Maduro com uma intensa aglomeração de poderio militar nos mares do Caribe, conduzindo operações de ataque e bombardeio a embarcações sob suspeita de terem conexão com o narcotráfico.

A Venezuela, por sua vez, entende a presença armada americana como tentativa de induzir uma mudança de regime no país, a fim de conseguir acesso às vastas reservas de petróleo do país.

No entanto, analistas apontam que não há comprovação de que o cartel exista de fato.

O que é o Cartel de los Soles?

O chamado cartel é, na verdade, um termo usado para se referir a um grupo de oficiais corruptos no Exército e na política da Venezuela que colaborariam com organizações ligadas ao narcotráfico para facilitar suas operações no país.

Segundo a BBC, o termo emergiu inicialmente nos anos 1990, usado pela mídia venezuelana durante acusações de tráfico de drogas contra um general da Guarda Nacional. O termo faz referência a uma insígnia em formato de sol utilizada por generais como sinalização de seu status na hierarquia militar.

Assim, o cartel não seria uma organização criminosa no sentido clássico, pois não teria estrutura e hierarquia claras. Ao invés disso, é melhor entendido como uma organização informal composta por membros do alto escalão do exército e governo.

O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), define o cartel da seguinte maneira em um estudo de outubro desse ano: “Rede informal e descentralizada de altos funcionários militares e políticos corruptos dentro das instituições estatais da Venezuela.” A entidade pondera, no entanto, que nenhum ato violento significativo foi atribuído ao Cartel de los Soles.

A Venezuela nega veementemente a existência do cartel, e diz que as declarações dos EUA são mentirosas. O governo Maduro afirma que a designação é uma "mentira infame e vil para justificar uma intervenção ilegítima e ilegal".

"A Venezuela rejeita de maneira categórica, firme e absoluta a nova e ridícula mentira do secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, que designa como organização terrorista o inexistente Cartel de los Soles", disse o governo do país em um comunicado.

Enquanto isso, Rubio, chefe da diplomacia americana, afirma que o Cartel de los Soles é liderado por Maduro e outros funcionários de alto escalão "que corromperam o Exército, a inteligência, a legislatura e o Poder Judiciário da Venezuela".

"O Cartel de los Soles, junto com outras FTO (organizações terroristas) designadas, incluindo o 'Tren de Aragua' e o Cartel de Sinaloa, são responsáveis pela violência terrorista em todo o nosso hemisfério, assim como pelo tráfico de drogas para os Estados Unidos e a Europa", declarou Rubio, ao anunciar a designação.

Quais poderão ser os próximos passos dos EUA?

A nova classificação "abre um leque de possibilidades, tanto militares quanto de sanções, para o governo Trump seguir exercendo pressão", explica à AFP Juan Manuel Trak, especialista em sociopolítica e professor universitário no México.

Trump afirmou que o governante de esquerda tem os dias contados e autorizou a CIA a atuar no país em operações encobertas, embora também tenha sinalizado a possibilidade de negociar com Maduro.

"Esse aumento da pressão gera a percepção de que algum tipo de ataque já é quase iminente", considera Trak.

A Força Aérea americana revelou um exercício de bombardeio com aviões B-52 no Caribe, em meio à incerteza que envolve a Venezuela sobre a possibilidade de um ataque ao país. Também alertou operadores civis sobre "o agravamento da situação de segurança e o aumento da atividade militar na Venezuela e arredores".

"Os Estados Unidos definiram a base legal para (...) intervir em um território", avalia Alexis Alzuru, doutor em Ciências Políticas, também para a AFP.

Além disso, os Estados Unidos proíbem fornecer "apoio material ou recursos" a qualquer organização na lista de terroristas.

Alguns economistas concordam que a lista pode sufocar ainda mais a economia da Venezuela, que enfrenta novamente um cenário de hiperinflação. Ademais, setores que não estavam afetados por sanções prévias sofreriam perdas se operadores internacionais decidirem evitar o país para não ter problemas com os Estados Unidos.

Com AFP

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