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Carta em que Napoleão finge desaprovar prisão de Papa é vendida por R$ 170 mil na França

Imperador francês havia determinado reclusão do Pontífice Pio VII, mas decidiu dissimular ordem em mensagem a autoridades

Cérebro (Wikimedia Commons)

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Agência o Globo
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Publicado em 27 de abril de 2025 às 09h30.

Uma carta de Napoleão fingindo desaprovar a prisão do Papa Pio VII, algo que ele mesmo havia ordenado, foi vendida por 26.360 euros (R$ 170,5 mil, na cotação atual) em um leilão em Fontainebleau neste domingo, anunciou a casa de leilões Osenat, que organizou a venda.

Uma verdadeira "manobra política", esta carta datada de 23 de julho de 1809, riscada e assinada "Napole", provavelmente um diminutivo de Napoleone, foi estimada entre 12 mil e 15 mil euros, conforme disse anteriormente à agência AFP Jean-Christophe Chataignier, sócio e diretor do departamento do Império na casa de leilões.

— Esta prisão foi um dos eventos que marcariam o reinado de Napoleão nos planos político e religioso. Napoleão sabia que esta carta seria distribuída e que se destinava a todas as autoridades — explica o especialista.

Ela se dirige ao arqui-reitor Jean-Jacques-Régis Cambacérès.

"Foi sem minhas ordens e contra a minha vontade que o Papa foi levado para fora de Roma; foi novamente sem minhas ordens e contra a minha vontade que ele foi levado para a França. Mas só fui informado disso dez ou doze dias depois de ter sido executado. A partir do momento em que eu soubesse que o Papa estava parado em algum lugar, e minhas intenções pudessem ser conhecidas a tempo (sic) e executadas, eu veria quais medidas teria que tomar...", escreveu Napoleão.

Autoridade de Napoleão

Chataignier explica que, com a carta, Napoleão "quer demonstrar sua autoridade sem ser desmentido e, em vez de dizer 'contra a minha vontade', ele escreve 'sem a minha vontade'"

— Ele não deveria aparecer como aquele que mandou prender o Papa; isso é histórico e hiperestratégico — enfatizou.

Diante da recusa de Pio VII em aderir à política de bloqueio continental, Napoleão I deu vários "golpes de força": tomou autoridade sobre o Papa ocupando parte dos Estados Pontifícios, notadamente os portos, enviou suas tropas a Roma em 2 de fevereiro de 1808 e expulsou os cardeais estrangeiros em março.

O Papa acabou sendo preso no Vaticano no final de julho de 1809 e enviado para a Itália em 1º de agosto, para ser colocado em prisão domiciliar em Savona e depois em Fontainebleau, por ordem de Napoleão.

— O imperador pretende, assim, afirmar ainda mais seu domínio sobre a religião católica, que ele orquestrou desde sua coroação em Notre-Dame, onde se coroou, embora essa tarefa normalmente caiba ao soberano Pontífice — lembra o especialista.

Os leilões napoleônicos estão florescendo, mais de dois séculos após a morte do "Imperador dos Franceses", que morreu no exílio em 1821, aos 51 anos, depois de ter dominado a Europa.

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