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Cardeal admite que Igreja católica destruiu arquivos sobre abusos sexuais

Declaração foi feita durante uma reunião histórica no Vaticano sobre a luta contra a pedofilia

Igreja católica destruiu arquivos sobre os autores de abusos sexuais, reconheceu o influente cardeal alemão Reinhard Marx (Joe Klamar/AFP)

Igreja católica destruiu arquivos sobre os autores de abusos sexuais, reconheceu o influente cardeal alemão Reinhard Marx (Joe Klamar/AFP)

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AFP

Publicado em 23 de fevereiro de 2019 às 10h08.

A Igreja católica destruiu arquivos sobre os autores de abusos sexuais, reconheceu neste sábado o influente cardeal alemão Reinhard Marx.

"Os arquivos que poderiam documentar estes atos terríveis e indicar o nome dos responsáveis foram destruídos ou inclusive não chegaram a ser criados", afirmou o presidente da Conferência Episcopal Alemã.

"O abuso sexual de crianças e jovens se deve, em uma parte não insignificante, ao abuso de poder da administração", afirmou o cardeal alemão em seu discurso aos participantes da reunião, entre eles 114 presidentes de conferências episcopais de todo o mundo convocados para falar também sobre o silêncio e acobertamento da pedofilia por parte da hierarquia eclesiástica.

"Ao invés de punir os culpados, as vítimas foram as repreendidas e silenciadas", lamentou.

"Os procedimentos e trâmites fixados para perseguir estes delitos foram deliberadamente ignorados, e inclusive apagados ou anulados", insistiu.

"De fato, os direitos das vítimas foram pisoteados e deixados ao livre arbítrio de indivíduos", denunciou o cardeal.

O arcebispo de Munique e Freising, conhecido por suas posições progressistas, criticou o fato de o "segredo pontifício" ser apresentado com frequência como justificativa pela Igreja e, pior ainda, em casos como o dos abusos sexuais cometidos por padres.

Transparência vs. conspiração

O cardeal pediu mais transparência sobre os julgamentos realizados pela Igreja e exigiu a divulgação do número de casos examinados pelos tribunais eclesiásticos, assim como detalhes sobre os mesmos.

Em um gesto de aproximação, o religioso se reuniu na sexta-feira de modo privado com 16 vítimas de abusos do grupo 'Ending Clerical Abuse' (ECA), uma das entidades que convocaram um protesto neste sábado em Roma para exigir justiça imediata nos casos de pedofilia.

O cardeal conversou em seguida com o papa Francisco sobre o encontro, que durou 90 minutos e foi solicitado pelo próprio Reinhard Marx, informou o Vaticano.

A Igreja católica alemã pediu desculpas oficialmente em setembro do ano passado após a publicação de um relatório que revelou agressões sexuais contra mais de 3.600 menores de idade, cometidas durante décadas por integrantes do clero.

O próprio cardeal fez um pedido público de desculpas após a divulgação do documento, que contabilizou pelo menos 3.677 vítimas entre 1946 e 2014, em sua maioria menores de 13 anos, que sofreram abusos cometidos por 1.670 clérigos.

"A desconfiança institucional leva a teorias da conspiração sobre uma organização e a criação de mitos sobre ela. Isto pode ser evitado se os fatos forem expostos de maneira transparente", disse o religioso aos 190 membros da cúpula da Igreja presentes na reunião do Vaticano.

O discurso duro do cardeal, transmitido por streaming, foi dedicado sobretudo à necessidade de transparência para recuperar o prestígio da Igreja.

"Os procedimentos legais corretos servem para estabelecer a verdade e constituem a base de uma punição proporcional ao delito", destacou o religioso.

"Além disso, estabelecem a confiança na organização e em sua liderança", completou.

O influente cardeal fez um apelo à hierarquia eclesiástica a "dar um passo corajoso para a rastreabilidade e transparência" não apenas nos casos de abusos sexuais, mas também no "setor financeiro", outro tema sensível para a Igreja, acusada por finanças obscuras e demissões misteriosas.

A reunião oficial, que terminará no domingo com um discurso do papa, não deve adotar um documento final, mas durante as sessões de trabalhos pode estabelecer algumas medidas específicas.

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