Caravana de imigrantes no México enfrenta péssimas condições em abrigos (Edgard Garrido/Reuters)
EFE
Publicado em 28 de novembro de 2018 às 11h12.
Última atualização em 28 de novembro de 2018 às 11h27.
Tijuana - Os migrantes centro-americanos que chegaram à fronteiriça cidade mexicana de Tijuana enfrentam condições cada vez mais duras no albergue provisório preparado pelas autoridades locais no ginásio esportivo Benito Juárez.
No refúgio já não cabe uma alma. Os últimos grupos de migrantes que chegaram a Tijuana dormem no lado de fora. Amontoados entre os banquinhos, juntos, tentam compartilhar calor corporal porque o frio castiga na madrugada.
Daniel, um dos mais de 5.600 migrantes que se encontram no albergue, tem apenas 11 anos de idade. Já percorreu milhares de quilômetros e esteve perto de chegar aos Estados Unidos. "Dany", como lhe chamam, já se deu por vencido.
Fugiu do seu povoado natal farto da pobreza extrema. Alguém lhe contou da "caravana migrante" e uniu-se sozinho ao contingente.
Na última segunda-feira, acompanhado por oficiais dos Grupos Beta - unidade do Instituto Nacional de Migração especializada em oferecer orientação e assistência a migrantes -, pediu aos encarregados do módulo de atendimento da Organização Internacional de Migração (OIM) que o ponham na lista de transferências voluntárias. Já está cansado, desnutrido e doente quer voltar a Honduras.
O albergue no centro esportivo foi cercado por forças federais mexicanas depois do confronto de domingo, quando centenas de centro-americanos romperam uma barreira policial para tentar entrar nos Estados Unidos, sendo repelidos com gás lacrimogêneo pela polícia fronteiriça americana.
A quantidade de pessoas aglomeradas, as casas de campanha improvisadas com cobre e plástico, as filas para pegar comida... tudo faz lembrar a prisão de La Mesa de Tijuana.
Nas décadas de 1980 e 1990 a penitenciária foi conhecida como "El Pueblito". Ali os detentos conviviam com suas esposas e filhos. Havia lojas de mantimentos, postos de comida e o "cortiço", como se conhecia uma seção onde dormiam centenas de prisioneiros amontoados.
O acampamento dos migrantes já é conhecido como "El Nuevo Pueblito".
Dezenas de homens - jovens na sua maioria, e magros - percorrem as instalações. Saem e entram. Do lado de fora buscam o hondurenho que vende charutos. Todos usam uma pulseira cor laranja fluorescente que lhes permite ir e vir.
"Charutos, charutos", grita um jovem, imitando o sotaque dos vendedores da Cidade do México.
Dentro, uma tenda imponente cobre a maioria das casas de campanha que foram entregues aos primeiros migrantes que chegaram. O acampamento está localizado no campo de beisebol e a área de cozinha e de logística no que era o ginásio.
Os banheiros da unidade esportiva foram insuficientes desde a chega do primeiro grupo de migrantes. Diante disso foram alugados banheiros químicos e as filas são longas para usá-los.
Cedo, os migrantes já buscam alimento. Alguns saem à loja da esquina ou às ruas paralelas. A maioria espera os alimentos que são distribuídos na cozinha da Secretaria de Marinha do México.
O cardápio do dia era carne à mexicana com feijões e arroz. Para beber, chocolate quente. Uma mulher hondurenha que não ultrapassa os 30 anos carrega um bebê de um ano e leva pelas mãos suas duas filhas gêmeas, de quatro anos.
"Temos medo, mas já estamos aqui", afirma enquanto espera na fila. Ela deixou sua cidade natal, Colón, em Honduras. Tem uma irmã que vive na Carolina do Sul, nos EUA, e espera chegar até lá, se o governo americano permitir.
Na unidade esportiva, dezenas de mulheres se asseiam e lavam a pouca roupa que têm, enquanto outras colaboram nas atividades de limpeza do próprio refúgio ou cuidam de seus filhos que vagueiam entre a parte de cimento e o campo de terra, onde se formou um lamaçal.
Outros pequenos se divertem nos brinquedos infantis, vigiados pelos seus pais. Funcionários da Câmara Municipal de Tijuana coordenam os acessos; um ferrenho controle das entradas e saídas.
Com máscaras e coletes com logomarcas da Câmara Municipal, os servidores públicos se dividem em turnos para a supervisão do refúgio provisório. Muitos deles já acusam o cansaço.
Muitos homens jogam cartas para divertir-se. Outros carregam seus telefones celulares para manter-se comunicados a qualquer hora.
Os centro-americanos, hondurenhos na sua maioria, dedicam várias horas ao Facebook para manter-se informados das suas comunidades e de suas famílias. Tudo enquanto aguardam um futuro incerto.