Mundo

Capriles, o jovem mas experiente governador da oposição

À frente de uma oposição tradicionalmente desunida, o governador do estado de Miranda (norte) afirmou sua liderança durante a campanha presidencial de 2012

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2013 às 18h25.

Henrique Capriles, o líder da oposição que neste domingo disputa sua segunda eleição presidencial em seis meses, é um jovem, mas experiente governador que propõe aos venezuelanos deixar para trás a era polarizada do falecido Hugo Chávez. Para isso, Capriles propõe um modelo à brasileira.

À frente de uma oposição tradicionalmente desunida, o governador do estado de Miranda (norte) afirmou sua liderança durante a campanha presidencial de 2012, ao percorrer o país incansavelmente, convocando multidões, no estilo do carismático Chávez.

Embora tenha sido derrotado em 7 de outubro de 2012, Capriles obteve o melhor resultado do que qualquer candidato da oposição nos 14 anos da Era chavista, com 44% dos votos, contra os 55% do "comandante presidente".

Aos 40 anos, ele repete o desafio - desta vez, contra o presidente interino, Nicolás Maduro.

Solteiro e sem filhos, assediado pelas mulheres em seus comícios, Capriles foi definido por uma colaboradora próxima como um homem "simples" e "incansável", apaixonado pelo trabalho e por esportes.

Muito devoto da Virgem Maria, Capriles disse em uma entrevista à AFP que empreende uma "luta espiritual apegada à fé" e uma "cruzada heroica e épica" frente ao "poder do Estado", nesta nova oportunidade que, segundo ele, a vida lhe deu "para ser o presidente desse país com que sonham todos os venezuelanos".

Assim como em 2012, Capriles, de físico atlético e de cabelo curto e escuro, volta a "dar a cara a tapa", e sua voz rasgada arfa nos comícios que se repetem até três vezes por dia nesta curta campanha.

Em um país fortemente dividido entre chavistas e opositores, seu discurso continua concentrado na "união" e em propostas simples contra os problemas cotidianos de insegurança e desabastecimento.


Agora, ele já sobe o tom e recorre a ataques diretos a Maduro, como "enchufado" ("cheio de conexões"), "vago" ("vagabundo"), "toripollo" (em referência ao corpo robusto, como um touro, mas imaturo, com "titica" na cabeça, como um frango). Capriles é cuidadoso o suficiente, porém, para não enfrentar a imagem de Chávez, transformado em santo por seus seguidores.

Ele também usa símbolos, dos quais o governo se apropriou, entre eles, vestir-se de vermelho, ou usar camisas da estatal petroleira PDVSA, e chamar seu comando de campanha de "Simón Bolívar".

Ainda que tenha se comprometido a respeitar o resultado de domingo, Capriles exigiu do candidato governista que pare de usar a mídia e os recursos estatais na corrida eleitoral.

"Eu não sou o mesmo de 7 de outubro. Já tolerei muito abuso. Eu vou defender todos os votos do povo da nossa Venezuela. Se acham que nós somos pendejos ("babacas"), vão ficar na vontade", disse esta semana.

Eleito parlamentar aos 26 anos, em 1998, mesmo ano que Maduro, Capriles foi o presidente mais jovem da Câmara dos Deputados no Congresso, que passou a ser unicameral com a Constituição de 2000.

Este ano, ele ganhou a eleição à prefeitura do distrito caraquenho de Baruta, com apoio do recém-criado Partido Socialcristão Primeiro Justiça, ao qual continua filiado.

Durante o breve golpe de Estado contra o então presidente Chávez em abril de 2002, Capriles serviu de mediador durante o violento assédio à embaixada de Cuba, onde os opositores acreditavam que vários membros do governo haviam se refugiado.

Com Chávez restabelecido no poder, Capriles passou quatro meses preso em 2004, acusado de passividade, ao permitir a manifestação. Ele acabou sendo absolvido e, depois de deixar a prisão, foi reeleito na prefeitura.


Nesta reta final da campanha, que coincide com o 11o aniversário desses tumultuados dias de abril, a televisão pública, controlada pelo chavismo, não perde a oportunidade de acusar Capriles de ter instigado o protesto.

"O candidato do progresso": é assim que se define esse advogado que começou na direita e, agora, diz se sentir "confortável" quando o colocam na centro-esquerda. Para Capriles, a prioridade do Estado deve ser as políticas sociais.

Se ganhar, ele promete eliminar a insegurança, atacar o desabastecimento e dar "emprego bem remunerado", além de acabar com algumas prerrogativas promovidas por Chávez, como a reeleição indefinida, e leis como a que permite a expropriação de terra.

Capriles advertiu ainda que não enviará "uma única gota de petróleo para Cuba". Hoje, a ilha recebe 130 mil barris diários em condições preferenciais.

Seu modelo seguirá os preceitos da esquerda brasileira, que promove, segundo ele, o desenvolvimento em uma economia de mercado, junto com planos sociais para tirar a população da pobreza.

"O social é minha prioridade como governante", garante, prometendo aos eleitores chavistas manter os planos sociais em educação, saúde e habitação, lançados na Era Chávez.

Como governador de Miranda, estado que inclui os distritos mais ricos de Caracas, Capriles é reconhecido especialmente pelo trabalho que fez na educação, com a recuperação de colégios e planos para aumentar a matrícula escolar, além de outros programas para reformar casas populares e promover a saúde gratuita.

Ele tem cerca de 2,5 milhões de seguidores em sua conta no Twitter, aberta em 2009 e administrada pelo próprio para receber denúncias da população, informações, ou mensagens de apoio, afirmam seus colaboradores.


Filho de uma família rica e neto, pelo lado materno, de judeus poloneses sobreviventes do Holocausto (embora se defina como católico cristão), Capriles é um advogado especializado em Direito Econômico.

Para Maduro, o adversário é um "mantenido" ("privilegiado), que "nunca trabalhou", venderá o país aos empresários e se esquecerá dos trabalhadores.

Em 2008, Capriles venceu no estado de Miranda (norte do país), após derrotar Diosdado Cabello, ex-vice-presidente e atual presidente da Assembleia Nacional, uma das figuras mais fortes do chavismo. Em dezembro de 2012, levou a melhor na disputa com Elías Jaua, ex-vice-presidente e atual ministro das Relações Exteriores, e se reelegeu.

Essas vitórias são seu "amuleto da sorte" contra Maduro, também ex-vice-presidente de Chávez.

"Já limei dois vice-presidentes (...) a terceira é barbada", antecipou.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaEleiçõesOposição políticaVenezuela

Mais de Mundo

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia

Irã manterá diálogos sobre seu programa nuclear com França, Alemanha e Reino Unido

Eleições na Romênia agitam país-chave para a Otan e a Ucrânia

Irã e Hezbollah: mísseis clonados alteram a dinâmica de poder regional