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Cão selvagem australiano luta para se salvar da extinção

Marle e Digger são geneticamente dingos puros, o que significa que são dois dos espécimes cada vez mais raros da agressiva subespécie do lobo cinzento

Dingos de 18 meses, em um parque da Austrália: estes dingos com 18 semanas de vida são animais selvagens, que nunca se tornarão bichos de estimação (Greg Wood/AFP)

Dingos de 18 meses, em um parque da Austrália: estes dingos com 18 semanas de vida são animais selvagens, que nunca se tornarão bichos de estimação (Greg Wood/AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 11h55.

Alice Springs - Marle e Digger podem ser filhotes fofos, mas não se engane, adverte seu cuidador, Matt Williams: estes dingos com 18 semanas de vida são animais selvagens, que nunca se tornarão bichos de estimação.

O casal de irmãos que vive no Parque do Deserto de Alice Springs, no centro da Austrália, são geneticamente dingos puros, o que significa que são dois dos espécimes cada vez mais raros da agressiva subespécie do lobo cinzento.

"Eles são muito diferentes do cão doméstico", disse Williams, enquanto tenta manter os ágeis animais sob controle.

"Esta é a mensagem que realmente devemos passar adiante porque frequentemente são muito associados com cães domésticos", acrescentou.

Embora muitas pessoas se sintam tentadas a dar carinho a animais com aparência canina, instintivamente acariciando sua cabeça ou orelhas sem esperar uma reação adversa, as coisas são diferentes com os dingos, que são encontrados sobretudo na Austrália.

"Embora possam parecer cães e ter quatro patas e abanar a cauda, eles são animais selagens e você precisa respeitar e tratá-los como tais", disse Amanda McDowell, presidente da Associação de Preservação do Dingo Australiano.

Apesar de sua ferocidade, o dingo - que segundo evidências fósseis está na Austrália por pelo menos 3.500 anos - pode estar lutando pela própria sobrevivência, e alguns temem que cruzamentos com cães domésticos possa acabar extinguindo a espécie.

McDowell acredita que o fim do animal não pode ser evitado, apenas adiado.

"Realmente está à beira da extinção. Muitas pessoas têm a percepção de que há muitos dingos lá fora", declarou à AFP.

"Mas na verdade, são apenas cães miscigenados, não são dingos puros", acrescentou.

Segundo ela, a situação do animal é "exatamente igual à do lobo-da-austrália" - a misteriosa fera canina mais conhecida como tigre da Tasmânia, cujo último exemplar acredita-se que tenha morrido no zoológico de Hobart, em 1936.


"A comunidade em geral ainda acredita que há muitos e não há", afirmou.

Na falta de testes genéticos em um grande número de animais, é difícil identificar exatamente quantos dingos ainda existem na natureza.

O biólogo conservacionista Mike Letnic, da Universidade de Nova Gales do Sul, diz que o número é discutível, mas que há evidências claras da ocorrência de muita miscigenação perto das grandes cidades desde que os cães domésticos chegaram com os primeiros europeus, em 1788.

"Na costa leste há evidência de muita hibridização com cães e naquelas áreas os dingos estão ameaçados", afirmou.

Letnic acrescentou que os dingos estão "basicamente extintos" em áreas onde há criação de ovinos e cultivo de trigo. "E onde quer que esteja, os dingos são intensamente perseguidos (pelas pessoas)", disse, referindo-se a como o animal é considerado uma praga pelos pecuaristas.

Ele acrescentou que as populações de dingo eram saudáveis em outros locais, como no deserto central.

A natureza predatória dos animais ganhou repercussão internacional com o extraordinário caso de Azaria Chamberlain, um bebê de nove semanas capturado por um dingo durante um acampamento em Uluru, no centro da Austrália, em 1980.

O público achou difícil de aceitar que um cão selvagem tivesse carregado um bebê e um júri condenou a mãe de Azaria, Lindy Chamberlain, por assassinato.

Ela passou cerca de três anos na prisão antes da descoberta de um pedaço da roupa de seu filho perto da toca de dingo levar a um novo inquérito no qual ela acabou sendo absolvida.


Em 2012, a decisão judicial definitiva do caso concluiu que um cão selvagem capturou a criança, encontrando evidências claras de que um dingo foi capaz de "atacar, levar e causar a morte de crianças pequenas".

Nos últimos anos, notícias de ataques praticados por dingos ou mestiços incluíram os casos de crianças e adultos vítimas, inclusive um menino de nove anos que morreu em Fraser Island, no estado de Queensland, em 2001.

"Você não pode tratá-los como cães", disse McDowell.

"Eles têm uma veia selvagem. Não são bons animais de estimação, não são bons com crianças, não são bons com outros animais. Eles são caçadores", acrescentou.

McDowell conduz um programa de reprodução em cativeiro na região montanhosa do oeste de Sydney, selecionando cuidadosamente entre seus 32 animais para reprodução em uma tentativa dedicada a conservar a piscina genética única do animal para zoológicos e parques ecológicos.

Digger e Marle são frutos deste trabalho, depois que seus pais foram encontrados, órfãos, na remota região de Cape York, em Queensland.

Para McDowell, manter a integridade genética dos dingos garante que um dos principais predadores da Austrália mantenha seu lugar no ecossistema, mantendo cães selvagens, gados e raposas à distância.

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