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Candidatos falam o que o mercado quer, mas é preciso ajustar a economia

Especialista diz que o único candidato que ousou questionar a autonomia do Banco Central foi o tucano José Serra

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h42.

Brasília - A manutenção da política econômica implementada no Brasil nos últimos anos vem sendo a tônica das eleições presidenciais deste ano. Os recentes sucessos econômicos no país são vistos como motivadores do voto e, neste contexto, os candidatos se esforçam para dizer que nada, ou pouquíssima coisa, tem que mudar.

Cientes de que a população não quer arriscar a perder os avanços em seu poder de consumo e que o mercado financeiro deseja que tudo fique como está, os principais candidatos têm apresentado discurso semelhante em relação à questão econômica. No entanto, especialistas alertam para os desafios estruturais da economia que precisam ser enfrentados.

O economista Décio Munhoz, professor da Universidade de Brasília (UnB), acredita que os candidatos têm falado exatamente o que o mercado quer ouvir, mas que se trata de uma posição insustentável diante da crescente deterioração do balanço de pagamento no Brasil.

"Nenhum governo, ou nenhum candidato vai falar sobre isso. Nenhum governo faz ajustes nesse sentido em ano eleitoral. Os candidatos estão falando o que o mercado quer ouvir e o mercado financeiro está preocupado em continuar ganhando dinheiro rápido e fácil. Mas se trata de uma situação insustentável", disse.

Munhoz observou que o único candidato que ousou questionar a autonomia do Banco Central foi o tucano José Serra. "Ele disse que era necessário rever a independência do Banco Central e o mercado imediatamente torceu o nariz. Não é a toa que ele vem tendo dificuldades para financiar sua campanha", disse.

Os demais candidatos, de acordo com Munhoz, se apressaram em avisar que não pretendem fazer mudanças em relação à questão cambial, à política de juros e à independência do Banco Central. "O mercado gostou de ouvir isso", afirmou o economista, alertando para a situação ainda instável no contexto internacional.

As taxas de crescimento são grandes, mas é preciso observar se estamos comparando com o "fundo do poço". "Ainda estamos longe de retomar o nível de produção de 2008. Com uma política de juros altos, não há como recuperar os investimentos e, assim, o Brasil acaba correndo o risco de estrangulamento", afirmou. 


Fazer o Brasil crescer com uma inflação controlada será o grande desafio do próximo presidente da República, na opinião do economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas. Para Braz, trata-se de um desafio muito mais difícil de alcançar do que a antiga bandeira do combate à inflação, presente em todas as campanhas nos últimos 25 anos.

"O Brasil precisa crescer e crescer mantendo a inflação em níveis adequados. Atualmente, estamos crescendo porque o Brasil e o mundo estão em uma fase de recuperação. Mas é necessário manter o ritmo. Isso é mais complicado", disse Braz, que também comparou com os níveis de crescimento durante a crise.

"É como se tivéssemos saindo do buraco [crise]. Quando a gente começa a sair, estamos com mais força. Depois, essa força de crescimento vai se amenizando. É necessário encontrar caminhos para continuar crescendo depois disso", explicou.

Para Braz, o mercado espera dos candidatos a presidente transparência nas propostas para a economia. "O mercado não gosta de trabalhar com a incerteza. O que o mercado espera dos candidatos é que eles sejam claros em relação ao que pretendem fazer na economia. É preciso falar claramente sobre o assunto. O candidato que fizer algum mistério sobre suas ideias não terá o apoio do mercado. Deixar de falar também é uma forma de provocar incertezas", disse o economista.

Para o economista Newton Rosa, o clima no mercado financeiro em relação às eleições para presidente da República deste ano é de "tranquilidade". "Não há nenhuma ameaça ao que já foi conquistado. Não há nenhum candidato com alguma ideia exótica ou mudanças radicais na economia. A tônica dessas eleições tem sido a continuidade", afirmou.

Rosa avalia que propostas que tratem de ajustes no tamanho do Estado e na política fiscal são analisadas com bons olhos pelo mercado. "Nos últimos anos, apesar do sucesso da política econômica, o Estado inchou um pouco, com aumento de gastos correntes em vez de aumento de investimentos. Há coisas que poderiam ser corrigidas como a adoção de uma política fiscal mais austera que diminuísse o tamanho desse Estado", disse. "O mercado quer, sim, um Estado mais enxuto e com uma política de gastos focada no investimento", completou.

Newton Rosa disse ainda que o sentimento que move o voto nas eleições deste ano é bem diferente do pensamento que motivou o eleitorado há oito anos. "Desta vez, a população está satisfeita com a vida que tem levado nos últimos oito anos. O eleitor quer votar para melhorar e não para mudar. Esse pensamento é que forma o arcabouço ideológico neste ano. A população não quer nada diferente da inflação estável e baixa, crescimento econômico e baixo desemprego", afirmou.

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