Carstens foi subdiretor-gerente do FMI durante três anos. (Alex Wong/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2011 às 16h48.
Brasília - O candidato mexicano à chefia do FMI, Agustín Carstens, pediu aos países emergentes que adotem uma posição alinhada com o que defenderam durante 20 anos: quebrar a prática segundo a qual apenas um europeu pode dirigir a instituição multilateral.
Em entrevista à AFP afirmou que "estamos rompendo com um paradigma (a prática que dava a direção do FMI a um europeu), é algo pelo qual os emergentes advogaram e creio que temos que atuar de acordo", afirmou ele, até agora o único candidato de um país emergente para a vaga de chefe do FMI.
Desde sua criação em 1945, os europeus estiveram à frente do Fundo Monetário Internacional, enquanto a titularidade do Banco Mundial continua reservada a pessoas dos Estados Unidos.
"Para que os países estejam dispostos a aceitar e ouvir as recomendações, devem ter a tranquilidade de que vêm de uma instituição apolítica e que não representa uma região", afirmou Carstens, de 52 anos e presidente do Banco do México.
Mais voz e direitos no Fundo para as economias emergentes "têm de vir acompanhados de mais responsabilidade de sua parte para o bom funcionamento da economia mundial", coisa que, reconhece, nem sempre fizeram bem, por terem sido deixados de lado.
Carstens briga para ganhar a simpatia dos emergentes ante outra candidata ao comando do FMI, a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, e ambos iniciaram no Brasil esta semana uma viagem que os levará a China e Índia, entre outros países.
Lagarde, que já defendeu mais peso no FMI para os emergentes, aparece como favorita por ter recebido o apoio dos países europeus.
O grupo dos BRICS (que agrupa os grandes emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outros países em desenvolvimento, reclamam mais representação no Fundo e querem acabar com o mandato europeu obrigatório, mas não se colocaram de acordo em torno de uma candidatura.
Diante das reticências europeias em relação a ter sua crise nas mãos de um não europeu, Carstens responde: "os países emergentes têm conhecimentos muito úteis para todos os membros", porque vários deles têm economias florescentes depois de passar por crises graves.
Além disso, completou, se o FMI dirigido por europeus "teve êxito em apoiar outras regiões quando estiveram em crise, no caso da América Latina, por que agora um latino-americano não poderia dirigir o FMI para resolver os problemas da Europa?".
Argumenta que não lhe falta experiência: foi ministro das Finanças (2006-2009) e anteriormente subdiretor do FMI (2003-2006). Também afirma que tem claras as necessidades europeias: "o diretor-gerente que for eleito, não importa a nacionalidade, vai ter de dedicar uma grande parte de seu esforço e atenção para a Europa". Se receber o mandato, assegura, a Europa será "prioridade".
Considerado um ortodoxo em alguns meios, Carstens adotou um discurso de flexibilidade em relação às políticas e receitas do FMI.
Admite que pode ser limitado o papel do Fundo como juiz das políticas aplicadas por cada país, e reconhece a recente aceitação de instrumentos adotados por países como Brasil, de acumulação de reservas e certos controles de capitais para proteger sua moeda.
"Creio que seja adequado que os países tenham certos veículos para se defender", disse. E "o Fundo não pode seguir hoje as políticas que seguia há 20 anos, porque é um mundo muito diferente", concluiu.
A Espanha anunciou na terça-feira que apoiará o mexicano com o qual divide uma cadeira executiva no FMI, apesar de preferir a francesa. O Uruguai também anunciou seu apoio ao mexicano, enquanto o restante dos países, incluindo o Brasil, espera a conclusão da apresentação das candidaturas, no dia 10 de junho.
Lagarde e Carstens desejam ocupar a cadeira de Dominique Strauss-Kahn, que renunciou á chefia do FMI em 19 de maio, acusado de tentativa de estupro.