Pedro Castillo: candidato de esquerda lidera boca de urna no Peru. (Sebastián Castañeda/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2021 às 21h41.
Última atualização em 11 de abril de 2021 às 21h48.
O candidato radical de esquerda Pedro Castillo lidera a eleição presidencial peruana de domingo, enquanto o economista liberal Hernando de Soto e a candidata de direita Keiko Fujimori estão empatados em segundo lugar, segundo pesquisa de boca de urna da Ipsos Peru.
Castillo, um professor sindicalista de 51 anos, teria obtido 16,1% dos votos e De Soto e Fujimori, 11,9%, diz o levantamento divulgado pelo canal América Televisión.
Em uma eleição recheada de candidatos tentando se vender como outsiders da política, os que lideraram as pesquisas de intenção de no pleito atual não tiveram cargo Executivo de destaque nos últimos anos.
Além disso, a eleição acontece em meio a uma pandemia na qual o Peru viveu momentos trágicos. Devido a um começo desastroso no ano passado, o país de 33 milhões de habitantes é até hoje o com mais mortos por milhão na América Latina e o 17º no mundo (o Brasil é o 18º, segundo o portal Worldometers). A segunda onda do coronavírus que já assola a América do Sul é ainda uma preocupação crescente, com o Peru tendo vacinado menos de 3% da população até agora.
“Os peruanos foram às urnas com medo da pandemia, descrença forte da política e diversas opções ideológicas. Essa combinação de muitas candidaturas e pouca esperança deu forças a posições mais extremadas", explica o pesquisador Maurício Moura, fundador do IDEIA. "Em 2016, a candidata Keiko Fujimori se distanciou do legado do pai e buscou moderação. Perdeu por muito pouco para um candidato de centro. Agora, a filha de Alberto Fujimori voltou mais fujimorista e mais conservadora. E deve enfrentar a esquerda peruana mais radical."
A pandemia foi a gota d'água na já complexa crise peruana. Nos últimos quatro anos, o Peru teve quatro presidentes diferentes. O último eleito, o banqueiro de direita Pedro Pablo Kuczynski, venceu em 2016 prometendo reformas liberais. Terminou renunciando em 2018 após se envolver com escândalos de corrupção da Odebrecht e foi preso meses depois.
Desde então, uma montanha russa se seguiu. Após PPK, assumiu seu vice, Martín Vizcarra. Embora analistas apontem que o ex-presidente conseguiu alguns avanços no combate à corrupção - e muita briga com o Congresso -, Vizcarra terminou ele próprio sendo alvo de dois processos de impeachment por corrupção e "incapacidade moral", o último deles bem-sucedido, em novembro. (Após sua saída, eclodiu ainda novo escândalo, em que se descobriu que o ex-presidente e membros do governo tomaram vacina contra o coronavírus às escondidas.)
O impeachment, no entanto, foi mal recebido por parte da população. Manuel Merino, então presidente do Congresso e maior defensor do impedimento, assumiu na sequência, mas durou somente dias no cargo em meio a protestos que chegaram a deixar mortos e feridos nas ruas de Lima. Por fim, o atual presidente, Francisco Sagasti, de centro, terminou escolhido presidente por votação no Congresso, mas não se candidatou à presidência nas eleições deste mês.
Em artigo em espanhol para o jornal americano The Washington Post, o jornalista e analista político Jonathan Castro classificou o cenário político no Peru como um enredo de Game of Thrones, a série sobre reis e rainhas num mundo medieval fictício. Com todos os caciques da política expulsos do ringue nos últimos anos, a política do Peru tem sido tão sangrenta quanto um enredo de George R. R. Martin.