Canal de Suez: os navios que transportam 92 mil animais para a Jordânia estão presos, disse um oficial (Satellite image (c) 2020 Maxar Technologies./Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 27 de março de 2021 às 17h27.
Última atualização em 28 de março de 2021 às 10h25.
De todos os milhões de toneladas de carga que se amontoam no Canal de Suez nos navios engarrafados pelo encalhe do Ever Given, nenhuma é mais delicada do que os animais amontoados nos cascos de várias das embarcações.
Registros compilados pela Bloomberg indicam que até 14 embarcações presas dentro e ao redor do canal podem carregar milhares de animais. Dados os itinerários da Europa para o Oriente Médio de muitos, eles provavelmente estão carregando ovelhas.
Os navios que transportam 92 mil animais para a Jordânia estão presos, disse um oficial.
Embora grande parte das cargas embarcadas seja composta por commodities, como petróleo, que podem ser armazenadas em navios por longos períodos, o gado precisa de comida e água, e os navios geralmente carregam apenas o suficiente para alguns dias extras. Isso poderia criar uma situação crítica: os navios teriam que partir em busca de novos suprimentos de ração ou retornar a seus portos de origem.
O chefe da Autoridade do Canal de Suez afirmou neste sábado que as tentativas de remover o navio porta-contêineres que está encalhado e bloqueando o canal permitiram que sua popa e leme se movessem, mas ainda não se podia prever quando o barco voltaria a flutuar.
O cargueiro Ever Given, de 400 metros e mais de 200 mil toneladas, ficou encalhado na diagonal na parte sul do canal em meio aos fortes ventos no início da terça-feira, afetando a navegação global ao bloquear uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo.
Cerca de 15% do tráfego marítimo global passam pelo Canal de Suez e centenas de navios aguardam para atravessar o canal assim que ele for desobstruído.
O presidente da Autoridade, Osama Rabie, afirmou que espera que não seja necessário retirar alguns dos 18.300 contêineres que estão no navio para aliviar o seu peso, mas admitiu que as marés e ventos fortes estavam complicando os esforços para desencalhá-lo.
— A popa do navio começou a se mover em direção a Suez, e isso foi um sinal positivo, mas a maré caiu significativamente e paramos — disse Rabie a jornalistas em Suez. — Esperamos que a qualquer momento o navio possa deslizar e se mover do local em que está.
O cargueiro poderia ser retirado da posição no início da próxima semana, afirmou a empresa envolvida na missão para liberar a via estratégica que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, onde mais de 200 navios aguardam para fazer a travessia.
— Com os barcos que teremos no local, a terra que já conseguimos dragar e a maré alta, esperamos que seja suficiente para desencalhar o navio no início da próxima semana — afirmou Peter Berdowski, diretor executivo da Royal Boskalis, a matriz da Smit Salvage, a empresa holandesa contratada para ajudar na operação.
Se isto não for suficiente, será necessário retirar os contêineres para reduzir o peso do cargueiro, advertiu Berdowski, uma solução que levaria muito mais tempo.
Enquanto isso, com cada vez mais navios podendo ser desviados para a rota contornando o Cabo da Boa Esperança, o temor das empresas é que os ataques de pirataria aumentem. Os piratas há muito perseguem os navios que se deslocam nas águas na região do Chifre da África, e os mares da África Ocidental, rica em petróleo, são agora considerados um dos mais perigosos do mundo para o transporte marítimo.
Momentos antes de encalhar, em meio a fortes ventos e a uma tempestade de areia, o Ever Given aparentemente viajava mais rápido do que o limite de velocidade estabelecido pela Autoridade do Canal de Suez, informou a Bloomberg.
A última velocidade registrada do Ever Given foi de 13,5 nós, detectada 12 minutos antes do encalhe, de acordo com dados da Bloomberg. A velocidade máxima permitida através do canal fica entre 7,6 nós e 8,6 nós.
Além disso, o cargueiro gigante nao contava com um rebocador como escolta no canal, de acordo com a agência. Os dois navios imediatamente à frente dele tinham escoltas, embora elas não sejam obrigatórias.
E pelo menos um outro cargueiro preferiu esperar a tempestade passar para se aventurar pelo canal.