Canadá: eleições legislativas acontecem em meio ao medo de uma crise provocada pelas tensões com os Estados Unidos (Ron Palmer/Getty Images)
Agência de Notícias
Publicado em 27 de abril de 2025 às 13h23.
Última atualização em 27 de abril de 2025 às 13h26.
As eleições legislativas federais que acontecerão nesta segunda, 28, e que decidirão o futuro imediato do Canadá têm, nesta ocasião, uma importância existencial, pois vão definir uma nova relação com seu único vizinho, os Estados Unidos, e com o presidente Donald Trump, que declarou guerra comercial ao país e até ameaça anexá-lo.
No entanto, o clima eleitoral visível é bastante modesto em comparação com outros lugares: não há grandes murais com os rostos dos líderes políticos, nem caravanas de partidos pedindo voto de forma barulhenta pelas ruas; os principais candidatos fazem poucos comícios e suas aparições públicas, em locais pequenos, acontecem de maneira esporádica.
É verdade que o candidato favorito, o liberal Mark Carney, não é exatamente carismático nem tem o magnetismo necessário para seduzir as massas: ele lidera as pesquisas de intenção de voto principalmente por sua imagem de gestor eficiente — já presidiu o Banco do Canadá e o Banco da Inglaterra em momentos distintos —, o que lhe confere uma aura de competência.
Não é que os canadenses não se importem com esta eleição: ao contrário, quando questionados espontaneamente, todos reconhecem que esta votação é diferente de qualquer outra e que o país está prestes a entrar em uma nova era de incertezas e perigos devido às ameaças vindas do sul.
Prova disso é que 7,3 milhões de cidadãos — o equivalente a um quarto do eleitorado — votaram antecipadamente, cinco dias antes das eleições, um recorde na história do país.
Se há uma palavra que define o sentimento geral neste momento, é "medo" ou até mesmo "terror" em relação ao futuro: medo de falências de empresas ou setores inteiros, de demissões em massa, de aumento dos preços e do expansionismo de Donald Trump.
“O que espera o meu filhinho?”, pergunta em voz alta uma jovem mãe que passeia com seu bebê pelas ruas de Montreal. “O presente me traz poucas certezas, mas de uma coisa eu tenho certeza: não vou me tornar americana!”.
Esse sentimento de medo também está afetando os residentes que não têm direito a voto, como imigrantes que ainda não estão há tempo suficiente no país. Questionados pela EFE, imigrantes do México, da Argélia e do Haiti relatam temores de não conseguirem concluir seus processos de regularização no Canadá.
As palavras de Mark Carney reforçam essas preocupações: ele prometeu limitar a imigração permanente a menos de 5% e o número de residentes permanentes a menos de 1%.
Além disso, desde meados de 2024, o governo canadense começou a revisar suas regras migratórias para reduzir o número de residentes temporários, o que pode obrigar até 2 milhões de pessoas a deixar o país em 2025.
Fica fácil questionar como isso será possível, considerando que o Canadá contemporâneo foi construído graças à imigração em massa de asiáticos, norte-africanos e latino-americanos, que hoje ocupam bairros inteiros nas grandes cidades e são a principal força de trabalho não qualificada da economia.
Mas o medo da crise já não é apenas uma teoria: uma imigrante magrebina chamada Soumaya, que trabalha no setor energético, contou à EFE que sua empresa começou a demitir funcionários após o início da guerra tarifária. Ela mesma, que está em pleno processo para conseguir seu visto de residência permanente, se pergunta o que será do seu futuro depois de ter construído uma vida no Canadá ao longo de oito anos.