No Canadá, Mark Carney liderou a vitória do Partido Liberal, de centro-esquerda, com bandeira anti-Trump (Dave Chan/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 30 de julho de 2025 às 20h27.
Última atualização em 30 de julho de 2025 às 20h36.
O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, anunciou nesta quarta-feira, 30, que tem a intenção de reconhecer o Estado palestino em setembro "se algumas condições forem atendidas", referentes à estrutura da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que controla algumas áreas da Cisjordânia.
Com a decisão, o Canadá se torna o terceiro país do G-7 a confirmar planos para o reconhecimento palestino, e aumenta a pressão por uma resolução rápida da guerra na Faixa de Gaza.
Falando a jornalistas, após conversa com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, Carney confirmou que tem a intenção de reconhecer o Estado palestino durante a Assembleia-Geral da ONU, no mês que vem, em Nova York, e afirmou que seu país tem "uma crença nos direitos inalienáveis dos dois povos", se referindo aos palestinos e aos israelenses.
Contudo, Carney revelou que esse reconhecimento está condicionado a reformas que as autoridades palestinas devem fazer a curto prazo, a começar pela realização de eleições no ano que vem, sem a participação do grupo terrorista Hamas — as últimas eleições legislativas ocorreram em 2006, e pavimentaram o caminho para a gestão separada dos territórios palestinos, com o Hamas à frente de Gaza e a ANP comandando a Cisjordânia. No caso da votação presidencial, a última ocorreu em janeiro de 2005, após a morte de Yasser Arafat, e levou Abbas ao poder, de onde ele não saiu até hoje.
No telefone, Carney disse que cobrou reformas democráticas nas instituições palestinas, sem detalhar sua visão para a futura administração da Faixa de Gaza, um ponto ainda em aberto nas discussões sobre a guerra em curso desde outubro de 2023 e sobre o futuro do enclave, onde mais de 60 mil pessoas morreram e onde há uma grave crise humanitária em curso. Segundo ele, Abbas se comprometeu a "não militarizar" o futuro Estado.
— O Canadá sempre apoiará firmemente a existência de Israel como um Estado independente no Oriente Médio, vivendo em paz e segurança —disse Carney. — Qualquer caminho para uma paz duradoura para Israel também requer um Estado palestino viável e estável, que reconheça o direito inalienável de Israel à segurança.
Nos dias que antecederam o anúncio canadense, outros dois membros do G-7, o grupo formado por sete das mais desenvolvidas economias do mundo, também sinalizaram que reconheceriam o Estado Palestino. Na semana passada, a França anunciou seus planos, e passou a adotar uma linguagem ainda mais dura contra Israel: em comunicado, sua Chancelaria descreveu o assassinato de um jornalista que trabalhou em um filme ganhador do Oscar, na Cisjordânia, por um colono israelense de "ato de terrorismo". Na terça -feira, foi a vez do Reino Unido afirmar que o reconhecimento seria feito caso Israel não se empenhasse por um cessar-fogo.
Nos dois casos, o reconhecimento está previsto para acontecer na sede da ONU, em setembro. Horas antes, a França liderou um chamado com outros 14 países, incluindo o Canadá, por um Estado palestino, ao final de uma conferência em Nova York.
Em comunicado, a Chancelaria israelense afirma que “a mudança na posição do governo canadense neste momento é uma recompensa para o Hamas e prejudica os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza e uma estrutura para a libertação dos reféns”, usando um tom similar ao usado nos comentários sobre a França e o Reino Unido.
Os EUA, maiores aliados de Israel, não se pronunciaram. Historicamente, a diplomacia dos EUA defende (ou defendia no pré-Trump) a solução de Dois Estados, um israelense e um palestino, mas afirmam que isso só pode ser obtido através de negociações, e não por decisões unilaterais.