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Calma prevalece no Paraguai, mas cresce preocupação

A população percebeu a mudança de poder com uma tranquilidade que surpreende, pois Lugo ainda contava com uma base popular

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 4 de julho de 2012 às 21h35.

Assunção .- Apesar da atenção internacional, a crise política no Paraguai quase não alterou a vida cotidiana da população, entretida nesta semana com o futebol, mas também preocupada pela brusca detenção da atividade comercial em decorrência da mudança de poder.

Um dia após a partida da missão internacional da Organização dos Estados Americanos (OEA), o novo presidente paraguaio, Federico Franco, manteve nesta quarta-feira uma agenda de rotina: a reunião habitual das quartas-feiras com os altos comandantes militares, outra com empresários e uma recepção na embaixada dos Estados Unidos por ocasião do 4 de julho - dia da Independência americana.

O novo chanceler paraguaio, José Fernández, manteve a tensão internacional com o anúncio de expulsão do embaixador da Venezuela por acusá-lo de ingerência no país durante a crise que levou à destituição de Fernando Lugo como presidente, há 12 dias.

Mas o anúncio foi feito com o país mais atento ao futebol do que à política, pois esta semana marcou a reta final do torneio Apertura do Campeonato Paraguaio. A decisão será disputada no próximo domingo entre Olimpia e Cerro Porteño.

A população percebeu a mudança de poder com uma tranquilidade que surpreende, pois Lugo ainda contava com uma base popular, embora tenha sido destituído pelo Legislativo com o voto quase unânime dos partidos.


''O paraguaio é apático, conformista. O povo não protesta porque falta instrução e resta o temor herdado da época da ditadura (de Alfredo Stroessner, 1954-89)'', declarou nesta quarta-feira à Agência Efe o dono de um estacionamento de veículos. ''Todo o mundo se queixa, mas ninguém se manifesta'', lamentou.

Há, e não só entre os mais poderosos, quem repudie Lugo por ter se aproximado demais dos grupos de esquerda e quem o ataque por sua ''desastrosa'' vida pessoal, devido aos escândalos de paternidade que enfrentou desde sua chegada à Presidência em 2008, após deixar a batina de bispo.

''Cerca de 70% do povo era contra Lugo'', disse à Agência Efe uma cabeleireira do centro de Assunção, para quem o ex-presidente contava apenas com o apoio ''dos pobres, que o veem como um messias''.

Justamente a mais recente pesquisa de famílias, efetuada no final de 2011 e divulgada nesta quarta-feira, constata que houve redução da pobreza durante o mandato de Lugo, de 37,9% para 32,4%, com 18% de pessoas abaixo da linha da pobreza, vivendo com menos de 284.088 guaranis (US$ 65) por mês.

Com uma renda mensal média de 1,86 milhão de guaranis (US$ 415), pouco mais que o salário mínimo oficial, 10% da população concentra em suas mãos 40% da renda total, segundo a pesquisa.

O discurso de ''aqui não há crise'' que se sustenta no apoio da Igreja Católica, dos poderes Judiciário e Legislativo e do empresariado ao novo Executivo e na ausência de manifestações populares notáveis não oculta a preocupação geral quanto à brusca detenção da atividade comercial registrada nas últimas semanas.


Uma brusca interrupção numa economia em ruínas devido aos estragos causados pela febre aftosa e pela seca que atinge os dois grandes produtos de exportação - carne e soja -, que registrou no primeiro trimestre do ano uma retração de 2,5% do PIB frente ao crescimento de 4,4% de 2011.

''Não há movimento, não vendo nada'', disseram à Efe vários comerciantes de Assunção. ''Os empresários, grandes ou meninos, estão tremendo'', afirmou um consultor de informática, que tem em sua lista de clientes grandes importadores de alimentos dos países vizinhos, preocupados pelo impacto da suspensão temporária com que o Mercosul castigou Franco.

''É verdade que todo mundo estava muito contente no princípio, mas agora estão preocupados pelas sanções do Mercosul'', disse a cabeleireira, que incrementa sua renda com a venda de roupas em seu estabelecimento.

O Paraguai, sem saída para o mar, depende em grande medida de seus vizinhos para a entrada de alimentos e outros bens. ''Se eles chegarem a nos fechar, nós morremos de fome'', advertiu o consultor, que descreveu um ''país em suspenso'', quase sem atividade econômica.

Uma brasileira e seu marido, um coreano, que administram juntos uma loja de roupas no centro antigo de Assunção, cifraram em 200 mil guaranis (US$ 45) sua caixa diária, quando antes era de 1 milhão (US$ 220), e constataram que a clientela tem mais medo de gastar e prefere poupar. EFE

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