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Hong Kong barra 12 candidatos e oposição diz que China quer parar jovens

Após vitória esmagadora em eleição distrital em 2019, oposição foi proibida de participar de pleito neste ano. Eleição pode ainda ser adiada por coronavírus

Grupo de jovens opositores em Hong Kong, em 15 de julho: parte banida de eleição na ilha (Tyrone Siu/Reuters)

Grupo de jovens opositores em Hong Kong, em 15 de julho: parte banida de eleição na ilha (Tyrone Siu/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 30 de julho de 2020 às 09h28.

Última atualização em 30 de julho de 2020 às 16h54.

O governo de Hong Kong anunciou nesta quinta-feira que barrou 12 candidatos de oposição para as eleições legislativas deste ano. O caso acontece um dia depois de os líderes locais afirmarem que as eleições, previstas para 6 de setembro, podem nem mesmo acontecer em meio ao coronavírus -- o que levantou críticas.

A proibição aos principais candidatos com alguma chance no pleito acontece também após a aprovação no fim de junho de uma nova lei de segurança nacional para a ilha, que é um território autônomo em relação à China. Hong Kong é uma ex-colônia britânica que passou a fazer parte do território chinês em 1997.

O governo de Hong Kong diz que mais candidaturas podem ser barradas nas próximas semanas.

Candidatos na ilha são obrigados, por lei, a jurar aliança a Hong Kong e à chamada Basic Law, uma espécie de Constituição da cidade (também chamada de "mini-Constituição", uma vez que a palavra final em diversos casos precisará vir de Pequim).

Assim, o governo disse que expressar oposição "ao princípio" da nova lei de segurança nacional seria ir contra preceitos básicos da Constituição. Outros comportamentos proibidos e que levaram o governo a banir candidaturas são pedir por auto-determinação (independência em relação à China) e defender intervenção de governos estrangeiros.

Em manifestações pró-democracia em Hong Kong no ano passado, alguns manifestantes chegaram a levar bandeiras dos Estados Unidos.

A oposição afirma que o banimento das candidaturas é uma forma de a líder de Hong Kong, Carrie Lam, alinhada ao governo central em Pequim, barrar a ascensão de uma nova geração de políticos. Os eleitos na eleição legislativa faram parte de uma espécie de Parlamento da cidade.

Joshua Wong, ativista de oposição em Hong Kong

Joshua Wong, ativista de oposição em Hong Kong, ao se registrar para eleições legislativas: postagens frequentes no Twitter (Tyrone Siu/Reuters)

Na última eleição na ilha, na ocasião para conselhos distritais, em novembro de 2019, uma série de políticos jovens e de oposição conseguiu vitórias. Um dos barrados é o ativista Joshua Wong, que vem se consolidando como uma das maiores lideranças da oposição ao controle de Pequim em Hong Kong. Wong havia sido o maior vencedor nas primárias que aconteceram neste ano antes das eleições legislativas.

Segundo escreveu em seu Twitter, Wong foi desqualificado porque disse que a lei de segurança nacional é "dacroniana".

A juventude de Hong Kong, incluindo grupos de adolescentes, foram algumas das principais vozes responsáveis por tomar as ruas em meses de seguidos protestos no ano passado. Os protestos começaram justamente após as discussões sobre a lei de segurança nacional que, entre um dos pontos mais polêmicas, autoriza extradição de prisoneiros de Hong Kong para serem julgados na China.

Além das atuais eleições legislativas, as próprias eleições distritais de 2019 foram consideradas uma espécie de "referendo" sobre o apoio da população aos protestos. Apesar de, na prática, os cargos em disputa na ocasião não serem os mais importantes do país, mais de 70% dos eleitores compareceram às urnas, cerca de 3 milhões de pessoas, um dos maiores da história.

O grupo de candidatos pró-democracia, junto aos grupos que pediam auto-determinação, conseguiram uma vitória sem precedentes e conquistaram a maioria em 17 dos 18 distritos. O número de cadeiras pertencente a esses grupos de oposição triplicou, de 124 para 388.

Com os resultados, a expectativa era que mais grupos de oposição fossem eleitos para o Parlamento, de moderados a defensores de auto-determinação.

Desde que deixou de ser colônia britânica, Hong Kong tem mais autonomia do que o restante do território governado pelo Partido Comunista Chinês, em um modelo que ficou conhecido como "um país, dois sistemas".

A ilha se consolidou nas últimas décadas como uma cidade vibrante, com grande fluxo financeiro e presença internacional. A relativa liberdade democrática fez a cidade se tornar um dos polos financeiros globais faz parte do próprio sucesso da economia da China, a segunda maior do mundo.

Coronavírus em Hong Kong

Evolução do coronavírus em Hong Kong: pico de casos nos últimos dias (Google/Reprodução)

O potencial adiamento das eleições se justifica, segundo o governo de Hong Kong, por uma segunda onda de casos de coronavírus no território nas últimas semanas.

O país tem até agora pouco mais de 3.100 casos confirmados e 24 mortes. O número de novos casos passa de 100 por dia. Após menos de 5 novos casos diários em várias semanas de maio, voltou a subir gradualmente em junho até explodir em julho.

As restrições da lei de segurança nacional e o potencial adiamento de eleições em Hong Kong vêm levantando críticas de potências do Ocidente, como países da União Europeia e Estados Unidos.

Sobre a proibição de candidaturas, o governo de Hong Kong afirmou em comunicado que não há questão alguma sobre "nenhum tipo de censura política, restrição de liberdade de expressão ou deprivação de direitos eleitorais como alegam alguns membros da comunidade", segundo informou a agência Reuters.

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