Pessoas olham para esquema de segurança em Buenos Aires, Argentina, por conta do encontro do G20: governo argentino decretou feriado nesta sexta-feira (Agustin Marcarian/Reuters)
EFE
Publicado em 1 de dezembro de 2018 às 09h37.
Buenos Aires - O corre-corre que se vive no centro de convenções Costa Salguero de Buenos Aires, onde começou ontem a cúpula do G20, contrasta com o panorama de "cidade fantasma" no resto da capital argentina devido às medidas para garantir a segurança do evento.
Múltiplas áreas da cidade e linhas de transporte foram cortadas ao tráfego e até mesmo a pedestres para controlar a segurança desta cúpula anual, que reúne os líderes das maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento do mundo e que acontece pela primeira vez na América do Sul.
Além disso, com o objetivo de esvaziar a cidade e facilitar o trabalho das forças de segurança, o governo argentino decretou feriado nesta sexta-feira e a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, recomendou a todas aquelas pessoas "que possam sair da cidade" que o façam.
O resultado é visível tanto nas vias afetadas pelos cortes como nas próximas, que apresentam um aspecto muito mais tranquilo que qualquer outro final de semana, ao substituir os transeuntes, carros e ônibus por veículos policiais, grades e corpos de segurança, que somam um total de 22.000 agentes.
O incomum silêncio que reina no centro de Buenos Aires só se rompe eventualmente pelas sirenes dos grupos de escolta que anunciam a chegada de comboios de veículos com diplomatas estrangeiros por trás dos vidros escuros.
Entre estas ruas se encontra José Pastrana, morador da cidade que vive perto do Teatro Colón, que abrigou um espetáculo e o jantar de gala para os líderes.
Segundo contou à Agência Efe, toda vez que tenta chegar em sua casa deve apresentar um comprovante de residência, como uma conta de luz que certifique que vive dentro da área após as cercas de segurança.
Pastrana acredita que a cúpula não deveria ter sido realizada em Buenos Aires porque a cidade "já é um caos".
"Ela nos afeta no sentido que saímos e quase nada está aberto. Se não prepara sua casa anteriormente com algumas coisas que vá precisar, não vai poder encontrar agora", lamentou.
Um dos poucos que se atreveu a abrir as portas é Gabriel Damiano, gerente do restaurante Saint Moritz, entre as ruas Esmeralda e Paraguay, embora tenha calculado que o negócio está funcionando a 20% do que acontece em um dia normal.
"Vendemos muito menos, mas suponho que isto deve servir para algo, para promover o país pelo menos, ou para que o mundo nos leve em conta", ponderou o gerente.
Por outro lado, Antolín Mongelós, encarregado de uma loja de empanadas do bairro de San Telmo, preferiu manter o negócio fechado pelo "baixo volume de venda", mas também não pôde sair da cidade no feriado como pediu Bullrich.
"É preciso dizer à ministra que antes de tudo é necessário ter capacidade monetária suficiente para fazer o que ela pretende, porque é um pensamento retrógrado querer que todos saiam de Buenos Aires", criticou Mongelós.
Para os turistas da capital argentina também são dias estranhos, já que podem ocupar as ruas comodamente, mas não encontram locais para comer e beber.
A brasileira Cassia relatou à Efe que veio à cidade com uma amiga e estão "muito impressionadas" pelo fato de a cidade estar "totalmente vazia", que as permitiu tirar uma foto no meio da Avenida Corrientes, uma das principais artérias da capital, embora nem todos vejam a parte positiva.
"Como é possível um país parar por uma cúpula? Não é melhor que esta cúpula acontecesse na Patagônia?", se perguntou um turista italiano.