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Brics: por que a China quer convencer o bloco a aceitar novos membros

Grupo que reúne também Brasil, Rússia, Índia e África do Sul faz reunião de cúpula nesta semana em Johanesburgo

Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul (à esq), cumprimenta o dirigente Xi Jinping, em Pequim, em visita em 2018 (Andy Wong/Getty Images)

Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul (à esq), cumprimenta o dirigente Xi Jinping, em Pequim, em visita em 2018 (Andy Wong/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 22 de agosto de 2023 às 07h05.

Última atualização em 22 de agosto de 2023 às 07h07.

O Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, se reúne a partir desta terça, 22. Os principais temas do encontro, em Johanesburgo, serão se o bloco aceitará mais membros e caminhos para reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais entre seus membros.

Além de líderes dos países membros, foram convidados para o encontro mais de 60 mandatários, incluindo 54 chefes de Estado africanos. A lista de candidatos a entrar no bloco é grande e tem ao menos 23 nomes: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Bolívia, Venezuela, Indonésia, Egito, Nigéria, Irã e Belarus são alguns dos interessados.

Segunda maior economia do mundo, a China defende a ampliação do bloco. Pequim quer aumentar sua influência internacional, e um Brics fortalecido poderia ajudar nesse processo. Assim, o grupo teria mais poder para se contrapor ao G7, que reúne Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

A expressão Bric, que soa como "tijolo" em inglês, foi criada em 2001, pelo economista Jim O'Neil. A sigla reúne as primeiras letras de Brasil, Rússia, Índia e China. A África do Sul (South Africa, em inglês) se juntou depois. São todas grandes economias emergentes, que estão entre as maiores do mundo, mas ainda enfrentam desafios comuns, como tirar grandes parcelas de suas populações da pobreza. Os países começaram a realizar cúpulas em 2006 e adotaram o termo Brics. Hoje, o bloco reúne nações onde vivem 3,2 milhões de pessoas.

Como a China tem se tornado cada vez mais antagonista dos EUA, há temores de que o Brics possa se tornar um bloco com orientação anti-americana e anti-europeia se autorizar a entrada de muitos países com essa postura, como Irã e Venezuela.

"Agora, mais e mais países estão batendo na porta do Brics, aspirando se juntar à nossa cooperação. Isso atesta a vitalidade e influência do mecanismo de cooperação do Brics. A China está pronta para trabalhar com seus parceiros no Brics para agir no espírito de abertura, inclusão e cooperação ganha-ganha", disse o dirigente chinês Xi Jinping, em um artigo divulgado na segunda, 21.

Fachada da sede do NDB, o banco dos Brics, em Xangai (Future Publishing/Getty Images)

O Brasil tinha inicialmente postura contrária à ampliação, mas o presidente Lula disse, nos últimos meses, ser favorável à ideia, que tem forte apoio da China. Uma das preocupações de diplomatas brasileiros é que, em um Brics com mais países, a força dos atuais membros, como o Brasil, seria diluída.

África do Sul e Rússia veem a expansão de modo favorável, especialmente por terem laços fortes com a China. Já a Índia tem se mostrado contrária à proposta. Na reunião de cúpula desta semana, que vai até quarta (23), podem ser anunciadas a inclusão de novos membros ou a criação de critérios para a adoção de novos integrantes no futuro.

O Brics tem como um de seus principais resultados práticos o NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), com sede em Xangai e hoje presidido por Dilma Rousseff. A entidade faz empréstimos para financiar projetos nos países membros. Uma das regras em debate é que novos membros do Brics teriam de também se filiarem ao banco, com obrigações como fazerem aportes para suas operações. O NDB teve sua lista de membros ampliada nos últimos anos. Além dos Brics, recebeu Emirados Árabes Unidos, Egito e Bangladesh.

Moeda única no Brics

Já a ideia de criar uma moeda para o Brics deve ficar de fora da pauta oficial. Em vez disso, segundo o Financial Times, deve haver conversas sobre o aumento do uso de moedas locais em transações entre os membros, em vez do dólar. Rússia e China são grandes defensoras do abandono da moeda americana no comércio internacional.

Lula também defendido a ideia de usar mais moedas locais. “Toda noite, me pergunto por que é que todos os países estão obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que é que nós não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda?", questionou, durante visita à China, em abril.

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