Fronteira entre as duas Irlandas: Brexit pode intensificar fiscalização aduaneira na região e trazer de voltas conflitos que ficaram no passado (Clodagh Kilcoyne/Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2018 às 06h25.
Última atualização em 7 de junho de 2018 às 08h59.
O governo britânico anuncia nesta quinta-feira uma das principais mudanças que virão com o Brexit, a saída do bloco europeu. Trata-se da fronteira entre Irlanda do Norte e República da Irlanda, a única fronteira física, de quase 500km, que restará entre o Reino Unido e um país membro da União Europeia.
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O receio dos cidadãos de ambos os lados é que os planos britânicos sejam de estabelecer uma fronteira dura, com controle rígidos para circulação de bens e pessoas. Essa é também uma preocupação das autoridades na União Europeia, que exigem uma solução definitiva para a questão antes que as negociações sobre o Brexit possam caminhar.
A fronteira, que hoje é praticamente invisível, enfrentaria dois problemas com uma adoção do modelo de fiscalização de tráfego aduaneiro: o primeiro deles econômico, já que circulam pelo menos 3 bilhões de euros todos os anos nessa região e mais de 30.000 pessoas diariamente; o segundo é social e histórico.
Uma guerra de independência dividiu os 32 condados que formam a ilha com as duas Irlandas, com apenas 6 ficando na Irlanda do Norte, submetidos ao mando imperial. A fronteira foi criada em 1921, para garantir a preservação da identidade cultural e religiosa da Irlanda Norte, onde a maioria dos habitantes eram protestantes. Durante um tempo funcionou.
Mas, entre o final dos anos 1960 e 1990, a fronteira foi fortemente patrulhada por helicópteros e soldados armados, no período conhecido como “The Troubles” em que se intensificou a disputa religiosa entre católicos da Irlanda e protestantes da Irlanda do Norte. Cerca de 3.600 pessoas morreram nesses conflitos, sendo que 2.000 apenas pelas mãos do Exército Republicano da Irlanda (IRA).
James Chichester-Clark, ex-primeiro ministro da Irlanda do Norte, chegou a afirmar que o intuito nunca foi construir uma cortina que separasse os dois países. Apesar disso, a fronteira entre as duas Irlandas permanece aqui — sobreviveu às quedas do Muro de Berlim e da Cortina de Aço, e é mais antiga que a divisão das duas Coreias.
Agora, a fronteira pode se tornar novamente uma barreira, no sentido estrito, apesar de nenhum dos dois lados concordarem com a medida.