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Brasileiros aguardam definição para voltar ao trabalho em Milão

Por decisão da empresa, Marília Gomes está trabalhando remotamente, enquanto André Calderolli espera uma sinalização da universidade sobre a volta às aulas

Estação de trem em Milão: com 650 pessoas testadas positivas para coronavírus, as pessoas não sabem quando empresas, escolas e universidades vão voltar a funcionar normalmente (Flavio Lo Scalzo/Reuters)

Estação de trem em Milão: com 650 pessoas testadas positivas para coronavírus, as pessoas não sabem quando empresas, escolas e universidades vão voltar a funcionar normalmente (Flavio Lo Scalzo/Reuters)

NF

Natália Flach

Publicado em 1 de março de 2020 às 17h04.

As incertezas têm se espalhado mais rapidamente do que o coronavírus na Itália, país mais afetado pela epidemia na Europa. Com 650 pessoas testadas positivas, das quais apenas 303 são consideradas realmente doentes, não se sabe ao certo quando empresas, escolas e universidades vão voltar a funcionar normalmente.

Por causa do surto, o site de compra e venda de produtos Subito.it, cuja sede fica em Milão, liberou os funcionários para trabalhar remotamente todos os dias - até então, era possível fazer home office apenas dois dias por semana. "Todas as viagens a trabalho foram canceladas, estamos fazendo tudo on-line, inclusive, reuniões", afirma Marília Gomes, designer gráfico da empresa.

A brasileira mora há dois anos e meio na Itália, sendo que os dois últimos meses em Milão, cidade que está no epicentro da chamada de "zona vermelha". "Os preços nos supermercados não aumentaram, porque há uma lei que não permite. Mas, em um primeiro momento, as pessoas saíram para fazer compras de comida enlatada e álcool gel para estocar em casa, só que, como não temos problemas de fornecimento, logo as prateleiras ficam cheias de novo", afirma.

Gomes conta ainda que o movimento não está normal: o metrô e as lojas estão vazias. Nas ruas, pessoas andam com máscara e, quando alguém tosse ou espirra, as demais saem de perto. "Muita gente usa a máscara de forma errada, com o nariz de fora. A minha sogra viu uma mulher no ônibus cobrir o rosto com plástico filme, aquele de cozinha. Saindo do ônibus ela tirou. Não sei como não sufocou."

Além disso, segundo ela, os casos de racismo contra os chineses têm sido frequentes. "Chinatown, o bairro chinês, era um ponto turístico, mas desde o início da crise está completamente vazio. Muita gente parou de comprar em sites chineses, tipo os do grupo Alibaba, por medo."

André Calderolli, mestrando em design da comunicação na Universidade Politécnica de Milano, conta que as aulas dos 50 mil alunos estão suspensas - e não há data definida para serem retomadas. "Todas as faculdades da região da Lombardia (caso de Milão) suspenderam as aulas e se sabe não quando vão voltar nem se serão presenciais ou on-line daqui para frente", diz. Os estudantes europeus já voltaram para seus respectivos países, enquanto o grupo de brasileiros espera por mais informações para decidir se voltam para o Brasil ou se ficam na Itália mesmo.

Com a vida acadêmica em compasso de espera, Calderolli afirma que as passagens para o Brasil não estão mais caras - afinal, ainda há voos entre os países. Mas o sistema de som dos aeroportos tem avisado os passageiros o tempo todo sobre a importância de lavar as mãos e de não encostar nas pessoas. "Dependendo do que resolverem, volto para o Brasil e acompanho as aulas pela internet. Talvez seja uma irresponsabilidade minha voltar, mas aqui não tem nada para fazer. Até peguei uns trabalhos como freelancer para ocupar meu tempo."

Em meio a tantas indefinições, o que é certo é que o baque econômico na Itália pode ser acentuado. "A crise revelou a fragilidade do sistema de saúde que não conseguiu lidar com o grande número de doentes e de pessoas em pânico", diz. " A mídia errou ao focar no número de infectados e mortos e não na gravidade dos casos (a maior parte pouco grave ou assintomática). Fora a enorme quantidade de notícias falsas (fake news) e sensacionalistas, além do uso político que a oposição está fazendo da crise, levaram as pessoas a entrar em pânico, como se fosse epidemia de ebola", afirma Gomes.

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