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Brasil reduz presença no Haiti

A partir de 27 de março até junho o Brasil enviará 460 militares para casa, colocando fim ao segundo batalhão criado diante da emergência do terremoto de 2010

Soldado brasileiro da Minustah cumprimenta menino haitiano em favela de Porto Príncipe (AFP / Vanderlei Almeida)

Soldado brasileiro da Minustah cumprimenta menino haitiano em favela de Porto Príncipe (AFP / Vanderlei Almeida)

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2013 às 14h02.

Porto Príncipe - O Brasil realiza neste mês uma redução de seu contingente militar no Haiti, quase uma década depois de desembarcar no país, em 2004, no comando da força militar da missão de paz da ONU.

A partir de 27 de março até junho o Brasil enviará 460 militares para casa, colocando fim ao segundo batalhão criado diante da emergência do terremoto de 2010, informou o comandante do contingente brasileiro, coronel Rogério Rozas.

A brasileira continuará sendo a força mais numerosa no Haiti e o corte é parte de uma redução progressiva de capacetes azuis, que teve seu número ampliado após o terremoto que em 2010 matou 220.000 mil pessoas e deixou outras 2,3 milhões desabrigadas.

Japão e Coreia já deixaram o país, depois de terem participado dos trabalhos de reconstrução, e a Argentina está retirando 147 militares.

A Missão de Estabilização para o Haiti (Minustah) foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU em 2004, após a crise que levou à saída do país do ex-presidente Jean Bertrand Aristide e que desencadeou uma onda de violência.

O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (2003-2010), grande embaixador da diplomacia do Sul que buscava projetar o Brasil na política mundial e conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança, havia mobilizado um grande contingente.

Quase uma década depois, o Haiti "está estável e seguro" e o objetivo da ONU antes de sair é transferir a segurança à polícia e realizar eleições periódicas, disse à AFP o chefe da força militar da ONU, general Fernando Goulart.

Em 2004, "muitos bairros precisaram ser conquistados a tiros", lembra Rozas.


"Na época, o povo haitiano não confiava nestas tropas, não gostavam de ter uma presença estrangeira", afirma Pierre Andregene, tradutor para a ONU. Os haitianos foram aceitando-as porque enfrentavam altos níveis de violência, acrescenta.

Um golpe de mestre de Lula foi levar ao Haiti os brasileiros mais conhecidos do mundo: a seleção de futebol.

No dia 18 de agosto de 2004, o Haiti parou para ver Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos, que diante de multidões percorreram a capital. O "Jogo da Paz", que terminou com a vitória do Brasil por 6 a 0, serviu para lançar uma campanha de desarmamento.

Desde 2005, a força militar ampliou suas funções com engenheiros que faziam obras civis, como perfuração de poços, neste país de escasso acesso à água potável e à eletricidade. Após o terremoto, essas funções foram ampliadas, com remoção de escombros, reconstrução e assistência humanitária. Hoje, a companhia de engenheiros do Brasil dirige uma fábrica de asfalto; e a da Argentina, um hospital.

A presença brasileira deixou uma marca e hoje é raro encontrar um jovem haitiano que não arrisque algumas palavras em português. Em um show de pagode para famílias pobres em uma praça de Porto Príncipe, as crianças avançavam sobre os microfones dos soldados: sabem de cor a popular música do cantor Michel Teló "Ai se eu te pego".

"Os haitianos gostam do Brasil e isso facilitou o cumprimento da missão. O futebol foi quase um cartão de visitas", declara à AFP o contra-almirante Paulo Zuccaro.


O Haiti também teve seu impacto no Brasil, já que a experiência contra a violência urbana em Porto Príncipe foi muito útil na ocupação das favelas do Rio de Janeiro desde 2010.

O Brasil, que nesta década passou a ser a sexta economia do mundo, atraiu após o terremoto um êxodo de haitianos, que entravam ilegalmente por perigosas rotas amazônicas.

As filas em frente ao consulado em Porto Príncipe são diárias e a presidente Dilma Rousseff se comprometeu em 2012 a garantir 100 vistos por mês.

O Haiti continua sendo o país mais pobre das Américas, com 40% de sua população em situação de insegurança alimentar.

"Desde 2004 vi uma melhora no fortalecimento das instituições e na percepção de estabilidade. Isto denota um êxito da Minustah. Os problemas econômicos exigem mais esforço para serem superados, mas sem estabilidade e instituições isso não acontecerá", explica o contra-almirante Zuccaro, que participou do primeiro contingente, em 2004, e que retornou periodicamente, as últimas vezes em 2010 e neste mês.

O contingente militar da Minustah é integrado por militares de Argentina (574), Bolívia (207), Brasil (1.910), Chile (509), Equador (67), Filipinas (159), Guatemala (138), Indonésia (168), Jordânia (252), Nepal (362), Paraguai (162), Peru (371), Sri Lanka (861) e Uruguai (949).

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