Mundo

Brasil aperta o cerco contra o lucrativo tráfico de animais

Em média, a polícia federal apreende 250 mil animais selvagens por ano e o Ibama capturou outros 45 mil durante operações realizadas no ano passado em todo o país

As araras podem ser enviadas para zoológicos, mas eles já estão lotados, de acordo com o veterinário, que diz que o Brasil deveria aprovar uma legislação sobre adoção de animais (©AFP / Christophe Simon)

As araras podem ser enviadas para zoológicos, mas eles já estão lotados, de acordo com o veterinário, que diz que o Brasil deveria aprovar uma legislação sobre adoção de animais (©AFP / Christophe Simon)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de abril de 2012 às 16h33.

Rio de Janeiro - Araras azuis e amarelas da Amazônia, papagaios-verdadeiro, macacos, tartarugas, sucuris e onças-pardas: o tráfico de animais silvestres é um negócio muito lucrativo que não poupa espécies no Brasil, incluindo aquelas em extinção.

"De acordo com as nossas estimativas, 38 milhões de animais silvestres, 80% deles sendo aves, são tirados das florestas todos os anos no Brasil e cerca de 90% deles morrem durante o transporte", disse Rauff Lima, uma porta-voz da organização não-governamental Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráficos de Animais Silvestres).

No entanto, a perda "é largamente compensada pela venda de uma única espécie" e os traficantes chegam a ganhar aproximadamente 2 bilhões de dólares por ano no país, tornando o comércio ilegal de animais o mais rentável depois do tráfico de armas e drogas, afirma o Renctas.

Em 2001, a organização liberou o primeiro relatório nacional sobre o tráfico de animais silvestres.

Naquele ano, a última ararinha azul selvagem, considerada uma das espécies em maior risco de extinção, desapareceu do estado da Bahia e hoje restam apenas 70 em cativeiro ao redor do mundo.

"Eles são comprados ilegalmente por colecionadores", disse Lima.

Em média, a polícia federal apreende 250 mil animais selvagens por ano e o Ibama capturou outros 45 mil durante operações realizadas no ano passado em todo o país.

No Cetas, o Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama, o veterinário Daniel Neves cuida de 1,6 mil animais, muitos resgatados em péssimas condições, com fome e doentes, de traficantes brasileiros.


Localizado em uma área florestal em torno de 75 quilômetros do centro do Rio, o Cetas lembra um zoológico, onde grandes araras são abrigadas em uma grande gaiola apelidada de "corredor de voo", onde elas podem voar em direção a sua futura liberdade.

Em outro local, 700 gaiolas são empilhadas em condições precárias.

Os animais "são deixados em quarentena até que sua saúde melhore. O objetivo é libertá-los na natureza, mas temos sucesso em apenas 20 a 30% dos casos", afirmou Neves.

As araras podem ser enviadas para zoológicos, mas eles já estão lotados, de acordo com o veterinário, que diz que o Brasil deveria aprovar uma legislação sobre adoção de animais.

"Quem quer que esteja preparado para a adoção de uma arara cega certamente não vai causar nenhuma mal a ela", argumenta Neves. "É um problema real, porque elas (araras) não serão mais capazes de se defender na natureza", acrescentou.

O Brasil, maior país da América Latina, com uma área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, é considerado a maior biodiversidade do planeta.

Possui 530 espécies de mamíferos, 1800 espécies de aves, 680 de répteis, 800 de anfíbios e 3000 espécies de peixes.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, 627 espécies estão sob risco de extinção, o triplo de 15 anos atrás.

A legislação brasileira proíbe a caça em todo o país, assim como a manutenção de animais em cativeiro, exceto em casos raros de autorização para reprodução.

Desde 2001, a polícia vem reforçando o combate aos traficantes e caçadores, com a finalidade imediata de reduzir o lucro do comércio ilegal. No entanto, eles afirmam que o seu trabalho depende de um esforço maior dos serviços de inteligência.

Comprar um papagaio-verdadeiro no mercado negro, ou um tucano caçado de seu habitat custa menos de 100 dólares, enquanto o valor chega a ser 10 vezes maior em uma loja legalizada.

Acompanhe tudo sobre:AmazôniaAmérica LatinaAnimaisCrimeDados de BrasilMeio ambiente

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru