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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Nova York - A BP e outras grandes companhias de petróleo basearam seus planos para responder a grandes vazamentos de petróleo no Golfo do México em projeções do governo dos EUA que previam baixa possibilidade de o óleo atingir a costa do país, mesmo no caso de um vazamento com as proporções do atual. A informação foi publicada pelo Wall Street Journal.
Os modelos do governo, que não são atualizados desde 2004, assumiam que, em um vazamento, a maior parte do petróleo evaporaria rapidamente ou seria dissolvida pelas ondas e pela temperatura. Mas, nas semanas que se passaram desde que a plataforma Deepwater Horizon pegou fogo e afundou, a vida real provou que esses modelos estavam equivocados. O petróleo atingiu 171 milhas (cerca de 275 km) do litoral Sul da Louisiana, Mississippi, Alabama e Norte da Flórida.
Além disso, os modelos do governo não tratam de como o petróleo expelido uma milha abaixo do fundo do mar se comportaria - apesar dos anos de preocupações entre cientistas do governo e companhias de petróleo com possíveis vazamentos em explorações em águas profundas.
As projeções otimistas do governo dos EUA reforçaram a confiança do setor de petróleo em sua tecnologia para prevenção de vazamentos, o que levou a decisões que deixaram tanto as companhias quanto o governo mal preparados para o desastre que atinge as águas do Golfo do México desde o dia 20 de abril. A BP e as agências do governo que estão respondendo ao vazamento têm tido dificuldades para agrupar meios de conter o petróleo e os navios e equipamentos necessários para manter o óleo longe da costa.
Depois do acidente no Golfo do México, o governo de Barack Obama lançou uma grande reforma da agência que regula a exploração de petróleo e gás em alto mar. "Sem dúvida, nós precisamos levantar barreiras para as operações com petróleo e gás em alto mar", afirmou um porta-voz do Departamento do Interior dos EUA ontem, em resposta a perguntas sobre os modelos de combate a vazamentos. "A estrutura regulatória mais forte, com exigências de segurança mais duras e uma nova liderança, que nós estamos elaborando vão gerar mudanças fundamentais em como nossa nação supervisiona essas operações", disse.
A BP tem sido criticada pelo Congresso dos EUA e por grupos ambientalistas por não estar preparada para lidar com um vazamento de grande escala. No entanto, essas críticas escondem um fato crucial: os órgãos reguladores federais dos EUA exigiram que a BP baseasse seus planos de combate nos modelos do Departamento do Interior que não são atualizados desde 2004.
Os modelos de vazamento do governo estão no centro de debates há anos. Um estudo do fim dos anos 1990 usou satélites para acompanhar quase 100 pequenos objetos que vagaram pelo Golfo do México simulando petróleo flutuante. O caminho percorrido por esses objetos foi comparado com o que o modelo previa. Depois de 30 dias, a discrepância média foi de 300 milhas. "Nós observamos diferenças de magnitude significativa", afirmou um relatório sobre o estudo datado de 2003.
No entanto, os pesquisadores, liderados por uma equipe de cientistas do Serviço de Administração de Minerais (MMS, na sigla em inglês) do Departamento do Interior, concluíram que os resultados não foram "surpreendentes nem decepcionantes" e não negavam "a utilidade do modelo" existente. Os cientistas disseram que as descobertas poderiam levar a melhoras. Em outros relatórios técnicos, cientistas do MMS apontam numerosas outras experiências que sustentam a validade do modelo.
Pesquisadores passaram a última década tentando melhorar o modelo e o grande desafio foi atualizá-lo para refletir a nova realidade das perfurações em águas profundas. Vazamentos centenas de pés abaixo do fundo do mar se comportam de modo muito diferente de vazamentos na superfície. Correntes marítimas, por exemplo, podem pegar um volume de petróleo e transportá-lo para bem longe do local do vazamento. Além disso, vazamentos em águas profundas tendem a se separar em pequenos volumes de petróleo, o que complica ainda mais as tentativas de prever para onde ele vai.
No início do ano 2000, em um aviso para as companhias de petróleo, o MMS afirmou que planejava exigir que aquelas que operavam em águas profundas usassem novas previsões especificamente desenhadas para esse tipo de exploração. Mas essa regulação nunca entrou em efeito e até hoje as companhias baseiam seus planos de contingência nos modelos do governo, que são desenhados apenas para vazamentos em profundidade menor.
Em 2001, a divisão ambiental do próprio MMS escreveu um relatório que alertava que "os modelos de trajetória do vazamento de petróleo atualmente usados pelo setor para preparar planos de resposta a vazamentos podem não ser adequados para águas profundas". Desde então, pesquisadores do MMS fizeram experimentos com novos modelos e, em 2005, após um desses experimentos, a equipe do MMS afirmou que "as respostas para vazamentos precisam ser atualizadas". No entanto os modelos do governo nunca incorporaram as simulações para vazamentos em águas profundas. As informações são da Dow Jones.