Especialistas forenses do Instituto de Pessoas Desaparecidas da Bósnia trabalham em uma vala comum na vila de Tomasica (Dado Ruvic/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de outubro de 2013 às 17h31.
Tomasica - Especialistas forenses estão escavando o que pode ser a maior vala comum de vítimas da limpeza étnica na Bósnia, um local cuja existência era conhecida há anos, mas a localização exata foi coberta por um muro de silêncio sérvio, afirmou o gabinete estatal de pessoas desaparecidas.
O tribunal de crimes de guerra da Organização das Nações Unidas (ONU) em Haia condenou 16 servo-bósnios a um total de 230 anos de prisão por atrocidades na área de Prijedor, no noroeste da Bósnia, onde o local em Tomasica está situado, mas nem todas as valas comuns foram encontradas na região.
O Instituto de Pessoas Desaparecidas da Bósnia sabia da existência da vala em Tomasica há anos, mas o local exato e os detalhes das vítimas eram conhecidos apenas por testemunhas sérvias locais, que haviam permanecido em silêncio desde o fim da guerra de 1992-95.
"Nós conduzimos a investigação durante dois anos e finalmente encontrei pessoas que estavam dispostas a falar", disse o supervisor da equipe forense, Mujo Begic. Algumas testemunhas eram antigos combatentes separatistas servo-bósnios que não podiam mais manter o segredo.
No vilarejo de Tomasica, os peritos estão recuperando corpos de bósnios muçulmanos e de croatas mortos pelos sérvios separatistas em uma das piores campanhas de limpeza étnica destinadas a expulsar os não-sérvios na guerra do país.
Nesta terça-feira, os restos mortais de 18 pessoas foram desenterrados da vala comum, que se espalha por 3.000 metros quadrados de colinas verdes desabitadas. Todas as vítimas, homens, mulheres e crianças, foram mortas a tiros, disseram os peritos. Muitos foram embrulhados em cobertores.
Begic afirmou que sua equipe deverá encontrar os restos de 17 crianças, o mais novo um bebê de 18 meses, pertencente à família Bacic e morto junto com sua mãe, avô e tio.
Conforme os tratores removiam camada após camada de terra, o mau cheiro de corpos em decomposição tomava conta do local.
Os primeiros corpos foram encontrados a uma profundidade de sete metros em agosto e os restos de 240 pessoas foram exumados até hoje. Acredita-se que eram moradores muçulmanos da área de Prijedor.
Relatos de testemunhas mostraram que cerca de 1.000 pessoas foram enterradas lá originalmente, mas há indícios de que alguns foram posteriormente exumados e enterrados em outro lugar para encobrir os vestígios do crime.