Boris Johnson: para ex-aliado, o governo conservador está buscando um Brexit prejudicial (Jessica Taylor/Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2019 às 20h12.
Última atualização em 3 de setembro de 2019 às 20h13.
O enroladíssimo Brexit ficou mais enrolado nesta terça-feira. Os parlamentares britânicos voltaram do recesso para o primeiro de apenas cinco dias de trabalho antes de recesso forçado por decisão do premiê Boris Johnson. Parecia que não daria tempo para muita coisa. Deu.
Johnson perdeu sua maioria no Parlamento quando o deputado conservador Phillip Lee desertou para as fileiras dos democratas-liberais pró-União Europeia. A consequência mais importante é dificultar o plano de Johnson de deixar a União Europeia em 31 de outubro, data limite para o desembarque, com ou sem acordo.
“O governo conservador está buscando um Brexit prejudicial, colocando vidas em risco e ameaçando injustificadamente a integridade do Reino Unido”, declarou Lee, ex-ministro da Justiça, em comunicado. “Mais do que isso, está minando a economia, a democracia e o papel no mundo do nosso país. Ele está se valendo de manipulação política, pressionando e mentindo.”
Em outra estocada em Johnson, o presidente da Câmara dos Deputados, John Bercow, colocou em pauta nesta terça-feira projeto para permitir a seus colegas controlar a agenda da Casa, antes uma prerrogativa do governo. Seria uma forma de impedir o premiê de novas manobras como o recesso forçado.
A ofensiva deve continuar. Na quarta-feira, será votada a obrigação a Johnson de conseguir a prorrogação do início da vigência do Brexit se não conseguir um acordo com os europeus até 31 de outubro. Johnson antecipou-se ao dizer que, se o Parlamento aprovar ambas as medidas, irá antecipar a eleição para o Legislativo – que seria a terceira em quatro anos.
Johnson é um dos mais radicais defensores do Brexit, participou intensamente da campanha em favor da saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de 2016 e sublinhou várias vezes estar disposto a levar adiante esse processo mesmo sem um acordo com os europeus. Agora, está trabalhando para cumprir o que prometeu em campanha, em julho — o problema é que apenas os membros do partido conservador, ou 0,2% do eleitorado, votaram no pleito.
O primeiro ministro defende, portanto, levar a cabo o desembarque votado pela maioria dos britânicos, mas com uma estratégia aprovada por apenas 0,2% da população. A névoa não tem prazo para deixar Londres.